quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Vocação salvista: Um “sim” ao Louvor de Deus.

 Vocação salvista: Um “sim” ao Louvor de Deus.    

Vocação

Ex 3, 1-12

Ex 6, 2-13

Jr 1, 1-10

Missão

10Vem, agora, e eu te enviarei a Faraó, para que tires o meu povo, os filhos de Israel, do Egito.

10-11 10Falou mais o Senhor a Moisés, dizendo:11Vai ter com Faraó, rei do Egito, e fala-lhe que deixe sair de sua terra os filhos de Israel

e te constituí profeta às nações.

 

Is 6

Ez 2, 1-7

 

8Depois disto, ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Disse eu: eis-me aqui, envia-me a mim

4Os filhos são de duro semblante e obstinados de coração; eu te envio a eles, e lhes dirás: Assim diz o Senhor Deus.5Eles, quer ouçam quer deixem de ouvir, porque são casa rebelde, hão de saber que esteve no meio deles um profeta.

 

 

 

 

 

     

 

V.31.17 Vocação dos leigos

Catecismo 898 "É especifico dos leigos, por sua própria vocação, procurar o Reino de Deus exercendo funções temporais e ordenando-as segundo Deus... A eles, portanto, cabe de maneira especial iluminar e ordenar de tal modo todas as coisas temporais, as quais estão intimamente unidos, que elas continuamente se façam e cresçam segundo Cristo e contribuam para o louvor do Criador e Redentor."

 

2Tessalonicenses 1.11 (RAStr)

11Por isso, também não cessamos de orar por vós, para que o nosso Deus vos torne dignos da sua vocação e cumpra com poder todo propósito de bondade e obra de fé,

 

2Timóteo 1.9 (RAStr)

9que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos,

 

Hebreus 3.1 (RAStr)

1Por isso, santos irmãos, que participais da vocação celestial, considerai atentamente o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa confissão, Jesus,

 

 

CARACTERÍTISCA DO SIM AO LOUVOR DE DEUS

 

 

1. Louvor de Deus é central.

 

Não somos chamados em primeiro lugar por causa do pelo Esplendor Litúrgico, Espiritualidade Carismática, Vida Fraterna,

Tudo isso é fundamental, mas o centro da vocação é o Louvor de Deus.

 

O ser humano, com a vida imersa na graça de Deus, graça que é “Dom do Espírito Santo que nos santifica e justifica” (CIgC n. 2003), transborda em obras de justiça para a vida do próximo. O Louvor de Deus é, portanto, a nossa vida que se torna um verdadeiro Louvor, sermos “para Deus o bom odor de Cristo, entre aqueles que se salvam e aqueles que se perdem” (2 Cor 2, 15).

 

Constituições de 1994

 

2.OBJETIVO

 

            Seu objetivo principal primário é o Louvor de Deus sob todas as suas formas, a litúrgica, em primeiro lugar; e o objetivo secundário, - como consequência desse louvor – a santificação pessoal e comunitária, através da consagração ao Espírito Santo, Deus-Amor. 

Dizer sim ao Louvor é dizer não à Hipocrisia, ao aparecer, ao protagonismo à frente de Deus, ao Orgulho, à murmuração.

 

2. Ser servo da Graça de Deus.  Um sim à autocomunicação de Deus na História e ajudar as pessoas a fazerem o mesmo.

 

Efésios 2.8–9 (RAStr)

8Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus;9não de obras, para que ninguém se glorie.

 

“E irá adiante dele no espírito e virtude de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos, com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto” (Lc 1,17).

2680 κατασκευαζω kataskeuazo

de 2596 e um derivado de 4632; v

1) guarnecer, equipar, preparar, tornar pronto

1a) de alguém que torna algo pronto para uma pessoa ou coisa

1b) de construtores, construir, erigir, com a idéia implícita de adornar e equipar com o todo o necessário

Mateus 11.10 (RA)

10 Este é de quem está escrito:

Eis aí eu envio diante da tua face o meu mensageiro, o qual preparará o teu caminho diante de ti.

Marcos 1.2 (RA)

2 Conforme está escrito na profecia de Isaías:

Eis aí envio diante da tua face o meu mensageiro, o qual preparará o teu caminho;

 

50.       A Família Salvista quer, no “Louvor de Deus”, propiciar o encontro da pessoa com Deus, que se dá sobretudo na Liturgia. Por isso, o Instituto empregará e usará de todo o esplendor litúrgico, levando o Povo de Deus à santidade e à perfeição em Cristo.

Dizer sim à GRAÇA é dizer não é mágica e não é fruto da observância da lei.

 

3. Atraídos para na graça levar o ser humano à salvação. Um sim à salvação integral do ser humano.

 

João 10.10 (RA)

10 O ladrão vem somente para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância.

 

8.         A espiritualidade desta Família Religiosa é, pois, nitidamente oracional e apostólica.

 

Salvação como relacionamento, como família, evangelizamos em família, para chamar as pessoas ao relacionamento.

 

Não somos clube, exército, empresa,

Tudo o que quebra o relacionamento, ou não se ensina a pessoa a relacionar, dividir para conquistar, é instrumento do mal para tirar a vida, roubar, matar e destruir.

Dizer sim à Salvação. É dizer não à dominação do ser humano, instrumentalizar as pessoas, criar divisões e grupos, destruir a comunidade e a Igreja.

4. Santificação pessoal e comunitária. Um sim à santidade que acontece em comunidade e integralmente abarca a pessoa.

Constituições de 1994

 

2.OBJETIVO

 

            Seu objetivo principal primário é o Louvor de Deus sob todas as suas formas, a litúrgica, em primeiro lugar; e o objetivo secundário, - como consequência desse louvor – a santificação pessoal e comunitária, através da consagração ao Espírito Santo, Deus-Amor. 

 

Pessoal – ser humano em relacionamento

Comunitária – ninguém se santifica sozinho, em Igreja.

Constituições 51.        A Comunidade Religiosa Salvista, no exercício do seu carisma, se empenhará para que a parcela do Povo de Deus confiada ao seu zelo apostólico se transforme numa verdadeira comunidade cristã, de modo a tornar tal realidade uma comunidade de comunidades: pequenas comunidades de vivência cristã, células de oração e vida.  

 

Dizer sim à Santificação pessoal e comunitária. É dizer não ao individualismo, ao relativismo, ao egoísmo, à Santidade aparente da Hipocrisia e da Lei a partir da carne.

5. Sentire cum Ecclesia – Um sim à Igreja como comunhão, à Igreja Católica, Apostólica Romana.

Buscar estar em comunhão com a Igreja.

Constituições 22.        Como expressão de filial e especial obediência ao Romano Pontífice, que desejamos cultivar em nosso Instituto, todos os membros devem aplicar-se assiduamente à leitura, ensino, estudo e prática dos documentos e ditames do Sumo Pontífice, das Congregações da Cúria Romana e de toda Tradição da Igreja .

Dizer sim ao Sentire cum Ecclesia é dizer Não a ser como um papagaio que repete trechos de documentos, mas estar aberto à comunhão eclesial, ao desprezo da Igreja e às pessoas da Hierarquia e aos leigos que a compõem, idolatrar a Igreja como se fosse uma realidade autônoma de Deus, ou idolatrar o poder ou a ostentação.

 

6. Espiritualidade Carismática. Um sim ao Espírito Santo que nos doa os dons e carisma para a Evangelização.

 

Constituições 7. O Instituto forma sacerdotes e irmãos que, sob a moção do Espírito Santo desejam viver uma espiritualidade carismática, isto é, viver na abertura e na disposição de acolher e por em ação os dons e carismas que Deus se dignar conceder.

Catecismo 2003. A graça é, antes de tudo e principalmente, o dom do Espírito que nos justifica e nos santifica. Mas também compreende os dons que o Espírito nos dá, para nos associar à sua obra, para nos tornar capazes de colaborar na salvação dos outros e no crescimento do corpo Místico de Cristo, que é a Igreja. São as graças sacramentais, dons próprios dos diferentes sacramentos. São, além disso, as graças especiais, também chamadas «carismas», segundo o termo grego empregado por São Paulo e que significa favor, dom gratuito, benefício (59). Qualquer que seja o seu carácter, por vezes extraordinário, como o dom dos milagres ou das línguas, os carismas estão ordenados para a graça santificante e têm por finalidade o bem comum da Igreja. Estão ao serviço da caridade que edifica a Igreja (60).

 

Dizer sim à Espirituralidade Carismática é dizer não ao fanatismo, à uma espiritualidade que nos trata como anjos e não como seres humanos, a Coisificar o Espirito Santo, uma espiritualidade sentimentalista ou intimista.

 

7. Esplendor Liturgico. Um sim ao Mistério Pascal que é celebrado na Liturgia.

Constituições 26. O primeiro lugar de exercício do Carisma do Instituto é a Sagrada Liturgia. Portanto, sempre empregar-se-á todo o esplendor litúrgico para o “Louvor de Deus”. Ao participar do Santo Sacrifício diariamente, os religiosos experimentam a realidade profunda da Igreja, congregada por Cristo na unidade do Espírito, que leva à comunhão dos corações convocados pelo Pai para uma mesma missão[1].

 

Dizer sim ao Esplendor Litúrgico, é dizer sim à participação plena, frutuosa e cônscia na Liturgia.  É dizer não ao ritualismo, ao protagonismo, ao desprezo da Liturgia, ao intimismo e ao sentimentalismo.

 

8. Dizer sim à Missão e ao apostolado.

Constituições 29 - Nosso Instituto, aberto a todo apostolado, consoante o carisma de sua fundação faz do anúncio direto da Palavra de Deus elemento essencial de sua missão. O Instituto quer contribuir de maneira especial, com a catequese, com as missões populares, grupos de oração, retiros espirituais, com os trabalhos de evangelização, com a evangelização através dos meios de comunicação e com todas as outras iniciativas e intenções da Igreja Universal e Particular[2].

 

Constituição de 1994 - 12 – Esta obra toda e todos os seus trabalhos são missionários. Pregar o Evangelho e testemunhar sem temor o nome de Jesus é sua própria, verdadeira e única Missão.

Ser Missão antes de fazer missão.

Documento de Aparecida

CAPÍTULO 1

OS DISCÍPULOS MISSIONÁRIOS

 

20. Nossa reflexão a respeito do caminho das Igrejas da América Latina e do Caribe tem lugar em meio à luzes e sombras de nosso tempo. Não nos afligem nem confundem as grandes mudanças que experimentamos. Temos recebido dons incalculáveis, que nos ajudam a olhar a realidade como discípulos missionários de Jesus Cristo.

 

Dizer sim à Missão é dizer sim em primeiro lugar a ser discípulo para ser missionário. É dizer não ao fechamento, à mentalidade de seita, de achar-se salvo e desprezar os outros, não entrar na dinâmica de abertura de Jesus ao pecadores Cf. Lc 15, 1 -2.

 

 

9. Dizer sim à uma vocação específica no seio da Mãe Igreja e aberta e que valoriza as outras vocações eclesiais.

Constituições 42.        A comunidade, bem como cada um de seus membros, abre-se, generosamente, na acolhida a todos que a Providência coloca em seu caminho, seja das demais comunidades do Instituto bem como os membros de outros institutos de vida consagrada. O amor fraterno se estende também a cada uma das famílias naturais dos religiosos e a todos aqueles que recorrem ao Instituto. 

 

Acolhida de outras pessoas, famílias dos irmãos, pessoas de outros carismas, abertura ao relacionamento com irmãos de outras crenças no respeito à nossa própria identidade e à dos outros.

 Dizer sim à uma vocação específica é dizer não ao provincialismo, ao gueto, às panelinhas, ao sentir-se superior aos outros, não conhecer a própria identidade por isso ter medo dos outros.

 

10. Dizer sim ao fundador, como ele é.

- um fundador profundamente eclesial e humano.

- um fundador carismático equilibrado e humano.

- um fundador afável e que assumia as próprias fragilidades.

- um fundador aberto à produção cultural, às coisas boas que o ser humano produz, às artes.

- um fundador paciente e misericordioso.

 

Dizer sim ao Fundador é dizer não às imagens falsas, idealizações, desumanizações, angelizações etc.



[1] Cf. cân. 663 § 2

[2] Cf. cân. 675 § 3

Símbolo na Liturgia segundo o Papa Francisco

 

CARTA APOSTÓLICA DESIDERIO DESIDERAVI DO SANTO PADRE FRANCISCO AOS BISPOS, SACERDOTES E DIÁCONOS, AOS HOMENS E MULHERES CONSAGRADOS E AOS LEIGOS FIÉIS SOBRE A FORMAÇÃO LITÚRGICA DO POVO DE DEUS Eu ansiava pelo desejo comer esta Páscoa com você antes que eu sofra (Lc 22:15)

Dado em Roma, em São João de Latrão, no dia 29 de junho, Solenidade dos Santos Pedro e Paulo, Apóstolos, no ano de 2022, décimo do meu Pontificado. FRANCISCO

44. Guardini escreve: “Aqui se delineia a primeira tarefa do trabalho de formação litúrgica: o homem deve tornar-se novamente capaz de símbolos”. [13] Esta é uma responsabilidade de todos, tanto dos ministros ordenados como dos fiéis. A tarefa não é fácil porque o homem moderno se tornou analfabeto, não consegue mais ler símbolos; é quase como se nem sequer se suspeitasse de sua existência. Isso acontece também com o símbolo do nosso corpo. Nosso corpo é um símbolo porque é uma união íntima de alma e corpo; é a visibilidade da alma espiritual na ordem corpórea; e nisso consiste a singularidade humana, a especificidade da pessoa irredutível a qualquer outra forma de ser vivo. Nossa abertura ao transcendente, a Deus, é constitutiva de nós. Não reconhecer isso nos leva inevitavelmente não apenas a não conhecer a Deus, mas também a não conhecer a nós mesmos. Basta olhar para a forma paradoxal como o corpo é tratado, ora cuidado de forma quase obsessiva, inspirado no mito da eterna juventude, ora reduzindo o corpo a uma materialidade à qual é negado toda dignidade. O fato é que não se pode dar valor ao corpo partindo apenas do próprio corpo. Todo símbolo é ao mesmo tempo poderoso e frágil. Se não for respeitado, se não for tratado pelo que é, se despedaça, perde sua força, torna-se insignificante. Não temos mais o olhar de São Francisco, que olhou para o sol - que chamou de irmão porque assim o sentiu - e o viu belo e radiante com grande esplendor e, maravilhado, cantou que traz uma semelhança de Ti, Altíssimo. [14] Ter perdido a capacidade de apreender o valor simbólico do corpo e de cada criatura torna a linguagem simbólica da Liturgia quase inacessível à mentalidade moderna. E, no entanto, não se pode renunciar a tal linguagem. Não pode ser renunciado porque é como a Santíssima Trindade escolheu nos alcançar através da carne do Verbo. Trata-se antes de recuperar a capacidade de usar e compreender os símbolos da Liturgia. Não devemos perder a esperança porque esta dimensão em nós, como acabei de dizer, é constitutiva; e apesar dos males do materialismo e do espiritualismo - ambos negações da unidade da alma e do corpo - ela está sempre pronta para ressurgir, como toda verdade.

domingo, 24 de abril de 2022

Terço do Louvor

 Terço do Louvor

Sobre o Louvor:

"Portanto, quer comais, quer bebais ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus." (1 Cor 10,31).

“Não cesso de dar graças a Deus por vós, lembrando-me de vós nas minhas orações.”   (Ef 1,16).

“Rendei graças, sem cessar e por todas as coisas, a Deus Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo!” (Ef 5,20).

“Em todas as circunstâncias, dai graças, porque esta é a vosso respeito a vontade de Deus em Jesus Cristo” (1 Ts 5,18).

 

Início do Terço:

Pai Nosso, Ave Maria e Creio.

 

Contas grandes – “A vós, ó Deus, louvamos, A vós, Senhor, cantamos. A vós, Eterno Pai, Adora toda a terra” (Te Deum).

Contas pequenas – “Louvado sejais por/pelo/pela ...

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. Como era, no princípio, agora e sempre. Amém.

 

Finaliza-se com o texto do Magnificat. (Lc 1,47-55)

–46 A minh’alma engrandece o Senhor * 47 e se alegrou o meu espírito em Deus, meu Salvador; –48 pois, ele viu a pequenez de sua serva, * Desde agora as gerações hão de chamar-me de bendita. –49 O Poderoso fez em mim maravilhas * E Santo é o seu nome!

–50 Seu amor, de geração em geração, * Chega a todos que o respeitam; –51 Demonstrou o poder de seu braço, * Dispersou os orgulhosos. –52 Derrubou os poderosos de seus tronos * E os humildes exaltou. –53 De bens saciou os famintos, * E despediu, sem nada os ricos. –54 Acolheu Israel, seu servidor, * Fiel ao seu amor, –55 como havia prometido aos nossos pais, * Em favor de Abraão e de seus filhos para sempre. – Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. * Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

 

Orientações:

O terço pode ser rezado na intenção de pessoas, fatos, instituições, corpo, sentimentos, virtudes etc. Nunca pelo mal ou pelo pecado, mas pelo bem que se tirou deles.

Exemplos:

Se for rezar pela família

Louvado sejais pela minha família,

Louvado sejais pela minha mãe,

Louvado sejais por José (irmão)...

Se for rezar pelo corpo:

Louvado sejais pela minha cabeça,

Louvado sejais pelos meus olhos,

Louvado sejais pelos meus pulmões...

Se for rezar pela História de vida:

Louvado sejais pela minha concepção,

Louvado sejais pela minha gestação,

Louvado sejais pelo meu primeiro dia de aula...

Outros temas:

Pessoas que preciso perdoar.

Amigos ou inimigos.

Por uma pessoa específica , por exemplo, o marido rezando pela esposa: primeiro encontro, dia do noivado, casamento, detalhes, fatos, situações, pessoas envolvidas etc.).

Instituições:

Escolas (professores, colegas, datas, prédios, brincadeiras, dificuldades etc.).

Igreja (catequese, pastoral, pessoas, situações etc).

 

O terço pode ser rezado por um tema único. Por exemplo pela família. Ou fazer uma dezena por tema. A primeira dezena pela família, a segunda por pessoas que preciso perdoar, a terceira pela vida pastoral etc.

Terço do Espírito Santo

 

Terço do Espírito Santo

 

(A partir da proposição do Cardeal Cantalamessa)

 

Início do Terço:

Pai Nosso, Ave Maria e Creio

 

Primeiro Mistério – A Criação.

“O Espírito de Deus pairava sobre as águas” (Gn 1,2b).

Nas contas grandes - Vinde Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do Vosso Amor. Enviai o Vosso Espírito e tudo será criado e renovareis a face da terra.

Oremos: Ó Deus que instruíste os corações dos vossos fiéis, com a luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas segundo o mesmo Espírito e gozemos da sua consolação. Por Cristo Senhor Nosso. Amém.

Nas contas pequenas (10 vezes) – “Enviai o Vosso Espírito, Senhor, e da Terra toda a face renovai” (Sl 103,30).

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. Como era, no princípio, agora e sempre. Amém.

Segundo Mistério – A Profecia.

“O Espírito do Senhor repousa sobre mim, porque o Senhor consagrou-me pela unção” (Is 61,1).

Terceiro Mistério – A Encarnação.

“Disse o Anjo a Maria: ‘O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra” (Lc 1,35).

Quarto Mistério – A Evangelização.

“Jesus leu na Sinagoga de Nazaré: ‘O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu e enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres (...). Hoje se cumpriu essa passagem da Escritura que acabastes de ouvir” (Lc 4,18.21).

Quinto Mistério – A Igreja.

“Ficaram todos repletos do Espírito Santo” (At 2,4).

 

Salve, Rainha, Mãe de misericórdia, Vida, doçura, esperança nossa, salve! A Vós bradamos, os degredados filhos de Eva. A Vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas. Eia, pois, advogada nossa, Esses Vossos olhos misericordiosos a nós volvei. E, depois deste desterro, Nos mostrai Jesus, bendito fruto Do Vosso ventre. Ó clemente, ó piedosa, Ó doce Virgem Maria. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus, para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

 


sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

A Dimensão escatológica do Carisma do Louvor de Deus - Diácono Pedro da Eucaristia.

 

INSTITUTO SUPERIOR DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS RELIGIOSAS SÃO BOAVENTURA

 

 

 

 

 

 

 

 

WILLIAM JESUS GOMES

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A DIMENSÃO ESCATOLÓGICA DO CARISMA DO    LOUVOR DE DEUS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

São Paulo 2021

WILLIAM JESUS GOMES

 

 

 

 

 

 

 

 

A DIMENSÃO ESCATOLÓGICA DO CARISMA DO    LOUVOR DE DEUS

 

 

 

 

 

 

 

 

Monografia do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentada ao Instituto Superior de Filosofia e Ciências Religiosas, como parte dos requisitos para obtenção do título de Bacharelado em Teologia sob a orientação do Profº Dr. Pe. Ari Luis do Vale Ribeiro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

São Paulo 2021

WILLIAM JESUS GOMES

 

 

 

A DIMENSÃO ESCATOLÓGICA DO CARISMA DO LOUVOR DE DEUS

 

 

 

Monografia de Conclusão de Curso apresentada ao Instituto Superior de Filosofia e Ciências Religiosas São Boaventura, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Bacharelado em Teologia sob a orientação do Profº Dr. Pe. Ari Luis do Vale Ribeiro.

 

 

 

 

Nota: ______________________

 

 

 

Data da aprovação: ____/____/____

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“Decorra a vida presente no louvor de Deus, porque a eterna alegria de nossa vida futura será o louvor de Deus. Ninguém será idôneo para a vida futura, se de certo modo não se exercitar para isso.”

 

                                                                                                                             Santo Agostinho

 

 

 

 

RESUMO

 

 

O presente trabalho tem como tema a “Dimensão escatológica do carisma do

Louvor de Deus” e seu principal objetivo é estabelecer a relação entre a vivência do carisma Salvista com o louvor vivido pela comunidade dos salvos, ou seja, pelos santos que já estão no céu. Para chegar a essa compreensão foi necessário abordar as partes do tema separadamente. Num primeiro momento foram aprofundados os temas concernentes ao Tratado da Escatologia e sua sistematização histórica, depois, foram abordadas as concepções de carisma, partindo da Sagrada Escritura para as visões eclesiológicas e cristológicas, para então entender o Louvor de Deus como carisma inspirado pelo Espírito Santo. Este carisma é vivido primeiramente na liturgia. A vivência do carisma Salvista edifica o Corpo Místico de Cristo e santifica quem louva e a comunidade na qual está inserido, assim, aquele que louva une os seus louvores com os louvores eternos.

Palavras-chave: escatologia, céu, louvor de Deus, louvor na bíblia, liturgia, santidade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

RESUMÉ

 

 

Le présent ouvrage a pour thème la « dimension eschatologique du charisme de la louange de Dieu » et son objectif principal est d'établir la relation entre l'expérience du charisme salvista avec la louange vécue par la communauté des sauvés, c'est-àdire, par les saints qui sont déjà au ciel. Pour parvenir à cette compréhension, il était nécessaire d'aborder les parties du sujet séparément. Dans un premier temps, les thèmes concernant le Traité d'Eschatologie et sa systématisation historique, puis les conceptions du charisme ont été abordées, partant de l'Ecriture Sainte jusqu'aux visions ecclésiologiques et christologiques, pour ensuite comprendre la Louange de Dieu comme un charisme inspiré par l'Esprit Saint. Ce charisme est d'abord vécu dans la liturgie. L’éxperience du charisme Salvista construit le Corps mystique du Christ et sanctifie ceux qui louent et la communauté dans laquelle ils sont insérés, ainsi, ceux qui louent joignent leurs louanges aux louanges éternelles.

Mots-clés: eschatologie, ciel, louange de Dieu, louange dans la bible, liturgie, sainteté.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

 

 

 

AA – Decreto Apostolicam Actuositatem

 

CIgC – Catecismo da Igreja Católica

 

DV – Encíclica Dominum et vivificantem

 

EP – Carta Encíclica Evangelii Praecones

 

GE - Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate

 

IGLH – Instrução Geral da Liturgia das Horas

 

LG – Constituição Dogmática Lumen Gentium

 

PC – Decreto Perfectae Caritatis

 

SC – Constituição Sacrosanctum Concilium

 

SS – Carta Encíclica Spe Salve

 

VC – Exortação Apostólica Vita Consecrata

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

SUMÁRIO

 

 

INTRODUÇÃO..........................................................................................................  09

 

CAPÍTULO 1 – ESCATOLOGIA........................................................................................ 10

1. Escatologia: conceito e breve relato histórico.............................................................. 10

1.1.  Igreja Primitiva, Patrística e Idade Média.................................................................. 12

1.2.  Os Novíssimos.............................................................................................................. 16

1.2.1. Morte, Imortalidade da alma e ressurreição dos mortos....................................... 16

1.2.2. Juízo Particular, Juízo Universal e Parusia........................................................... 20

1.2.3. Inferno, Purgatório e Céu  ....................................................................................... 21

CAPÍTULO 2 – CARISMA E LOUVOR DE DEUS.......................................................... 26

2.  Definição bíblica de carisma.......................................................................................... 26

2.1.  Visão eclesiológica de carisma.................................................................................. 27

2.2.  Visão cristológica de carisma..................................................................................... 29

2.3.  O louvor de Deus na bíblia......................................................................................... 31

2.4.  O carisma do Louvor de Deus.................................................................................... 35

2.4.1. Missão e apostolado do carisma Salvista ............................................................. 39

CAPÍTULO 3 – LOUVOR DE DEUS COMO ANTECIPAÇÃO DO CÉU.................... 42

3.  A liturgia como cume e fonte da vida........................................................................... 42

3.1.  A liturgia como lugar privilegiado do Louvor de Deus........................................... 44

3.2.  Santificação pessoal e comunitária fruto do Louvor de Deus.............................. 46

3.3.  O Louvor de Deus como antecipação do céu ........................................................ 50

CONCLUSÃO........................................................................................................................ 55

REFERÊNCIAS.................................................................................................................... 56

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

INTRODUÇÃO

 

 

O carisma Salvista é o Louvor de Deus. Este carisma possui uma dimensão escatológica, porque é uma antecipação do céu. A ideia central deste trabalho monográfico é, justamente, trilhar um caminho para a compreensão de como se dá essa antecipação do céu através da vivência do Louvor no cativeiro da vida presente. Para estabelecer essa relação é necessário compreender o Tratado da Escatologia, isto é, compreender o devir histórico que levou à sistematização deste Tratado Dogmático, que tem por objetivo estudar a doutrina das coisas últimas, o que era chamado de “Novíssimos”, cujos temas são: morte, imortalidade da alma, ressurreição dos mortos, juízo particular e final, parusia, inferno, purgatório e céu.

Com o intuito de esclarecer o que é o carisma do Louvor de Deus serão apresentadas as definições de carisma a partir da perspectiva bíblica, de forma particular, o pensamento paulino, já que Paulo é o autor sagrado que mais fala sobre o tema. Partindo da concepção bíblica, a Igreja elabora a sua concepção de carisma, atenta a voz do Espírito que distribui diversos novos dons para a humanidade para favorecer a edificação do Corpo Místico de Cristo.

Todo carisma possui uma dimensão cristológica, portanto, todo carisma apresenta uma face de Cristo para a humanidade. Através do carisma, que é dom de Deus, o Espírito Santo forma o Cristo e O manifesta ao mundo. O Louvor de Deus é um carisma inspirado pelo Espírito Santo no coração do Servo de Deus Padre Gilberto Maria Defina, que fundou a Fraternidade Jesus Salvador (Salvistas) e seus ramos, para manifestar ao mundo a face do Cristo que louva ao Pai no Espírito.

O Louvor está presente em toda a Sagrada Escritura, desde a criação até o Apocalipse, inclusive nos lábios e atos de Jesus. E, a partir do Louvor presente na Revelação, é que surge este carisma no seio da Igreja. Carisma este que se realiza primeiramente na liturgia, que gera santificação pessoal e comunitária, e sem dúvidas, mostra um caminho seguro para a eternidade junto de Deus Uno e Trino.

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 1 ESCATOLOGIA

 

 

             1.           Escatologia: conceito e breve relato histórico

 

 

O estudo da escatologia encontra-se dentro do campo da teologia dogmática. Este tratado foi posposto por um grande período da história por abordar o mistério da vida futura.

O termo escatologia vem do grego εσχατóς (eskatós) que significa extremo e o sufixo λόγος (logos) que quer dizer doutrina. No início era chamado de Tratado dos Novíssimos, aborda o fim do homem e da humanidade. Esse tratado era considerado o último da teologia dogmática. Sob influência de Albert Schweitzer, oriundo da Escola Liberal, teólogos católicos começaram a aprofundar o tema dentro da dogmática católica que diverge da escatologia protestante (cf. BORN, 1977, p. 464).

Segundo Franz-Josef Nocke,

 

Na dogmática católica costuma-se denominar o discurso da consumação de “escatologia”. Na maioria das vezes esse termo é traduzido por doutrina das “coisas derradeiras” (do grego τα εσχατα [ta eschata)]. Com isso se quer dizer: doutrina do fim do mundo, da morte, ressurreição, juízo, céu e inferno. Esse discurso, porém, leva facilmente a pensar que se trata de acontecimentos coisificados que, em futuro indefinido, simplesmente sobreviriam ao mundo e à humanidade de fora. Em contraposição a isso a teologia mais recente acentua: não se trata de quaisquer coisas, e, sim, do futuro da criação, não de algo que irrompe sobre o homem e mundo vindo de fora, e, sim, de consumação de vida que já começou, não de algo puramente futuro e, sim, também do presente, na medida em que ele está determinado pelo direcionamento ao futuro. De acordo com o exposto, poderíamos formular: escatologia reflete a esperança de consumação (2008, p. 340).

 

Com base na citação acima do Manual de Dogmática de Theodor Schneider, pode-se afirmar que o Eschaton é o acabamento da obra da criação realizada por Deus, tendo como modelo o Cristo Jesus que com sua Encarnação, Vida, Paixão, Morte e Ressurreição, antecipou o Eschaton, revelando o que a humanidade será na Parusia.

A produção teológica do período da Reforma Protestante que, juntamente com a teologia católica, ambas no âmbito da escatologia, focaram na imortalidade da alma a partir de uma perspectiva funcional da sanção das condutas morais, o que fez a escatologia entrar numa secularização, na qual se anula a transcendência e pensa-se apenas no viés social da instauração do Reino (cf. LACOSTE, 2014, p. 621). A Reforma Protestante ainda negou a existência do purgatório, único tema escatológico abordado depois com mais veemência no Concílio de Trento (1563).

 No século XIX, surge o marxismo que apresenta um discurso divergente do que está no centro do estudo da escatologia, pois rejeitou o essencial para se deter a um projeto de transformação social, histórica e científica. Dessa forma a escatologia cristã católica é descaracterizada, porque Deus é tirado de seu papel e o evento Jesus Cristo que é a referência do estudo escatológico, perde o seu sentido primário que é mostrar que Ele é o princípio e o fim como se lê em Apocalipse 22, 13: “Eu sou o Alfa e o

Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim.”

 

A escatologia marxista (o porvir histórico, o fim da história) trata, certamente, de uma ordem social; a ordem social tem que ser mudada e as características sociais do proletário são a base para a expectativa escatológica (a expectativa do comunismo). O Evangelho trata de um evento na ordem divina do mundo; a qualificação das pessoas para pertencer ao Reino é incidental à questão essencial da transformação da alma (VOEGELIN, 2012, p. 210).

 

Até chegar à sistematização contemporânea da escatologia surgem diversos questionamentos, que só puderam ser respondidos com o retorno à origem do cristianismo. No cristianismo primitivo o uso do termo “Maranatha” é compreendido no contexto litúrgico da época e não pela ciência, pois faz referência constante ao Cristo como “Aquele que veio e que há de vir”. Na Idade Média, o termo “Dies Irae” que remete ao dia do juízo e é uma categoria do Antigo Testamento, pode ser tanto uma menção ao juízo particular quanto ao juízo universal. Nos séculos XIX e XX aparece a expressão “Salva tua alma” que ressaltou o individualismo no processo da salvação, excluindo, dessa maneira, o caráter comunitário na escatologia (cf. RATZINGER, 2019, p. 28-29).

A partir de agora, o foco será o objeto do estudo da escatologia, para que assim o projeto de Deus para a humanidade revelado através de seu Filho, Jesus Cristo, seja compreendido.

Para que possamos compreender bem a Escatologia cristã, é necessário, antes, entender uma coisa muito importante: o centro da esperança cristã é Cristo ressuscitado; [...] Jesus é o centro da fé e da história humana: tudo quanto o Pai fez e pensou para a humanidade, e o mundo foi feito através de Cristo e somente em Cristo terá sua realização (cf. Cl 1, 15-20). Portanto, as coisas últimas que acontecerão nada mais são que o cumprimento amoroso daquilo que o Pai sonhou para nós desde o início, em Cristo (COSTA, 2018, p. 9).

 

Jesus é o fim absoluto de toda a criação. Assim aponta um grande teólogo do século XX, Hans Urs Von Balthasar, que coloca a Pessoa de Jesus Cristo num lugar absolutamente central em sua teologia. Para ele, a verdadeira escatologia é a vida trinitária de Deus revelada no Filho Eterno. Ele é a salvação de Deus transmitida por Ele mesmo. Partindo de Jo 11, 25, ele afirma que Jesus é o juiz e a ressurreição (cf.

BRUSTOLIN, 2019, p.9).

 

Deus é o fim último (Escaton) das criaturas: Ele é o céu para quem o alcança, o inferno para quem o perde, o juízo para quem por Ele é examinado, o purgatório para quem por Ele é purificado [...] E tudo isto no modo em que ele dirigiu-se ao mundo, isto é, no seu Filho, Jesus Cristo, que é a revelação de Deus e, portanto, a síntese das coisas últimas! (BALTHASAR in COSTA, 2018, p. 12). 

 

 

             1.1.        Igreja Primitiva, Patrística e Idade Média

 

 

Como se viu anteriormente, houve um desenvolvimento para se chegar à compreensão que hoje se tem acerca da escatologia de maneira sistemática.

Na Igreja Primitiva até os dois primeiros séculos da nossa era não se desenvolveu de maneira aprofundada nenhum estudo das coisas últimas, porque a volta do Messias, Cristo Jesus, era considerada iminente. Os sistemas teológicos que surgiram a partir do século III uniram a escatologia à cristologia com reflexões sobre o “como”, o “quando” e o “onde” do cumprimento da promessa de Jesus. Nasceram reflexões teológicas para combater heresias do cristianismo nascente, entre elas o gnosticismo. Isto é um marco importante na história da escatologia, pois se tornou base para a construção do raciocínio escatológico. Algumas reflexões deste período deram origem a outras heresias, como o milenarismo, e por isso foram questionadas e rebatidas (cf. LACOSTE, 2014, p. 620-621). 

Deste período importantíssimo na história da Igreja vale ressaltar a importância de alguns autores que marcaram o desenvolvimento da teologia da esperança cristã, dentre eles estão: Justino, Clemente de Alexandria e Agostinho de Hipona.

Justino Mártir (100 – 165 d.C.) foi um teólogo cristão, apologista e de influência platônica que em meio a uma sangrenta perseguição aos cristãos se converteu ao cristianismo. Na obra Diálogo com Trifão, refuta a doutrina da transmigração das almas a partir da concepção cristã de que o Homem foi criado à imagem e semelhança de Deus e que seu corpo é casa do sopro de Deus, o que revela uma unidade que permite o Homem ver a Deus e conclui com a profissão de fé na ressurreição (cf. FIGUEIREDO, 2009, p. 176-177).

Clemente de Alexandria (150 - 215 d.C.) foi um professor, escritor, teólogo, discípulo de Panteno e líder da Escola de Alexandria, importante apologista que refutava letrados de seu tempo para defender a fé e a doutrina cristã. Na obra Stromata, manifestou uma preocupação com as almas, pois as considerava a melhor parte do ser humano, mas não coloca o corpo como mau por natureza, até porque foi criado por Deus. As almas são imortais e incorruptíveis, são dom de Deus, pois o Espírito Santo habita nelas. A morte é passagem para uma vida superior onde há a presença de Deus, sendo este o fim último do cristão. A ressurreição no último dia será a iluminação última do homem (cf. SESBOÜÉ, 2003, p. 360).

 

Clemente pensa numa possibilidade de purificação das almas após a morte. O caminho da alma para o conhecimento de Deus, que vai além deste mundo, é uma purificação. Somente quando esse caminho foi percorrido é que se pode falar de perfeição do homem. Em Clemente se encontra também uma abertura para a doutrina que levará à representação, ulteriormente desenvolvida, de um lugar de purificação chamado purgatório. De outro modo, essa doutrina da purificação, em Clemente, põe a questão da salvação possível de todos os homens. Os castigos após a morte parecem ter essa finalidade de purificação, mais que a de sanção definitiva (SESBOÜÉ, 2003, p. 360). 

 

Agostinho (354 – 430 d.C.), cuja teologia influenciou no ocidente, com a célebre obra “Cidade de Deus” inaugura um novo movimento no estudo da escatologia a partir de sua experiência pessoal. Ele vê uma oposição entre a cidade de Deus e a cidade terrestre, mas para ele é clara a supremacia da cidade de Deus que triunfará em Cristo. Devido a uma tendência milenarista em sua juventude, faz uma interpretação eclesiológica da “primeira ressurreição” atribuindo a ela o batismo e suas consequências, mas afirma que ainda virá a ressurreição definitiva e o juízo final (cf.

NOCKE, 2008, p. 394-395).

 

Esses acontecimentos devem se distinguir da ação da graça salvadora de Deus na história. Nela, os cristãos são como peregrinos, mesmo que tenham já a firme esperança dos bens futuros. No momento final, terão lugar a vinda gloriosa de Cristo e a ressurreição dos mortos. Será também o momento do juízo, em que cada qual receberá conforme suas obras (SESBOÜÉ, 2003, p. 366).

 

Cada um será julgado conforme suas obras. Os santos que já morreram estão em Deus, porém ainda não em plenitude, pois esta só se dará na ressurreição dos mortos. Para eles a salvação é eterna; para os condenados, a condenação é eterna.

 

Santo Agostinho, fiel à tradição recebida, falará do fogo purificador (ignis purgatorius). Santo Agostinho expõe a necessidade desta realidade purificatória ultraterrena depois da morte, não para todos os pecadores. Por fim, para além da aplicação de sacrifícios aos defuntos, ele também elenca a oração dos vivos pelos defuntos. Esta linha agostiniana irá prevalecer na reflexão teológica ocidental, e irá estar presente no primeiro tratado sistemático de escatologia, Prognosticon futuri saeculi de Julião de Toledo, dos finais do século VII. [...] Julião tem o cuidado de distinguir o fogo do Purgatório, do fogo do Inferno (SANTOS, 2015, p. 13).  

 

Toda teoria escatológica de Agostinho é orientada para a consumação final, pois para ele a fé na ressurreição é o distintivo cristão (cf. SESBOÜÉ, 2003, p. 366-367).

Até a Idade Média a escatologia não tinha um tratado específico na teologia dogmática. Ela era incorporada na cristologia, no tratado da graça ou na teologia da criação. A escolástica fez essa separação e começou a abordá-la com princípios aristotélicos. No século XII, surge a doutrina sobre o purgatório, especialmente após a grande ruptura da Igreja do Ocidente com a Igreja do Oriente. Vale ressaltar que este já era um tema abordado na patrística, entretanto, sem grande sistematização, por Clemente de Alexandria, Orígenes, Cirilo de Jerusalém e Agostinho. A Idade Média se preocuparia com essa realidade (cf. LACOSTE, 2014, p. 621).

No século seguinte o purgatório entra na linguagem dos papas, na teologia, na pastoral e na tradição mística. Santa Teresa D’Ávila, doutora da Igreja, no início da Idade Moderna, vê o purgatório positivamente, compreende sem dúvida o sofrimento, mas não deixa de ser uma experiência mística alegre da aproximação cada vez maior da contemplação de Deus.

Santo Tomás de Aquino não escreveu sobre a escatologia na Suma Teológica.

É na obra de sua juventude, “Comentários sobre as Sentenças”, que elabora uma sistematização de sua doutrina escatológica, e nela encara os problemas de sua época dissertando sobre os acontecimentos futuros que dizem respeito a cada homem e à humanidade inteira no além da história (cf. SESBOÜÉ, 2003, p. 376-380).

 

Na vida eterna, em primeiro lugar o homem se une a Deus. o próprio Deus é a recompensa e o fim de todos nossos labores. [...] Essa união consiste na visão perfeita, pois “agora vemos em espelho e de modo confuso; mas então será face a face” (1Cor 13,12). Ela consiste igualmente no supremo louvor [...] e também na perfeita satisfação do desejo, porque todo bem-aventurado terá mais do que ele desejaria e esperaria. A razão disso é que nesta vida nada pode satisfazer seu desejo e nenhuma coisa criada é capaz de satisfazer o desejo do homem. Somente Deus o sacia e o ultrapassa infinitamente [...] E, como os santos na pátria possuirão perfeitamente Deus, é claro que o desejo deles será saciado e que a glória o ultrapassará. [...] Tudo o que há de deleitável é dado lá de maneira superabundante. [...] Lá se encontrará o deleite supremo e perfeito porque se trata do Soberano Bem, ou seja, de Deus. [...] Ele consiste igualmente na feliz comunhão de todos os bem-aventurados; e essa comunhão será em ampla medida deliciosa porque cada um possuirá os bens em comum com todos os bem-aventurados. Cada qual amará o outro como a si mesmo e gozará do bem do outro como do próprio. Por isso, a alegria e o regozijo de cada um crescerão na medida da alegria de todos (SANTO TOMÁS DE AQUINO in SESBOÜÉ, 2003, p. 383-384).

 

Os Concílios da Idade Média tentaram estabelecer um diálogo com a Igreja Oriental no que concerne à doutrina do purgatório. É neste contexto que purgatório deixa a concepção de ser um lugar. A oração dos vivos pelos defuntos é considerada útil para o alívio das penas temporais (cf. SESBOÜE, 2003, p. 385-386).

Toda a teologia católica foi e é desenvolvida em torno de três pilares, são eles: Sagrada Escritura, Tradição e Magistério. Até aqui foi abordado o desenvolvimento histórico da escatologia católica e algumas categorias introdutórias baseadas na Tradição e no desenvolvimento do Magistério, mas não é suficiente, pois a escatologia possui um enorme campo de estudo a ser trabalhado, portanto, a partir de agora serão aprofundados os Novíssimos e desenvolvidos temas escatológicos, com seus respectivos embasamentos bíblicos e suas valorações teológicas.

 

 

 

             1.2.        Os Novíssimos

 

 

Como dito anteriormente, foi a partir da doutrina dos “Novíssimos” que surgiu o Tratado da Escatologia. Eles falam sobre a morte, ressurreição dos mortos, juízo particular e universal, céu, purgatório, inferno e Parusia. Estas realidades foram reveladas por Jesus Cristo e, ao longo da história, o Magistério, apoiado na Revelação, desenvolveu a doutrina.

No Catecismo de São Pio X, encontra-se um breve resumo do porquê os novíssimos são considerados as últimas coisas que acontecerão ao homem.

 

Os Novíssimos chamam-se últimas coisas que acontecerão ao homem porque a Morte é a última coisa que nos acontece neste mundo; o Juízo de Deus é o último entre os juízos que temos de passar; o Inferno é o último mal que hão de sofrer os maus; e o Paraíso é sumo bem que hão de receber os bons (SÃO PIO X, 2015, 967). 

 

 

1.2.1. Morte, imortalidade da alma e ressurreição dos mortos

 

 

Há algumas compreensões sobre a morte no Antigo Testamento, entretanto não são compreensões independentes umas das outras, são uma evolução no pensamento acerca da morte. A morte na velhice era considerada o curso natural da vida humana, já que na velhice a pessoa pôde ver o crescimento dos filhos e netos, sinal de bênção de Deus, como é notório em Gn 25 com a morte de Abraão, e Gn 35 com a morte de Isaac (cf. LACOSTE, 2014, p. 1195).

Porém, quando a morte se dava na juventude o povo de Israel via como uma intrusão da morte, não era considerado natural, mas um castigo para aqueles que não eram justos, como se compreende a partir de Gn 3. A fenomenologia da morte como abreviação da vida e como consequência de uma vida de pecado surge da fenomenologia da enfermidade, na qual o ser é apartado da comunidade do louvor e dos amigos e a única forma de restabelecer essa comunhão era voltar-se para Deus, fonte da vida, como está descrito no Sl 16,10. 

O Povo da Antiga Aliança elabora o conceito de Sheol, onde o Senhor não estava presente, onde Ele não poderia ser louvado, e havia uma ausência plena da comunicação com o Criador. A fé veterotestamentária rejeitava o culto aos mortos e as ideias de imortalidade nele contidas. A partir do texto de Dêutero-Isaías, passa-se a ter uma nova compreensão sobre o sofrimento e a morte, que passam a serem vistos como caminho de purificação e transformação para a reconciliação com Deus. Não são mais consideradas como rejeição e abandono por Deus e nem mesmo como fim último. Neste momento há um princípio de uma doutrina da ressurreição dos mortos (cf. RATZINGER, 2019, p. 94-103).

É na literatura martirial de Daniel e de II Macabeus que aparece com maior clareza uma fé na ressurreição dos mortos, onde a morte precoce não é causada pelo pecado, mas pela busca da vivência da fé e da justiça. Entretanto, o principal foco destes escritos é que a vida em comunhão com Deus está para além da morte (cf.

RATZINGER, 2019, p. 103-105).

Ao adentrar no pensamento neotestamentário começa-se a ver novas concepções acerca da morte. A morte ganha novo sentido a partir da morte de Jesus Cristo, que morreu pela salvação de todos os homens (cf. SÃO PIO X, 2015, 111).

Segundo Reid, a primeira compreensão sobre a morte no Novo Testamento é espiritual que é fruto da incredulidade e do pecado como se vê de maneira antagônica em Jo 8, 51, que diz: “Asseguro-vos que quem cumprir minha palavra jamais sofrerá a morte.”  A morte espiritual é a morte eterna ou a segunda morte (cf. REID, 2013, p. 925) que se dará na Parusia, quando será condenado ao inferno, descrito como um lago de fogo conforme Ap 20, 14 (cf. HAHN; MITCH, 2020, p. 72).

Há também uma outra designação de morte que é a passagem do pecado para o estado de graça dado à pessoa pelo batismo. Neste momento, o fiel morre com Cristo para a realidade do pecado e entra para a realidade da vida na graça. Assim aponta São Paulo na carta aos Romanos 6, 4: “Pelo batismo nos sepultamos com ele na morte, para vivermos uma vida nova, assim como Cristo ressuscitou da morte pela ação gloriosa do Pai.”

Jesus participou das tradições judaicas, que, como dito anteriormente, considera a morte como ciclo natural da vida, mas a partir de sua morte na Cruz, a morte recebe um significado mais pleno de sentido para vida humana. Deus não é o autor da morte, mas Ele também não criou a humanidade para viver na vida terrena por toda a eternidade, Ele criou para um dia estar em comunhão plena com Ele em sua glória. Por isso a morte, a partir de uma visão cristã não deveria ser vista negativamente, mas de forma positiva, porque se trata de um encontro glorioso. Entretanto, o olhar negativo sobre a morte é fruto do pecado, que amedronta, pois nega a Deus e ao seu amor salvífico. Jesus viveu a morte física e experimentou o medo e a dor, mas deu sentido para essa experiência humana (cf. COSTA, 2018, p. 95.).

 

Seria evidentemente temerário pretender saber em que disposição interior Jesus viveu o instante de sua morte. Numerosos indícios provam, contudo, que ele conheceu a angústia, a solidão e a tristeza que acompanham a morte humana. Não conheceu nem a “bela morte” dos justos do AT, nem a morte tranquila de Sócrates. Ele assumiu a morte do pecador; e se pediu ao Pai que afastasse “este cálice” foi porque pôde viver sua morte como fracasso de sua missão. Seu grito, “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?”, pode ser interpretado como um grito de desespero; mas como sugere a referência ao Sl 22 em Mt e Lc, é ao mesmo tempo uma entrega a Deus, fonte da vida. Na morte de Jesus, a morte humana experimentada sob o signo do pecado torna-se acesso à vida. Deus permanece fiel ao ressuscitar Jesus para uma vida nova. “Pela morte de Jesus, a história do sofrimento e da morte do mundo é introduzida na história de Deus” (LACOSTE, 2014, p. 1196). 

 

São Pedro em sua primeira epístola usa de fórmulas querigmáticas para falar de Cristo. No segundo capítulo se serve de Is 53 para desenvolver a sua teologia que confessa Jesus como o Cordeiro pascal e sua morte como sacrifício para o perdão dos pecados de toda a humanidade. Porém, a morte de Jesus não pode ser vista separadamente da ressurreição. Para Pedro, a ressurreição abre a esperança para o futuro, quando haverá o encontro entre Deus e a humanidade (cf. COTHENET, 1986, p. 54). Este é o mesmo pensamento de São Paulo ao escrever aos Filipenses 1, 23:

“O meu desejo é partir para estar com Cristo”.

Houve no decorrer da história uma cristianização da morte. A vitória de Cristo sobre a morte aponta o caminho que se deve seguir, Ele inaugurou o caminho para todos os Homens.

 

E tal vitória Cristo a obteve em nome e em favor do gênero humano a fim de que cada indivíduo, após a Redenção, saiba que, embora deva morrer em consequência da culpa original, a morte não é para ele mera sanção, mas, em seu sentido mais profundo, é o trânsito para a vida eterna, título de glória (BETTENCOURT, 1955, p. 29). 

 

A morte é a passagem para se encontrar com Cristo e com Ele reinar por toda a eternidade, assim afirma São Cipriano:

 

Que motivo há, pois, para ansiedade e desassossego? Quem fica inquieto e triste nesta situação, senão quem não tem esperança e fé? Temer a morte é próprio de quem não quer ir para o Cristo. Não querer ir para o Cristo é próprio de quem não crê que começará a reinar com ele (CIPRIANO, 2016, p. 134). 

 

Diante da realidade da morte surge outro questionamento: qual o destino da alma humana após a morte? É a partir desta indagação é possível abordar os temas da imortalidade da alma e da ressurreição dos mortos de acordo com o pensamento teológico elaborado pela Igreja, que se baseou na Sagrada Escritura.

Vale ressaltar que estes temas estão intrinsecamente ligados. A ressurreição dos mortos, como afirma o Catecismo da Igreja Católica nos parágrafos 992 a 1004, foi revelada de maneira progressiva ao povo de Deus. Na época de Jesus, haviam partidos que acreditavam na ressurreição dos mortos e outros que, ao contrário, não criam. A estes, Jesus pregava assertivamente a veracidade da ressurreição dos mortos, pois ela está ligada à fé em Deus que é Deus dos vivos e não dos mortos (cf.

Mc 12, 27).

O Pai ao ressuscitar o Filho mostra à humanidade claramente o caminho que é percorrido por todo ser humano, já que é em virtude da ressurreição de Cristo que o gênero humano ressuscitará. “Pela morte, a alma é separada do corpo.” (CIgC 1016) A alma vai ao encontro de Deus, onde será julgada particularmente e o corpo cairá na corrupção. Neste julgamento em que se é tratado o destino da alma, que como afirma a Igreja, é imortal. É pela fé na imortalidade da alma que se crê na intercessão dos santos.

 

Cada homem recebe em sua alma imortal a retribuição eterna a partir do momento da morte, num Juízo Particular que coloca sua vida em relação à vida de Cristo, seja por meio de uma purificação, seja para entrar de imediato na felicidade do céu, seja para condenar-se de imediato para sempre (CIgC 1022). 

 

A Igreja, na Carta sobre algumas questões respeitantes à escatologia de 1979, “afirma a sobrevivência e a subsistência depois da morte de um elemento espiritual, dotado de consciência e vontade, de tal modo que o ‘eu humano’ subsista.” Para isso usa o termo alma, levando em consideração a Sagrada Escritura e a Tradição. (cf. https://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_d oc_19790517_escatologia_po.html) Ao abordar o tema da ressurreição na Sagrada Escritura volta-se o olhar de maneira particular aos textos neotestamentários que afirmam a fé na ressurreição, por exemplo, em: Mc 12; Jo 6.11; Rm 6, 1-14 e 1Cor 15.

Comentando esta carta da Congregação para Doutrina da Fé, Dom Henrique Soares da Costa disse que:

 

Deus nos ama e não permite que sejamos destruídos; ele criou o homem para a comunhão com Ele e, assim, nos deu uma dimensão imaterial, espiritual (alma) que, mesmo após a morte, sobrevive. Temos uma alma imortal, indestrutível, porque Deus nos criou para nos amar eternamente e, somente vivos podemos ser amados: Ele não é Deus dos mortos, mas dos vivos! Se vivermos unidos a Cristo, estaremos com Ele e esta nossa “alma” será glorificada, completamente transformada, plena da bem-aventurança de Cristo. Mas, se lhe dissermos “não” nesta vida, vamos estar longe do Senhor, naquela situação que a Escritura chama de inferno (COSTA, 2018, p. 114).  

 

Portanto, ressuscitar é chegar à plenitude da criação, não é uma nova pessoa, mas a mesma pessoa com a mesma identidade, assim como foi Jesus com seus discípulos (cf. MESTERS; OROFINO, 2019, p. 94-95).

 

 

1.2.2. Juízo Particular, Juízo Final e Parusia

 

 

Após as reflexões acima sobre a morte, imortalidade da alma e a ressurreição dos mortos é possível compreender melhor o que a escatologia católica aponta como acontecimentos pós-morte.

A Sagrada Escritura ao falar de juízo, geralmente se refere ao juízo final, também chamado de juízo universal, que será visto adiante, mas há algumas passagens, como Lc 16,19-31 (parábola do homem rico e do mendigo), Lc 23, 43 (palavras de Jesus ao bom ladrão na cruz), 2Cor 5, 6s (exilar-se do corpo para residir junto ao Senhor), Fl 1,23 (morrer e estar com Cristo), que deixam claro a existência de um julgamento logo após a morte, ou seja, após a separação da alma e do corpo há um encontro com o Justo Juiz que dará a determinação da sorte de cada alma (cf. BETTENCOURT, 1955, p. 48-49).

O Catecismo da Igreja Católica no parágrafo 1021, tendo por base a passagem de Tg 2,14-26, coloca o juízo particular como uma retribuição imediata depois da morte de cada um em função das obras e da fé.

O Juízo Final está vinculado à Parusia, ou seja, à volta gloriosa de Cristo. A volta gloriosa de Jesus e o juízo final estão na Profissão de Fé do catolicismo, que diz que o Filho está sentado à direita do Pai, de onde há de vir e julgar os vivos e os mortos. A comunidade primitiva acreditava que o retorno de Jesus seria rápido, porém, foi Cristo quem disse em Mc 13, 32, que só o Pai sabe a hora da sua volta. Jesus não virá para condenar, mas para julgar as obras e a fé de cada Homem (cf. MESTERS; OROFINO, 2019, p. 53-57). É o momento em que Ele separará os bons dos maus, e que toda a história e toda a humanidade serão passadas a limpo.

A fé no regresso de Cristo revela não um acabamento intra-histórico, mas a certeza de que toda a criação alcançará a plenitude pela força do amor indestrutível da ressurreição de Cristo. Ter esta fé é crer que, no final, a verdade julgará e o amor triunfará superando a história (cf. RATZINGER, 2019, p. 213).

 

Fica, portanto, uma questão: como explicar Juízo particular e Juízo Final? Não são dois juízos, mas dois momentos do mesmo julgamento: no momento da morte é a verdade da minha vida que aparece, no Juízo Final tudo quanto fui e fiz aparecerá dentro do contexto de toda a humanidade: verei, então, claramente, as consequências de todo bem e de todo mal que realizei ou deixei de fazer! [...] a Parusia do Senhor Jesus [...] será causa da ressurreição dos mortos: Cristo glorioso glorificará toda a humanidade, vivos e mortos! (COSTA, 2018, p. 30-31).  

 

 

1.2.3. Inferno, Purgatório e Céu

 

 

O Concílio Ecumênico Vaticano II, na Constituição Dogmática Lumen Gentium (LG), no sétimo capítulo aborda temas de escatologia. O parágrafo 49 apresenta de forma sistemática os possíveis destinos dos justos após a morte do corpo.

 

Até que o Senhor venha na sua majestade, e todos os anjos com ele (cf. Mt 25,31), e até que lhe sejam submetidas todas as coisas, com a destruição da morte (cf. 1Cor 15,26-27), alguns dos seus discípulos peregrinam na terra, outros, já passados desta vida, estão se purificando, e outros vivem já glorificados, contemplando “claramente o próprio Deus, uno e trino, tal qual é” (LG 49).

 

Aqueles, que na sua autonomia negaram o projeto de salvação de Deus, operado através de Jesus Cristo, pela ação do Espírito Santo, são destinados ao fogo eterno, chamado inferno. Lá as almas dos que morrem em estado de pecado mortal sem arrependimento sofrem as penas do inferno, sendo a principal delas a separação eterna de Deus, que é amor e que pode dar a vida e a felicidade eterna.

Ninguém é predestinado por Deus ao inferno, como afirma o autor da 2Pd em 3,9: “que ninguém se perca, mas que todos venham a converter-se”. Deus predestinou todos à salvação (cf. Ef 1, 3-14), porém é necessária a adesão voluntária e livre de cada um. Caso haja a aversão voluntária a Deus sem arrependimento até a morte, no juízo particular, Jesus pronunciará a condenação de Mt 25,41 “Afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno!”

Nos dois séculos anteriores ao cristianismo já havia uma ideia de uma condenação eterna, que é notada na pregação de Jesus e dos apóstolos (cf. RATZINGER, 2019, p. 214). A condenação eterna, como dito anteriormente, é fruto da liberdade humana, assim também afirma Ratzinger:

 

Cristo, vai ao Inferno e sofre até deixá-lo vazio, mas não trata os homens como menores de idade, como incapazes de responderem pelo seu próprio destino; ao contrário, seu Céu descansa na liberdade, que até aos condenados deixa o direito de querer sua danação (RATZINGER, 2019, p. 215).

 

O Purgatório é para os homens que morrem na graça e na amizade com Deus, porém ainda não estão completamente purificados para contemplarem a face de Deus. Aqueles que vão para o purgatório já têm a garantia da salvação, mas passarão pela purificação final, que é totalmente diferente do castigo dos condenados ao Inferno.

A Igreja se apoia na tradição da oração pelos defuntos da Comunidade Primitiva e que também é relatada na Sagrada Escritura em 2Mc 12,46. No Novo Testamento, o texto usado para dar base à doutrina do Purgatório é de Mt 5, 26, que diz: “dali não sairás, enquanto não pagares o último centavo”, bem como 1Cor 3,15 e 1Pd 1,7 (cf. CIgC 1030-1032).

Diferente do Inferno e do Céu, o Purgatório não é eterno para aquele que entra nesta realidade, é uma passagem, não se mede o tempo de maneira terrena, mas há uma temporalidade nesta passagem até alcançar a purificação completa para chegar ao destino definitivo e eterno, o Céu (cf. RATZINGER, 2019, p. 227). Diante desta afirmação é possível concluir que o Purgatório não é para buscar a conversão, mas um tempo para a purificação daqueles que ainda estavam apegados ao pecado, porém que seguiram a Cristo durante a vida terrena.

A Comissão Teológica Internacional, em 1990, lançou o documento “Algumas questões atuais sobre Escatologia”, no qual afirma no parágrafo 8.1, que é necessária uma purificação antes do encontro definitivo com Deus, para tal afirmação utilizou de forma análoga a passagem do lava-pés em Jo 13,10 (cf. https://www.vatican.va/roman _curia/congregations/cfaith/cti_documents/rc_cti_1990_problemi-attuali-escatologia_ sp.html).  “A purificação é entendida como sofrimento para a consumação: ao mesmo tempo beatificante, porque é libertador e consumador, mas também doloroso, porque separa das escórias do pecado que se tornaram uma parte do próprio eu” (NOCKE, 2008, p. 414).

 

Não se trata de uma espécie de campo de concentração no além, onde o homem tem de cumprir penas que lhe são impostas de uma maneira mais ou menos positivista. Trata-se, antes, do processo internamente necessário de transformação do homem, através do qual ele se torna capaz de Cristo, capaz de Deus e, portanto capaz da unidade com toda a communio sanctorum (RATZINGER, 2019, p. 227-228).

 

A última possibilidade sobre o destino da alma humana a ser exposta neste capítulo é o Céu. A esperança cristã tem sua base na promessa da vida eterna feita pelo próprio Jesus, como se pode ver em Jo 6, 37-40 que, em meio ao discurso do Pão da Vida, afirma que Ele veio do Pai para salvar e dar a vida eterna a todo aquele que n’Ele crer.

Não basta crer em Jesus para alcançar o cumprimento da promessa feita por

Ele. O Catecismo da Igreja Católica no parágrafo 1023 diz que “os que morrem na graça e na amizade de Deus, e que estão totalmente purificados, vivem para sempre com o Cristo.” É no Céu que se pode contemplar o Senhor face a face (1Jo 3,2) e vêLo tal como Ele é (1Cor 13,12). Esta visão é chamada de beatífica, que é o ato da inteligência pelo qual os santos conhecerão Deus. Ela é a verdadeira e maior felicidade do Homem (cf. LACOSTE, 2014, p. 1863).

É a vida perfeita dada por Deus àqueles que lhe foram fiéis ao longo da sua vida terrena e que em tudo buscaram a Verdade. É onde acontece a comunhão perfeita com a Santíssima Trindade e com toda a Igreja Triunfante. Os que lá chegam são bem-aventurados, assim diz Jesus em Mt 5, 8: “Bem-aventurados os que tem o coração puro, pois verão a Deus.”, porque possuem a plenitude dos frutos da redenção operada por Cristo Jesus, que glorifica aqueles que creram n’Ele e lhe foram fiéis, além de lhes dar a graça de reinarem com Ele por toda a eternidade (Ap 22,5). 

 

Este mistério de comunhão bem-aventurada com Deus e com todos os que estão em Cristo supera toda compreensão e toda imaginação. A Escritura fala-nos dele em imagens: vida, luz, paz, festim de casamento, vinho do Reino, casa do Pai, Jerusalém celeste, Paraíso. “O que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram e o coração do homem não percebeu, isso Deus preparou para aqueles que o amam” (1Cor 2,9) (CIgC 1027).

 

O Papa Bento XVI na Carta Encíclica Spe Salve na mesma linha de raciocínio do Catecismo afirma que:

 

A única possibilidade que temos é procurar sair, com o pensamento, da temporalidade de que somos prisioneiros e, de alguma forma, conjeturar que a eternidade não seja uma sucessão contínua de dias do calendário, mas algo parecido com o instante repleto de satisfação, em que a totalidade nos abraça e nós abraçamos a totalidade. Seria o instante de mergulhar no oceano do amor infinito, no qual o tempo – o antes e o depois – já não existe (SS 12).

 

Diante de todo o itinerário desse capítulo conclui-se que houve um processo de desenvolvimento teológico ao longo da história para a elaboração do Tratado Dogmático da Escatologia. No período da Igreja Primitiva não havia elaboração de tratados dogmáticos, entretanto havia produção teológica. Os padres da Igreja produziram um vasto estudo teológico de acordo com as demandas do seu tempo. Na Idade Média aparecem as divisões dos tratados dogmáticos, mas o tratado das coisas últimas estava unido à cristologia, ou à teologia da graça, ou ao tratado de Deus Criador.

Os escritos sobre os novíssimos manifestam o desenvolvimento do Tratado da Escatologia. Como dito anteriormente, fazem parte dos novíssimos o estudo sobre a morte, que foi ressignificada a partir do evento Jesus Cristo; a ressurreição dos mortos, que se baseia na ressurreição do Messias, pois se Jesus não ressuscitou vã é a fé cristã (cf. 1Cor 15,14); juízo particular, que se dará após a morte; o juízo universal acontecerá na Parusia (segunda vinda do Senhor) para todos os que morreram ou que estão vivos, quando se dará o acabamento de toda a criação; o Inferno é para aqueles que na vida terrena, na sua liberdade, se fecharam ao Cristo e ao projeto de salvação; o Purgatório é meio de purificação para alcançar a salvação; o Céu é a visão beatífica que revela Deus como fonte de imortalidade e vida plena.

No próximo capítulo será falado do Louvor de Deus, que além de ser o carisma da Fraternidade Jesus Salvador, fundada pelo Servo de Deus Gilberto Maria Defina, é um chamado de Deus a todo cristão, que deve viver já nesta vida como viverá na eternidade. “Santo Agostinho dizia no século V: ‘A exultação da nossa Vida eterna será o Louvor de Deus’” (COSTA, 2018, p. 76).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 2 CARISMA E LOUVOR DE DEUS

 

 

             2.           Definição bíblica de carisma

 

 

O termo carisma tem origem na língua grega, χάρισμα, derivado de χάρις, e pode ser estudado a partir de uma percepção bíblica, é normalmente traduzido por “dom do Espírito”. Fora dos escritos paulinos o termo só aparece uma vez no Novo Testamento na 1Pd 4,10, mas possui o mesmo significado. De acordo com o contexto do escrito, o termo possui variações de significado, porém sempre se referencia a algo dado por Deus (cf. MCKENZIE, graça, 2011, p. 359-360).

Segundo A. Van Den Born,

 

Em alguns casos a palavra indica a vida divina do cristão (Rm 5,15; 6,23; 11,29; 1Cor 1,7; 2Cor 1,11); nas epístolas pastorais, uma graça sacramental, de estado (1Tm 4,14; 2Tm 1,6). Em sentido mais estrito, entende-se por carisma uma força especial, dada ao cristão individual por via não sacramental, visando principalmente o bem do próximo, para a construção da Igreja (Ef 4,12) [...] sobretudo para a expansão do cristianismo (1977, p. 245).

 

São Paulo ao listar os carismas em suas Cartas, de forma particular em 1Cor 12 e Rm 12, não pretende esgotar todos os carismas dados por Deus por meio do Espírito

Santo ao seu povo. “Se Deus distribui ações e operações, e o Senhor dispõe sobre ministérios, o Espírito Santo está também presente, repartindo carismas como lhe apraz, de acordo com a dignidade de cada um” (BASÍLIO DE CESAREIA, 1998, p. 132).

O Compêndio de Teologia Ascética e Mística de Adolphe Tanquerey ao abordar o tema dos carismas afirma que são graças gratuitamente dadas e que, a princípio, são para o bem dos outros, são dons extraordinários e transitórios, entretanto, indiretamente servem também para a santificação pessoal e provêm todos do Espírito Santo (cf. TANQUEREY, 2017, p. 764).

O Catecismo da Igreja Católica associa o termo carisma com o termo graça e nos parágrafos 1996 a 2005 confirma a compreensão aqui apresentada.

A seguir será abordada a forma de como a Igreja concebe carisma dentro da vida consagrada. Esta concepção parte da percepção bíblica, porém se desenvolve de maneira específica para esta forma de vida.

 

É precisamente a articulação do pensamento paulino que permite aprofundar a compreensão da essência e do significado dos carismas na multiplicidade de suas manifestações e em seu caráter orgânico para o bem comum e para a unidade no mesmo Espírito. Paulo adota oposição muito equilibrada diante dos fenômenos espirituais de suas comunidades. Onde vê o perigo de fácil equívoco entusiasmo não cristão ou onde encontra espontaneidade extravagante que se desinteressa da unidade e da edificação harmônica da comunidade [...] e rechaça categoricamente toda apropriação individual (RODRÍGUEZ; CASAS, 1994, p. 90).

 

 

             2.1.        Visão eclesiológica de carisma

 

 

No decorrer da história da Igreja o uso da palavra carisma passou a ser raro, mas não perdeu a noção de que é algo extraordinário. Entre os três primeiros séculos da era cristã os Padres usaram de maneira genérica o termo cunhado por Paulo. Nos séculos IV a VI são acrescentados outros carismas às listas paulinas, mas também cresce a compreensão de que os carismas eram necessários apenas no tempo da Igreja Primitiva. Na Idade Média não há grandes novidades, com exceção de Santo Tomás que afirma que os carismas são sinais da credibilidade da Igreja e que a acompanham. Depois do Concílio de Trento começa a retomada da concepção paulina de carismas. No século XVII, o papa Pio VI delimita o termo à fundação de novos institutos religiosos. Antes do Concílio Vaticano II ainda existiam diversas concepções de carisma, que inclusive influencia a visão de Igreja (cf. RODRÍGUEZ; CASAS, 1994, p. 90-93).

O Concílio Vaticano II desenvolve a temática dos carismas em dois âmbitos, um dogmático na Lumen Gentium (LG) e outro pastoral no decreto Apostolicam Actuositatem (AA), sendo que o âmbito pastoral se serviu do dogmático para ser composto. Outro documento é o Decreto Perfectae Caritatis (PC) que aborda a renovação da vida religiosa (cf. PASSOS; SANCHEZ, 2015, p.79).

A LG 4 afirma que o Espírito Santo habita na Igreja e nos fiéis e é Ele quem distribui dons hierárquicos (hierarquia eclesial) e carismáticos. Os dons carismáticos estão a serviço da estrutura hierárquica (cf. LG 7). Os que governam a Igreja é que devem julgar a genuinidade e a conveniência dos dons carismáticos. O Novo Povo de Deus, através dos carismas, participa da missão profética de Cristo. Estes carismas dados pelo Espírito devem ser aceitos e acolhidos pela Igreja, pois, por mais simples ou complexos que sejam, são úteis às necessidades da Igreja (cf. LG 12).

O Decreto AA, fala sobre o apostolado dos leigos afirmando que deriva da união destes com Cristo Cabeça. São sacerdotes reais e povo santo (cf. 1Pd 2,4-10) que através de suas obras testemunham o Cristo e sua obra salvífica em toda parte. O Concílio afirma que os carismas são dons particulares para a edificação da Igreja na caridade. O julgamento da hierarquia da Igreja sobre os carismas não é para extinguir o Espírito, e sim, para provar tudo e reter o que é bom (cf. 1Ts 5,12.19.21; AA 3).

Embora o foco da abordagem sobre carismas não seja a vida religiosa, mas a vida consagrada em geral, vale apresentar o pensamento da Igreja sobre os carismas na vida religiosa que é o mesmo pensamento sobre os carismas na vida consagrada.

Ao que concerne à vida religiosa e seus diversos carismas, a LG no capítulo VI diz:

 

Esforcem-se muito os religiosos para que a Igreja possa, por meio deles, apresentar Cristo, cada vez com maior clareza, quer aos fiéis quer aos infiéis: tanto Cristo entregue à contemplação no monte, como evangelizando o reino de Deus às multidões; curando os enfermos e os feridos, convertendo os pecadores; ou ainda abençoando as crianças e fazendo o bem a todos, obedientes sempre à vontade do Pai que o enviou (LG 46).

 

O Decreto Perfectae Caritatis (PC), também do Concílio Vaticano II, fala sobre a renovação da Vida Religiosa e no decorrer do texto assevera:

 

Logo desde os princípios da Igreja, houve homens e mulheres, que pela prática dos conselhos evangélicos procuraram seguir a Cristo com maior liberdade e imitá-lo mais de perto, consagrando, cada um a seu modo, a própria vida a Deus. Muitos, movidos pelo Espírito Santo, levaram vida solitária, ou fundaram famílias religiosas, que depois a Igreja de boa vontade acolheu e aprovou com sua autoridade. Daqui proveio, por desígnio de Deus, a variedade admirável de famílias religiosas, que muito contribuiu para que a Igreja não só ficasse apta para toda obra boa (cf. 2Tm 3,17) e preparada para o ministério da edificação do Corpo de Cristo (cf. Ef 4,12), mas, ainda uma vez aformoseada com a variedade dos dons dos seus filhos, se apresente como esposa ornada ao seu esposo (cf. Ap 21,2) e por meio dela brilhe a multiforme sabedoria de Deus (cf. Ef 3,10) (PC 1).

 

Uma das grandes belezas da vida consagrada é justamente a sua diversidade que não é contrariedade, mas sim complementariedade, são formas diferentes de se consagrar a Deus com o mesmo objetivo que é a implantação do Reino de Deus.

O Dicionário Teológico da Vida Consagrada faz uma distinção importante entre carisma da vida consagrada, carisma dos fundadores e carisma de fundação. O primeiro refere-se ao estilo de vida dos consagrados, o segundo é a graça dada por Deus, sob a ação do Espírito Santo, para homens e mulheres tornarem-se aptos a dar à luz novas comunidades de vida consagrada com um carisma novo, que é chamado de carisma de fundação. O carisma de fundação é o dom concedido aos discípulos do fundador para especificar as qualidades peculiares daquela comunidade. A este carisma se acrescenta uma espiritualidade própria inspirada por Deus para que outros possam viver a mesma vocação (cf. RODRÍGUES; CASAS, 1994, p. 94-96). 

Há 5 dimensões fundamentais no carisma de fundação:

 

1) Pneumático-profética em função da germinação contínua de uma existência evangélica vivida e testemunhada. 2) Cristológicoevangélica, em função da compreensão e da qualidade central do mistério de Cristo como experiência global da vida. 3) Eclesial, relacionada com a edificação contínua do corpo místico de Cristo e de sua verificação na história. 4) Fecundação espiritual, enquanto concorre à realização permanente e transmissão da vida cristã. 5) Escatológico-radical, pela atualização do seguimento evangélico contido no dinamismo de tensão contínua para a plena maturidade em Cristo (RODRÍGUES; CASAS, 1994, p.96).

 

 

             2.2.        Visão cristológica de carisma

 

 

Como dito anteriormente há uma dimensão fundamental no carisma de fundação chamada cristológico-evangélica e é este aspecto da vida consagrada que será abordado neste tópico dessa dissertação.

A grande referência sobre a vida consagrada após o Concílio Vaticano II é a exortação apostólica Vita Consecrata (VC) de São João Paulo II. É fruto do sínodo dos bispos sobre a vida consagrada. A presente exortação se baseia no sagrado Concílio, de forma particular na constituição dogmática Lumen Gentium e nas reflexões dos padres sinodais.

 

A exortação apostólica Vita consecrata soube exprimir com clareza e profundidade a dimensão cristológica e eclesial da vida consagrada numa perspectiva teológico-trinitária que ilumina com a nova luz a teologia do seguimento e da consagração, da vida fraterna em comunidade e da missão; contribuiu para criar uma nova mentalidade no que concerne à sua missão no Povo de Deus e ajudou as pessoas consagradas a tomar maior consciência da graça da própria vocação (PARTIR DE CRISTO 3).

 

A VC aprofunda a dimensão cristológica da vida consagrada, assegurando que todo consagrado é chamado pelo Pai, através do Espírito Santo, a imitar seu Filho, Cristo Jesus. Toda ação de Deus revela a pericorese trinitária. A proposta aos batizados que se consagram é de uma existência “cristiforme” (cf. VC 14.). Partindo do episódio da Transfiguração do Senhor (Mt 17,1-9), afirma que os membros da vida consagrada possuem a missão de indicar o Filho de Deus como meta escatológica para onde tudo tende, em outras palavras, os consagrados são chamados a manifestar a face transfigurada de Cristo no mundo. É se conformar a Cristo em toda a sua existência através do carisma de fundação e, assim, reproduzir em si a vida que o Messias assumiu ao entrar no mundo (cf. VC 15-16.).

 

Um profundo ardor do espírito de se configurar com Cristo, para testemunhar algum aspecto do seu mistério, aspecto esse que se há de encarnar e desenvolver na mais genuína tradição do Instituto, segundo as Regras, as Constituições e os Estatutos (VC 36).

 

Aderir a este projeto de consagração nada mais é que imitar o Cristo, que viveu uma vida terrena consagrada ao Pai pela ação do Espírito Santo, conforme a narração de seu Batismo nos 4 Evangelhos. (Mt 3, 13-17; Mc 1, 9-11; Lc 3, 21-22; Jo 1,29-34)

A consagração é a busca da vivência da radicalidade do Sacramento do Batismo (cf. KEARNS, 1999, p. 20) e, como dito acima, é um testemunho de algum aspecto do mistério de Cristo. Como exemplo de testemunho há os consagrados de vida contemplativa que manifestam no mundo a face do Cristo que ora sobre o monte (Lc 6, 12) e os de vida ativa manifestam a face do Cristo que anuncia o Reino de Deus às multidões (Mt 4, 23-25), cura doentes e feridos (Jo 4, 43-54), chama à conversão os pecadores (Mc 14, 3-9), abençoa as crianças (Mc 10, 13-16), expulsa demônios (Lc 8, 26-39) e faz o bem a todos (Jo 6, 1-14) (cf. VC 32).

 

 

             2.3.       O louvor de Deus na bíblia

 

 

O carisma de uma comunidade de consagrados faz parte da identidade daquele grupo de pessoas. Antes de discorrer sobre o carisma do Louvor de Deus, faz-se necessário voltar o olhar para o Louvor de Deus na bíblia, já que um carisma é uma forma de expressar algum mistério da vida de Cristo.

O itinerário a seguir não tem pretensão de esgotar todas as formas de louvor nas Sagradas Escrituras. O objetivo deste tópico é fazer crescer a compreensão de louvor a partir da concepção bíblica e, portanto, a partir da cultura religiosa do povo de Israel, povo do qual Jesus fez parte. Nas Sagradas Escrituras não se encontra a expressão exata “Louvor de Deus”. Por isso, serão abordadas aqui as formas de louvor apresentadas pelos autores sagrados.

O louvor é uma resposta do homem que entra em contato com seu Criador através das bênçãos que dEle recebe (cf. RITUAL DE BÊNÇÃOS 6). Esse movimento da alma humana é evidente no início do Gênesis, quando Deus abençoa o primeiro casal (Gn 1,27-28) e a humanidade por meio de Noé e Abraão (Gn 9,1; 12,3), e que os homens bendizem a Deus por sua providência que os livra do mal (Gn 6,26). Outro momento é o louvor de Melquisedec: “Bendito seja o Deus Altíssimo que entregou teus inimigos entre tuas mãos.” (Gn 14,20).

Essas passagens do Gênesis mostram que o louvor é fruto de um relacionamento do homem com Deus. O homem recebe de Deus as suas bênçãos e, por isso, pela ação da graça, ele se volta para Deus. Assim, torna-se participante da vida divina.

O Catecismo da Igreja Católica faz uma distinção entre oração de ação de graças e louvor, a primeira é um agradecimento a Deus pela obra de salvação operada por meio de Cristo Jesus, a segunda forma de oração não está ligada ao que Deus fez, faz ou fará, mas está imediatamente vinculada ao que Deus é (cf. CIgC 2637-2643).

No Antigo Testamento essas duas formas de oração expostas acima estão intrinsecamente vinculadas, porque por mais que

 

O louvor poderia parecer uma oração mais desinteressada que a ação de graças, aquela em que a pessoa esquece mais de si mesma para só pensar no que Deus faz. Na realidade, em seu louvor, os judeus estavam longe de esquecer os benefícios recebidos de Deus. Não deixavam de recordar os grandes favores que ele outorgara ao seu povo (GALOT, 1985, p. 59-60).

 

Há nos escritos veterotestamentários diversos termos que expressam o louvor a Deus, seja por sentimentos interiores, seja por testemunho público ou por meio de votos e ações litúrgicas. Entre eles estão: Zamir (זַָמַר), Yadah (יָָדָה), Shabach (שַָבַח),

 .(בַָרַךְ) e Barak (תוָֹדָה) Todah ,(הַָלַל) Halal ,(תְּהִָלָה) Tehillah

O Zamir é o louvor dado a Deus através da música com instrumentos, cuja origem significa “tocar com os dedos”, é o verbo utilizado para quando se toca uma música instrumental. Quando se louva a Deus com instrumentos usa-se o zamir. Como está no Sl 92 “é bom celebrar (yadah) a Iahweh e tocar (zamir) ao teu nome, ó

Altíssimo [...] com a lira de dez cordas e a cítara, e as vibrações da harpa” (cf.

STRONG’S).

O Yadah é o louvor de ação de graças, muitas vezes é traduzido como celebrar, mas também significa confessar o Nome de Deus e os próprios pecados (cf.

STRONG’S). Em 1Cr 29,13 há um exemplo da primeira forma a se utilizar esse termo: “Agora, pois, ó nosso Deus, nós te agradecemos (yadah), e louvamos (halal) teu nome glorioso”. A segunda forma de utilização é encontrada em 2Cr 6,26: “Se rezarem neste lugar, louvarem (yadah) teu Nome e se arrependerem de seu pecado...” Portanto, pode ser um agradecimento, bem como, uma confissão da miséria humana e da santidade de Deus.

O terceiro termo que faz referência ao louvor é o Shabach, que é traduzido por louvar e glorificar, mais especificamente, elogiar com a boca, com alta voz, parabenizar as vitórias de Deus, sua força e seu poder (cf. STRONG’S). É uma forma de louvor que proclama a grandeza de Deus frente aos outros deuses. A saber: “Sim, eu te contemplava no santuário, vendo teu poder e tua glória. Valendo teu amor mais que a vida meus lábios te glorificarão (shabach)” (Sl 63,3-4). Este verbo manifesta o desejo de testemunhar a santidade divina.

O Tehillah é o louvor que nasce de uma experiência de encontro com o amor do Senhor. É um louvor que brota do coração e não somente da inteligência. Sua etimologia deriva de halal (cf. STRONG’S). No Salmo 147,1 há aplicação deste termo e expressa o louvor como experiência de gozo na presença de Deus: “Louvai (halal) a Iahweh, pois é bom cantar (zamir) ao nosso Deus – doce [agradável] é o louvor

(tehillah).

O Halal, numa perspectiva lautrêutica, significa gabar, fazer nome, elogiar, ou seja, dar a conhecer as virtudes, a glória de alguém (cf. STRONG’S). É o termo por excelência do louvor, pois é alegre, jubiloso e público, além de indicar a natureza do homem e sua tarefa essencial: louvar a Deus. Com o halal, louva-se a Deus mesmo e pelas coisas do mundo (cf. DI SANTE, 1989, p. 109). O aleluia usado tanto na liturgia judaica como cristã provém desta palavra hebraica. Os salmos 111 a 118 começam com “aleluia” e são cantos elaborados e entoados nas festas da Páscoa, Pentecostes e Tabernáculos (cf. BORN, 1977, p. 109). “Aleluia! Louvai (halal) a Iahweh, nações todas, glorificai-o, todos os povos! Pois seu amor por nós é forte, e sua verdade é para sempre!” (Sl 117)

Para o sacrifício litúrgico de ação de graças, que é uma forma de louvor, o termo usado é Todah. É o chamado sacrifício de louvor (cf. STRONG’S). Como se vê no

Salmo 116, 16-17: “Ah! Iahweh, porque sou teu servo, teu servo, filho de tua serva, rompeste os meus grilhões. Vou te oferecer um sacrifício de louvor (todah), invocando o nome de Iahweh.” É uma forma de louvar a Deus pela salvação operada na vida de alguém.

Por fim, o Barak, que significa abençoar, bendizer. É a primeira forma de oração da bíblia, e

 

Consiste em uma atitude que é, ao mesmo tempo, fórmula de admiração, louvor, agradecimento e reconhecimento da benevolência gratuita de Deus que cuida de seus filhos e os alegra com os frutos da terra e com toda sorte de bens. A expressão da berakah, que com o correr do tempo tornou-se técnica e padronizada é a seguinte: “Sê bendito, Senhor nosso Deus”, com a qual se inicia ou se termina qualquer oração (DI SANTE, 1989, p. 28).

 

Essa admiração expressa a adoração que está implícita na etimologia de barak, pois sua origem faz referência ao ficar de joelhos, o que transparece no Salmo 95, 6:

“Entrai, prostai-vos e inclinai-vos, de joelhos (barak), frente a Iahweh que nos fez!”

A tradição neotestamentária tem sua fonte na tradição do povo de Israel, portanto, ao abordar o louvor no Novo Testamento é preciso ter em mente essa tradição, pois seu sentido é a preparação para a autorrevelação de Deus feita por Jesus Cristo pela ação do Espírito Santo. Jesus se encarnou para levar a Lei à plenitude (cf. Mt 5,17-19).

No Novo Testamento a ocorrência da palavra “louvor” é menor que no Antigo Testamento, há apenas cinco formas, sendo que uma delas, ευχομαι (euxomai), que não se refere a Deus, mas é um louvor e uma exaltação de si mesmo, que se encontra em At 26,29.

As outras quatro formas são referenciadas a Deus, algumas delas são encontradas nos lábios e nos atos de Jesus. No episódio da multiplicação dos pães em Jo 6,11 o termo usado pelo evangelista foi ευχαριστέω (eucharistéo): “Então Jesus tomou os pães, deu graças e os repartiu aos que estavam sentados”, mesmo termo usado nos paralelos deste mesmo relato (Mt 15,36; Mc 8,6), assim como na instituição da eucaristia em Mt 26,27; Mc 14,23; Lc 22,17.19. Esse louvor se assemelha ao Barak do Antigo Testamento, que é a oração de bênção. É o “dar graças”, é ser grato, render graças a alguém ou por algo (cf. RUSCONI, 2003, p. 207-208). São Paulo em 1Cor 11,24, ao fazer o relato mais antigo da celebração da eucaristia após o Pentecostes, faz uso do mesmo termo.

A segunda forma de expressar o louvor que se encontra nos lábios de Jesus é a que se encontra em Lc 10,21: “Naquele momento, ele exultou de alegria sob a ação do Espírito Santo e disse: ‘Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste essas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos’.” e seu paralelo em Mt 11,25. O termo grego utilizado pelo autor é εξομολογέω (exomologéo), que quer dizer louvar, bendizer, reconhecer, confessar, aceitar, professar e proclamar (cf. RUSCONI, 2003, p. 179.).

A terceira forma de expressar o louvor no Novo Testamento não está propriamente nos lábios do Senhor, mas está presente em momentos marcantes como, por exemplo, em Lc 1,63-64, quando Zacarias louva a Deus após dar o nome de seu filho, João Batista. O texto diz: “Pediu uma tabuinha e escreveu: Seu nome é João. Todos se assombraram. Imediatamente a boca e a língua se soltaram e se pôs a falar bendizendo (ευλογέωeulogéo) a Deus.” É o mesmo termo usado no início do cântico do pai do precursor no versículo 68 deste mesmo capítulo: “Bendito o Senhor,

Deus de Israel” (cf. STRONG’S). Este louvor é celebrativo, geralmente traduzido por

“bendito” e suas derivações. Usado também em Mt 21,9, quando Jesus entra em Jerusalém e o povo o aclama: “Bendito é aquele que vem em nome do Senhor”.

Por fim, a última forma é a mais precisa de louvor. Do grego, αινέω (ainéo), que quer dizer exatamente louvar e exaltar alguém por algo (cf. RUSCONI, 2003, p. 25). Vale ressaltar dois momentos expressivos do uso deste termo. Lc 2,20 que narra a volta dos pastores após a visita ao Menino Deus que havia acabado de nascer: “Os pastores voltaram glorificando e louvando (ainéo) a Deus por tudo o que ouviram e viram, tal como lhes havia sido anunciado.” O outro momento está em Ap 19,5, que diz: “Do trono saiu uma voz que dizia: Louvai (ainéo) o nosso Deus, todos os seus servos e fiéis, pequenos e grandes.”

As quatro últimas formas apresentadas de louvor no Novo Testamento são uma continuidade da tradição judaica na Igreja nascente. A partir dessas expressões de louvor será possível compreender o carisma do Louvor de Deus como imitação da vida de Cristo, que viveu em sua vida terrena e vive na eternidade o perfeito louvor ao Pai pela ação do Espírito Santo.

 

 

             2.4.        O carisma do Louvor de Deus

 

 

A partir de agora será abordado o carisma da família religiosa Salvista, que é o Louvor de Deus. Como dito anteriormente, todo carisma é para a edificação da Igreja de Cristo e neste processo de edificação Deus inspira homens e mulheres para fundarem comunidades de consagrados. No caso da família religiosa Salvista, Deus chamou o Servo de Deus Padre Gilberto Maria Defina a ser o seu fundador, que atento à voz do Senhor, fundou a Fraternidade Jesus Salvador em 10 de fevereiro de 1993 e em 17 de setembro de 1994 os Institutos Missionários Servos e Servas de Jesus Salvador, na diocese de Santo Amaro/SP (cf. DEFINA, 2016, p. 141).

O Catecismo da Igreja Católica, em sua última parte, fala sobre a oração cristã, portanto, como deve ser a vida oração de um cristão. Assim apresenta diversas formas de oração que alimentam a espiritualidade de todo batizado, ou seja, maneiras de se encontrar e ter intimidade com Deus. Dentre essas formas há a oração de louvor que é distinta da oração de ação de graças, distinção presente já no Antigo Testamento. Como oração de louvor, a Igreja compreende que,

 

É a forma de oração que reconhece o mais imediatamente possível que Deus é Deus! Canta-o pelo que Ele mesmo é, dá-lhe glória, mais do que pelo que Ele faz, por aquilo que Ele é. Participa da bemaventurança dos corações puros que o amam na fé antes de o verem na Glória. Por ela, o Espírito se associa ao nosso espírito para atestar que somos filhos de Deus, dando testemunho ao Filho único, em quem somos adotados e por quem glorificamos ao Pai. O louvor integra as outras formas de oração e as leva Àquele que é sua fonte e termo final: “o único Deus, o Pai, de quem tudo procede e para quem nós somos feitos” (1Cor 8,6) (CIgC 2639).

 

De acordo com este parágrafo do Catecismo, o louvor acontece mediante uma ação do Espírito Santo no coração do homem, que o associa a Cristo, que é Filho Eterno e, a partir de sua filiação, faz do homem filho adotivo e nesta filiação, por meio do próprio Cristo, o homem rende glória ao Pai por aquilo que Ele é. Por isso, é possível afirmar que o louvor é uma relação do homem com a Trindade.

O Verbo de Deus, “se fez homem e habitou entre nós” (Jo 1,14), e, ao assumir a humanidade também viveu o louvor ao Pai, pela ação do Espírito. Já foi dito acima dos louvores presentes nos lábios e na vida do Senhor Jesus, porém faz-se necessário voltar-se para a passagem de Lc 10,21-22 que diz:

 

Naquele momento, ele exultou de alegria sob a ação do Espírito Santo e disse: “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultastes essas coisas aos sábios e entendidos, e as revelastes aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado. Tudo me foi entregue por meu Pai e ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, e quem é o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelar”.

 

Acerca desta perícope, São João Paulo II na Encíclica Dominum et vivificantem (DV), diz que:

 

Jesus exulta pela paternidade divina: exulta porque lhe foi dado revelar esta paternidade; exulta, por fim, por uma como que irradiação especial da mesma paternidade divina sobre os “pequeninos”. E o Evangelista qualifica tudo isto como uma “exultação no Espírito Santo” (DV 20).

 

Portanto, é correto afirmar que Jesus viveu uma vida no Espírito e o louvor em sua vida se deu da mesma maneira. É o próprio Lucas que, no seu terceiro capítulo, narra a descida do Espírito Santo sobre Jesus no momento de seu batismo, e no capítulo seguinte narra a ida de Jesus para o deserto sob a ação do Espírito.

A oração se fez presente na vida de Jesus, assim Ele é apresentado pelos evangelhos. E dentro destas formas de oração de Jesus são encontradas bênçãos (Jo 6,11), ação de graças (Jo 11,41), intercessão (Lc 22,32), louvor (Lc 10,21), entre outras (cf. IGLH 3).

Os apóstolos e as comunidades fundadas por eles seguiram o mesmo estilo da vida de Jesus, assim relata o autor dos Atos dos Apóstolos ao dizer que eles tinham tudo em comum, a fração do pão, a solidariedade e as orações (cf. At 2,42). Assim como, mais adiante no mesmo capítulo diz: “Diariamente acorriam fielmente e unânimes ao templo; em suas casas partiam o pão, compartilhavam a comida com alegria e simplicidade sincera. Louvavam a Deus e todo o mundo os estimava” (At 2, 47a).

Em outros momentos do Novo Testamento é possível contemplar a imitação que os cristãos faziam do Cristo, como por exemplo, em 1Cor 11,1: “Imitai-me, como eu imito Cristo”, ou em Ef 5,1.19-20, que diz: “Imitai a Deus como filhos queridos. Entre vós entoai salmos, hinos e cantos inspirados, cantando e tocando de coração em honra do Senhor, dando graças sempre e por tudo a Deus Pai, em nome do Senhor nosso Jesus Cristo.” Bem como em 1Pd 2,9: “Mas vós sois raça escolhida, sacerdócio real, nação santa e povo adquirido, para proclamar as proezas daquele que vos chamou das trevas à sua luz maravilhosa.” “Cristo, durante sua vida terrena, foi sacerdote também pela oração de louvor a Deus e de súplica pelos homens” (SARTORE; TRIACCA, 1992, p. 667).

Os primeiros cristãos imitaram Jesus, assim também fez o Servo de Deus Padre

Gilberto Maria Defina quando foi chamado pelo próprio Senhor a fundar a Fraternidade Jesus Salvador. O grande desejo do Padre Gilberto para a família religiosa Salvista é que seus membros sejam imitadores de Cristo na sua vida, doutrina e ação (cf.

CONSTITUIÇÕES, 1998, n. 18). Ao definir o carisma, diz:

 

O carisma do nosso Instituto é o Louvor de Deus, sob todas as suas formas, - a litúrgica, em primeiro lugar -, e como consequência desse Louvor, a procura da santificação pessoal e comunitária, através da consagração ao Espírito Santo, Deus-Amor (CONSTITUIÇÕES, 1998, n. 22).

 

O Servo de Deus apresenta nas Constituições de 1998 os aspectos essenciais do carisma Salvista, são eles: o Louvor de Deus deve produzir saborosos frutos de santidade para a humanidade (cf. n. 2), deve brotar dos corações como pura expressão de gratidão ao Deus-Amor (cf. n. 29), todos os atos e movimentos do consagrado Salvista, seja leigo, religioso ou clérigo devem resumir o Louvor de Deus, e o que não serve para este Louvor deve ser extirpado da comunidade (cf. n. 30), o que leva ao constante Louvor é o desejo de estar com Deus, portanto, a busca do “Único Necessário” (cf. n. 32). Em síntese, “no Louvor de Deus estão implícitos toda a Adoração, o Agradecimento e o Amor que lhe são devidos como Divindade Una e

Trina” (n. 31).

No decorrer da história desta Fraternidade foi necessário adequar as Regras às exigências eclesiais, por isso, neste processo, não só de correspondências às exigências, mas também de crescimento da autoconsciência acerca do carisma por parte dos membros, o III Capítulo Geral, em 2014, mediante às inspirações do Fundador, definiu o carisma da seguinte maneira:

 

O carisma do Instituto é o “Louvor de Deus” sob todas as suas formas, a litúrgica em primeiro lugar e, como consequência deste “Louvor de Deus”, a santificação pessoal e comunitária. Este carisma vivencia em profundidade a dimensão latrêutica, isto é, de louvor, do culto divino. Inspiração fundamental é a atitude do próprio Senhor, que vive eternamente voltado para o Pai. Procuramos centralizar a nossa espiritualidade nessa dimensão, vivida em primeiro lugar na intimidade do coração, em seguida na vida comunitária com as diversas expressões litúrgicas e devocionais e no exercício da missão procurando despertar os cristãos para o “Louvor de Deus”, caminhos seguro para a santidade (CONSTITUIÇÕES, 2014, n. 5).

 

Padre Gilberto, em sua autobiografia, narra como aconteceu a inspiração para o carisma de fundação:

 

Quando comecei a escrever as Constituições, sobre qual carisma deveria reger todas as nossas atividades espirituais e temporais, logo de princípio me veio a ideia de um carisma essencial para o nosso Instituto. Essa ideia foi um presente imenso que Deus colocou em mim para nosso Instituto, apenas lembrei uma palavra da Sagrada Escritura que está no livro do Apocalipse. Essa passagem fala do Louvor de Deus: “Amém. O louvor, a glória e a sabedoria, a ação de graças, a honra, o poder e a força pertencem ao nosso Deus para sempre. Amém” (Ap 7,12) (DEFINA, 2016, p. 160).

 

Este versículo do Apocalipse coloca sete aclamações que querem dizer que

Deus merece a plenitude do louvor por parte de toda a obra da criação (cf. HAHN; MITCH, 2020, p. 86). O louvor perfeito e pleno só se dará na Parusia, quando toda a comunidade de salvos tiver suas vestes alvejadas no Sangue do Cordeiro (cf. Ap 7,1317).

Portanto, o Padre Gilberto, ao ter a inspiração para o carisma Salvista baseouse na imitação de Cristo e na Sagrada Escritura. É notório que, este homem de Deus, ao fundar essa obra, em nada contradisse os ensinamentos da Igreja, quer na Tradição, nas Escrituras ou na doutrina. Antes, uniu todas essas realidades e, sob o influxo do Espírito, colocou o Louvor de Deus como regra de vida e via de santificação e salvação para os membros de sua comunidade, que são, com ele, seguidores do Cristo Jesus.

 

 

2.4.1. Missão e apostolado do carisma Salvista

 

 

Assim como Jesus foi missionário, pois foi enviado pelo Pai (cf. Jo 6, 29.39.44.57), também Ele envia os seus discípulos (cf. Lc 10,1-12; Mt 28, 16-20; Mc 16,15-20). Apoiando-se neste envio missionário feito pelo próprio Senhor, o Padre Gilberto determina que a comunidade fundada por ele seja essencialmente missionária. “Consagrados, iremos às ovelhas perdidas da casa de Israel, a fim de revelar-lhes a salvação de Jesus Cristo. A ação apostólica pertence à própria natureza de nossa família religiosa. Somos, por essência, missionários” (CONSTITUIÇÕES, 1998, n. 21).

Nas Constituições de 1995, o Fundador coloca três colunas de sustentação para a Fraternidade Jesus Salvador. A primeira é a espiritualidade carismática, a segunda são os estudos e os seminários, a terceira é a irradiação missionária, portanto a evangelização (cf. p. 30). Acerca desta última, ele disse:

 

O fogo do Espírito Santo, que Jesus acendeu na terra, não conhece limites nem barreiras; é o fogo abrasador e devorador, e a ordem hoje é esta: “Evangelizar com novo ardor missionário.”

Para tanto, esta Fraternidade quer apetrechar-se de todos os meios e técnicas disponíveis em nossos dias, a partir da Palavra de Deus sussurrada aos ouvidos, até à pregada do alto dos telhados das casas e do alto das montanhas; nos templos, nos recintos, nas ruas, no rádio, na televisão; através dos livros, revistas, periódicos, folhas esparsas (CONSTITUIÇÕES, 1995, p. 33).

 

Mais adiante, na mesma Constituição, Padre Gilberto, afirma que os membros da família Salvista,

 

quanto possam, caminhem os caminhos da evangelização das gentes, quer na Pátria, quer além dela. Aos que assim se sentirem chamados, esta Fraternidade como Igreja que é, dará todo amparo a estes missionários e missionárias. Caminhar como Jesus caminhava cidades, aldeias, vilarejos, pregando a chegada do Reino de Deus: “Eu vim para que as ovelhas tenham vida, e para que a tenham em abundância” (Jo 10,10). “Eu vim lançar fogo à terra, e que mais desejo de que ele se alastre?” (Lc 12,49) (CONSTITUIÇÕES, 1995, p. 118). 

 

O mesmo processo que aconteceu com a formulação do carisma, aconteceu também com o tema da vida missionária e apostólica desta Fraternidade. As Constituições de 2014, no capítulo V, afirmam que o apostolado Salvista quer conduzir a humanidade ao caminho de comunhão e salvação em Cristo (cf. n. 47). Essa condução se dá por meio de um encontro pessoal com Deus, sobretudo na liturgia, momento em que os membros usam de todo esplendor, para levar o povo de Deus à santidade e à perfeição em Cristo.

Para os Salvistas, os pobres, os doentes, as crianças, os jovens, os idosos e as famílias são objeto de urgente evangelização e cuidado apostólico, porém independente da área de atuação do missionário Salvista, o importante é ser instrumento de serviço e expressar a fé, a esperança e a caridade (cf. n. 53). O seu objetivo é estar onde a Igreja está, e onde ela ainda não está, quer fazê-la presente (cf. n. 54).

 

Nosso Instituto, aberto a todo apostolado, consoante o carisma de sua fundação faz do anúncio direto da Palavra de Deus elemento essencial de sua missão. O Instituto quer contribuir de maneira especial, com a catequese, com as missões populares, grupos de oração, retiros espirituais, com os trabalhos de evangelização, com a evangelização através dos meios de comunicação e com todas as outras iniciativas e intenções da Igreja Universal e Particular (CONSTITUIÇÕES, 2014, n. 49).

 

Conclui-se a partir do itinerário deste capítulo que o Louvor de Deus é um carisma inspirado pelo Espírito Santo no coração do Padre Gilberto Maria Defina. Para isso chegar a essa conclusão, fez-se necessário apresentar a concepção bíblica de carisma, como dom dado gratuitamente por Deus, dom este que é para a edificação do Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja.

Somente a partir desse estudo foi possível o entendimento da dimensão eclesiológica de carisma, ou seja, a compreensão da Igreja sobre carisma parte da concepção bíblica. A Igreja não elaborou uma nova concepção, mas ao interpretar a ação do Espírito na história notou que o outro Paráclito estava distribuindo novos dons à humanidade. Estes novos carismas têm o intuito de fazer com que homens e mulheres possam se consagrar a Deus para viver a radicalidade do Batismo e manifestar no mundo algum aspecto da vida de Cristo.

Antes de entrar no carisma do Louvor de Deus foi imprescindível contemplar na Sagrada Escritura o louvor, passando pelo louvor no Antigo Testamento para compreender a mentalidade presente no Novo Testamento, que não é uma ruptura, mas uma continuidade. Tanto na tradição veterotestamentária, como na neotestamentária, o louvor é sempre referenciado a Deus.

Por fim, foi abordado o carisma Salvista, o Louvor de Deus. Este carisma manifesta a face do Cristo que louva o Pai pela ação do Espírito. Os consagrados desta comunidade querem, seguindo as inspirações de seu Fundador, imitar o Cristo e, assim, manifestar esse aspecto do louvor em sua vida. Jesus viveu o louvor, os primeiros cristãos o imitaram e os Salvistas assumiram o louvor como regra de vida e imitam Jesus na atualidade. Manifestam o Louvor de Deus, primeiramente na liturgia e em todas as realidades missionárias, já que são abertos a toda obra de apostolado.

No próximo e último capítulo, será falado justamente da liturgia como lugar privilegiado do Louvor de Deus e como este carisma gera santificação pessoal e comunitária e, por fim, a relação do Louvor de Deus com o céu, ou seja, como o carisma Salvista é manifestação do louvor da Igreja Triunfante e participação na vida eterna.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 3 LOUVOR DE DEUS COMO ANTECIPAÇÃO DO CÉU

 

 

             3.           A liturgia como cume e fonte da vida

 

 

A proposta para este último capítulo é fazer a união entre os dois capítulos antecedentes, para assim, chegar à compreensão do Louvor de Deus como antecipação do céu, no sentido de vivenciar na vida terrena o louvor que será vivido na plenitude durante a eternidade diante de Deus.

Para isso, faz-se necessário entender o espírito litúrgico, já que a liturgia é o lugar privilegiado para o Louvor, como especificado no capítulo anterior. Partindo desse prisma, tornar-se-á compreensível a santificação pessoal e a comunitária que é fruto da vivência do Louvor e, portanto, da relação do Louvor de Deus com o céu.

O Concílio Vaticano II, em seu primeiro documento conciliar, a Sacrosanctum Concilium, propôs a grande reforma litúrgica. O objetivo desta Constituição é a renovação dos ritos, mas com o olhar voltado para a Tradição da Igreja, seja nas Sagradas Escrituras como nos Padres da Igreja. Essa renovação possui o intuito de fazer com que os fiéis participem com mais consciência e fecundidade do Mistério Pascal celebrado (cf. PASSOS; SANCHEZ, 2015, p. 860).

Deus quer salvar a todos (cf. 1Tm 2,4) e nesta vontade salvífica de Deus entra o meio utilizado por Ele para gerar a salvação. O meio por excelência para tal é a liturgia, pois ela é

 

cume para o qual se dirige a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte donde emana toda a sua força. Na verdade, o trabalho apostólico ordena-se a conseguir que todos os que se tornaram filhos de Deus pela fé e pelo batismo, se reúnam em assembleia, louvem a Deus na Igreja, participem no sacrifício e comam a Ceia do Senhor (SC 10).

 

Os Padres conciliares afirmam que “Cristo está sempre presente em sua Igreja” (SC 7). Essa presença se dá sobretudo nas ações litúrgicas, porém, a liturgia não é a única ação da Igreja. Como dito acima, ela é cume e fonte de sua vida. É da liturgia que emana toda ação eclesial e é para ela que deve apontar todo seu apostolado, pois no seu exercício a presidência é sempre do Cristo Cabeça e a participação plena e consciente é confiada ao seu Corpo Místico, a Igreja.

A Igreja, desde que se manifestou ao mundo em Pentecostes, nunca deixou de celebrar o mistério pascal, já que é um mandato do Próprio Senhor: “Fazei isto em minha memória” (Lc 22,19), fazia

 

lendo “tudo quanto nas Escrituras a ele se referia” (Lc 24,27), celebrando a eucaristia na qual “se representa a vitória e o triunfo da morte” e, ao mesmo tempo, dando graças “a Deus pelo seu dom inefável” (2Cor 9,15) em Cristo Jesus, “para louvor de sua glória” (Ef 1,12) por virtude do Espírito Santo (SC 6).

 

A missão da Igreja ao celebrar a liturgia é dar continuidade à obra salvífica de Deus operada em Jesus Cristo, pois o Pai enviou o Filho para salvar e reunir a humanidade dispersa pelo pecado, e este, por sua vez, deu à Igreja a missão de continuar o anúncio da salvação. Por isso, é correto afirmar que a liturgia é momento da história da salvação em ato, porque é realização do mistério de Cristo (cf. FLORES, 2006, p. 303-304).

 

Hoje, a liturgia é também - como o próprio Cristo - um acontecimento de salvação, no qual continua encontrando cumprimento aquele anúncio que, no tempo antigo, a realidade de Cristo prometia. Portanto a liturgia é o momento-síntese da história da salvação, pois engloba “anúncio” e “acontecimento”, isto é, Antigo Testamento e Novo Testamento; mas, sendo a “continuação da realidade”, que é Cristo, seu dever é o de completar, gradualmente, em cada ser humano e na humanidade, a imagem plena de Cristo (MARSILI, 1986, p. 111).

 

A liturgia é, por assim dizer, a maneira mais eficaz de formar Cristo na humanidade, visto que, todo ato litúrgico acontece por meio de Cristo, pela ação do Espírito ao Pai. Ao participar da liturgia, seja dos sacramentos como dos sacramentais, experimenta-se a salvação operada por Deus na história. A liturgia atualiza de forma simbólica o mistério pascal e, nesta atualização, acontece o Louvor de Deus.

O próximo item a ser abordado desenvolverá com maior clareza a liturgia como lugar privilegiado do Louvor de Deus, uma vez que, é na liturgia que Deus é perfeitamente glorificado, pois Cristo associa a si a sua Esposa, que invoca o Esposo para prestar culto ao eterno Pai. Por isso, nada se iguala a liturgia quanto a glorificação de Deus, Uno e Trino (cf. SC 7).

             3.1.       A liturgia como lugar privilegiado do Louvor de Deus

 

 

Na liturgia está implícita a anamnese do Mistério Pascal, portanto, aborda todo o Evento Jesus Cristo, que, por sua vez, não é isolado do Antigo Testamento. Por isso, ao celebrar a liturgia se contempla toda a história da salvação, desde a criação do mundo até os tempos atuais, e se antecipa o schaton. 

Lugar de destaque possui a celebração da Eucaristia quando se fala de anamnese da história da salvação, pois nela Jesus se faz presente sob as espécies do pão e do vinho. Ela será o referencial para a compreensão da liturgia como lugar privilegiado do Louvor de Deus, porque é deste mistério celebrado que surgem todos os outros atos litúrgicos dos sacramentos e sacramentais.

O Catecismo da Igreja Católica nos parágrafos de 1359 a 1361 coloca algumas definições sobre a Eucaristia. A Eucaristia é sacrifício de louvor em ação de graças pela obra da criação, porque no sacrifício eucarístico toda a criação é apresentada ao Pai, por meio da oferta do Filho, pela ação do Espírito Santo. A Igreja só pode oferecer este sacrifício de louvor por meio do Filho que o fez por primeiro no altar da Cruz. Ela também é chamada de sacrifício de ação de graças. É por meio deste sacrifício de louvor e ação de graças que a Igreja canta a glória de Deus.

Como extensão da Celebração Eucarística está a Liturgia da Horas, momento no qual a Igreja,

 

exercendo “sem cessar” a função sacerdotal de sua Cabeça, oferece a Deus um sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que glorificam o seu nome. Esta oração é a “voz da Esposa que fala ao Esposo, e também a oração que o próprio Cristo, unido ao seu corpo, eleva ao Pai” (IGLH 15).

 

A liturgia é obra do Cristo todo (Cabeça e Corpo Místico/Membros) e faz parte do Corpo Místico não só a Igreja militante (batizados que vivem sua vida terrena), mas também a Igreja triunfante (os salvos que já se encontram no céu) e a Igreja padecente (salvos, mas que ainda estão no purgatório) (cf. EP 70).

 

Na liturgia da terra nós participamos, saboreando-a já, da liturgia celeste, que se celebra na cidade santa de Jerusalém, para a qual nos encaminhamos como peregrinos, onde o Cristo está sentado à direita de Deus, qual ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo; com toda a milícia do exército celeste entoamos um hino de glória ao Senhor, e venerando a memória dos santos, esperamos fazer parte da sociedade deles; esperamos pelo salvador, nosso Senhor Jesus Cristo, até que ele, nossa vida, se manifeste, e nós apareceremos com ele na glória (SC 8).

 

A dimensão do Louvor ao Pai, pelo Filho, no Espírito é contemplada em alguns momentos da liturgia de maneira explícita, como na primeira parte do Cânon Romano que aponta: “Pai de misericórdia, a quem sobem nossos louvores, nós vos pedimos por Jesus Cristo, vosso Filho e Senhor nosso, que abençoeis estas oferendas apresentadas ao vosso altar” (MISSAL ROMANO 80). O Pai é quem acolhe a oferta, o Filho é o mediador e a própria oferta, o Espírito é quem abençoa. Outro momento é a Oração Eucarística IV, que diz:

 

Olhai, com bondade, o sacrifício que destes à vossa Igreja e concedei aos que vamos participar do mesmo pão e do mesmo cálice que, reunidos pelo Espírito Santo num só corpo, nos tornemos em Cristo um sacrifício vivo para o louvor da vossa glória (MISSAL ROMANO 122).

 

A que o povo aclama: “Fazei de nós um sacrifício de louvor!”. Um terceiro exemplo, e que é usado em toda liturgia eucarística é a doxologia ao final de qualquer oração eucarística. A doxologia apresenta veementemente a forma como se dá o Louvor na liturgia: “Por Cristo, com Cristo, em Cristo, a vós, Deus Pai todo-poderoso, na unidade do Espírito Santo, toda honra e toda glória, agora e para sempre” (MISSAL ROMANO 124).

Nas Constituições de 1998, o Servo de Deus Padre Gilberto expõe motivos pelos quais o Louvor de Deus acontece primeiro na liturgia. O “Louvor de Deus deve ser, antes de tudo, o louvor litúrgico” (n. 35), pois o dever e a salvação do Salvista estão constituídos no sacrifício de louvor, na contínua adoração e na ação de graças (cf. n. 43). Diz ainda que, a família Salvista se dirige toda para a glória de Deus e para o seu Louvor (cf. n. 58). Durante a vida terrena o melhor lugar para expressar a glória de Deus é a liturgia, por isso, os membros desta Fraternidade devem usar de todo esplendor litúrgico (cf. n. 200). Ao celebrar a Liturgia da Horas une-se a oração pessoal com a oração de Jesus, especialmente com os Salmos, também rezados pelo

Senhor, assim, “como Igreja tributamos a Deus o louvor em nome de toda a criação, e participamos da intercessão que o Filho apresenta ao Pai no Espírito” (n. 222).

O Diretório de liturgia e piedade Salvista, ao discorrer sobre esse assunto, afirma que o Louvor de Deus se dá na liturgia “nos momentos de adoração e intercessão comunitária, transborda no pastoreio do Povo de Deus, ao se colocar em prática a ação apostólica e missionária” (DIRETÓRIOS, 2021, n. 3). Portanto, em todos os atos litúrgicos é vivido o Louvor de Deus, não apenas na liturgia da Santa Missa, embora esta seja a fonte de todas as outras liturgias. A vida deve ser vista como uma liturgia (cf. CIgC 1070) e a liturgia é louvor.

O Prefácio Comum IV, que diz: “Ainda que nossos louvores não vos sejam necessários, vós nos concedeis o dom de vos louvar. Eles nada acrescentam ao que sois, mas nos aproximam de vós, por Jesus Cristo, vosso Filho e Senhor nosso” (MISSAL ROMANO 72), sustenta essa dimensão da liturgia como ato de Louvor e além disso concilia o Louvor com vida de intimidade com Deus. Aqui se torna ainda mais compreensível que o Louvor se dá de forma privilegiada na liturgia, pois ambas realidades, tanto o Louvor como a liturgia são caminho de glorificação e união com Deus. E desta glorificação provém a santificação pessoal e comunitária (cf. SC 7). O Papa Francisco comentando este prefácio na Catequese sobre a oração de louvor diz que “ao louvar somos salvos” (https://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/ 2021/documents/papa- francesco_20210113_udienza-generale.html).

 

 

             3.2.       Santificação pessoal e comunitária fruto do Louvor de Deus

 

 

Como foi dito anteriormente, todo carisma é para a edificação do Corpo Místico de Cristo. O Louvor de Deus é um carisma inspirado pelo Espírito Santo, logo é um dom que vem de Deus. Toda obra realizada por Deus no coração do homem gera santificação, por isso, o Louvor gera uma santificação pessoal que atinge não só quem louva, mas também a comunidade em que está inserido.

No tópico anterior foi abordada a Liturgia como lugar privilegiado para o Louvor de Deus. A partir disso pode-se compreender também a santificação que é fruto do Louvor, pois, já que a Liturgia é o ápice do Louvor e tem por objetivo a glorificação de Deus e a santificação da humanidade. Todos os outros momentos em que se vive esse carisma santifica a si mesmo e a comunidade, porque viver o carisma é viver no Espírito e na busca da santidade.

A Constituição Sacrosanctum Concilium apresenta de forma singular esse processo de santificação por meio da Liturgia. Toda a Liturgia, seja dos sacramentos ou dos sacramentais é um caminho para ir ao encontro de Deus.  Nos atos litúrgicos,

“Deus é perfeitamente glorificado e os homens são santificados”, nenhuma outra obra eclesial possui eficácia maior que as celebrações litúrgicas (cf. n. 7). A liturgia impele os fiéis a viverem uma vida de união perfeita (cf. Mt 28,20) com o Senhor (cf. n. 10), esta união perfeita nada mais é que a santidade de vida. Quanto mais se celebra, mais se louva, quanto mais se louva, mais se santifica, porque celebrar é louvar a Deus por ser Deus e por sua obra salvífica na história da humanidade.

 

Da liturgia, portanto, e particularmente da eucaristia, como de uma fonte, corre sobre nós a graça, e por meio dela conseguem os homens com total eficácia a santificação em Cristo e a glorificação de Deus, a que se ordenam como a seu fim todas as outras obras da Igreja (SC 10).

 

Porém, se faz necessária a disposição interior do fiel, em razão da liberdade dada por Deus ao homem desde a sua criação. Deus só santifica através da liturgia e do louvor aqueles que estão dispostos a aderir ao projeto de salvação oferecido por Deus. Caso contrário, Deus não pode, não por perder a sua onipotência, mas por respeitar a liberdade humana, realizar a santificação e a salvação. À medida que se é santificado, louva a Deus.

 

A liturgia dos sacramentos e dos sacramentais permite que a graça divina, que promana do mistério pascal da paixão, morte e ressurreição de Cristo, do qual recebem sua eficácia todos os sacramentos e sacramentais, santifique todos os acontecimentos da vida dos fiéis que os recebem com a devida disposição. De tal forma que todo uso honesto de coisas materiais possa ser dirigido à santificação do homem e ao louvor de Deus (SC 61).

 

No Dicionário de Ascética e Mística, conota que,

 

o santo sacrifício da missa contribui, por todos os seus efeitos, para a nossa santificação; e isto como tanto mais eficácia quanto é certo que nele não oramos só, senão unidos à Igreja toda e sobretudo ao Chefe invisível da mesma Igreja, a Jesus sacrificador e vítima que, renovando a sua oblação do Calvário, pede pela virtude do seu sangue e pelas súplicas que nos sejam aplicadas as suas satisfações e méritos (TANQUEREY, 2017, p. 171).

 

O Dicionário de Liturgia também afirma que na Liturgia se realiza de forma simbólica a ação sacerdotal de Cristo que justamente é o seu culto ao Pai, pela ação do Espírito Santo. O culto de Cristo exprime a sua santidade (cf. SARTORE; TRIACCA, 1992, p. 644). Na liturgia essa santidade atinge o coração daquele que celebra com a devida disposição e o santifica. Portanto, o louvor do Filho ao Pai se torna o louvor daquele que se une a Ele para celebrar a Liturgia.

Padre Gilberto desde a época da fundação sempre colocou a santificação pessoal e comunitária como consequência do Louvor de Deus. É notório que ele não criou algo novo, mas apenas transformou em objetivo de vida aquilo que a Igreja afirmou nos documentos do seu Magistério. Se um membro sofre, todo o corpo sofre, da mesma forma, se um membro é honrado, todo corpo também é honrado (cf. 1Cor 12,26). Com base nesse pensamento paulino é possível afirmar que quando um membro do corpo se santifica pela vivência do Louvor, ele santifica todo o corpo.

 

O louvor de Deus necessariamente santifica a quem o louva: é um corolário teológico. E quanto maior e mais constante a louvação que alguém lhe tribute, maiores serão as graças e os favores derramados; maior, mais sublime e mais elevada é a santificação dessa pessoa e dessa comunidade (CONSTITUIÇÕES, 1998, n. 44).

 

O Papa Francisco na Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate que fala do chamado à santidade, ao abordar o tema da vida em comunidade, que é intrínseca ao cristianismo, descreve o caminho a percorrer para alcançar a santidade comunitária.

 

A comunidade é chamada a criar aquele “espaço teologal onde se pode experimentar a presença mística do Senhor ressuscitado”. Partilhar a Palavra e celebrar juntos a Eucaristia torna-nos mais irmãos e vai nos transformando pouco a pouco em comunidade santa e missionária (GE 142).

 

Outrora, com base no Catecismo da Igreja Católica, foi dito que o Louvor é o reconhecimento daquilo que Deus é. São Paulo na 1Cor 12 afirma que só se pode confessar que Jesus é Senhor pela ação do Espírito Santo. Logo é correto afirmar que viver no Louvor é viver no Espírito. Quem vive no Espírito vive uma vida na santidade apoiado na graça de Deus (cf. Gl 5,16-26).

Aqui é plausível falar novamente da imitação de Cristo, pois Ele veio revelar à humanidade a face do Pai (cf. Jo 14,9), o Pai que é o Santo, logo, o Filho é Santo. Ao imitar o Filho, imita-se a sua santidade, não por força própria, mas pela ação da graça dada pelo Pai, através do Filho, pela ação do Espírito (cf. LACOSTE, 2014, p. 16081609). O ser humano só alcança a santidade quando se abre livremente para a graça de Deus. Graça que Deus quer dar a todos, pois todos são predestinados à salvação (cf. Rm 8,29-30; Ef 1, 1-11), porém é necessária a adesão a esse projeto de Deus.

A este respeito, o Fundador dos Salvistas, diz que:

 

A transformação em nossas vidas, que o Pai e o Filho operam em nós, é-nos dada através do Espírito Santo. E podemos dizer com toda a segurança teológica que agora, desde o nosso batismo sacramental quando crianças, tudo quanto recebemos do mesmo Pai e do mesmo Filho, só nos advém das operações de seu Espírito Santo. Tudo quanto pedimos ao Pai Eterno e a seu Filho Eterno, Jesus Cristo, passa-nos só através do Espírito Santo (CONSTITUIÇÕES, 1995, p. 28).

 

Na sua autobiografia, afirma que, o Louvor é uma forma de se entregar completamente a vontade de Deus que é a santificação. “Se quisermos ser santos, temos que louvar a Deus, porque através do louvor nos santificamos e santificamos a comunidade em que estamos vivendo” (DEFINA, 2016, p. 161-162). Por isso, convoca seus seguidores a existirem louvando a Deus:

 

Nossa própria existência é um louvor continuado na santidade de Deus. A nossa vida constantemente fala do Louvor de Deus [...] No Louvor de Deus tudo se encontra e é nele que vamos permanecer na misericórdia, na feliz eternidade, louvando constantemente a Deus. Para isso fomos criados por Deus, para a glória do seu louvor (cf. Ef 1,14). O Louvor de Deus é uma coisa tão profunda que recolhe todas as coisas que pensamos de Deus (DEFINA, 2016, p. 162-163).

 

O carisma Salvista faz parte da Igreja Católica e, desta maneira, está em plena comunhão com ela. Assim sendo, aguarda ansiosamente a vinda gloriosa de Cristo. Enquanto isso, na vida temporal, os membros desta comunidade buscam a santidade de vida, que assim como a santidade da Igreja é imperfeita (cf. LG 48), até que haja novos céus e nova terra (cf. 2Pd 3,13) onde viverão a santidade e o Louvor em sua plenitude e perfeição, formando assim a comunidade dos salvos em comunhão com todos os homens e mulheres que buscaram a santificação em sua peregrinação terrestre.

 

 

             3.3.        O Louvor de Deus como antecipação do céu

 

 

Diante de tudo que foi exposto cabe uma pergunta: qual a relação do Louvor de Deus, enquanto carisma e regra de vida dos Salvistas, com o céu e com a eternidade? Esta é a pergunta que será respondida neste último item. Obviamente, não é possível esgotar a teologia sobre o Louvor e sobre o céu, mas como que às apalpadelas é possível tocar no mistério revelado mediante a autocomunicação de Deus sobre o seu Reino (cf. At 17,26-28). Todo o itinerário percorrido nesta dissertação foi para dar base para responder a pergunta acima.

A alma humana tem sede de Deus e deseja o Deus vivo, seu grande anseio é estar na presença de Deus, enquanto vive sua vida terrena louva a Deus aguardando a contemplação da face do Senhor (cf. Sl 42). O céu, que é a eternidade junto de Deus, é o sentido da vida humana, e o louvor é um caminho seguro para este encontro. Este é também o pensamento de Santo Agostinho, que diz:

 

“Grande és tu, Senhor, e sumamente louvável: grande a tua força, e a tua sabedoria não tem limite”. E quer louvar-te o homem, esta parcela de tua criação; o homem carregado com sua condição mortal, carregado com o testemunho de seu pecado e com o testemunho resistes aos soberbos; e, mesmo assim, quer louvar-te o homem, esta parcela de tua criação. Tu o incitas para que sinta prazer em louvarte; fizeste-nos para ti, e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em ti (SANTO AGOSTINHO, 2020, p. 16).

 

A essência do Louvor na vida terrena em nada se diferencia do Louvor vivenciado no céu pela comunidade dos salvos. A única diferença é que no céu este Louvor é pleno e perfeito, pois não está limitado pelas vicissitudes humanas. Através do louvor terreno a humanidade participa da alegria do louvor perene e do dia que não tem ocaso, ou seja, da louvação da Igreja celeste. Assim afirma a Instrução Geral sobre a Liturgia das Horas:

 

Mediante o louvor tributado a Deus nas Horas, a Igreja se associa àquele hino de louvor que se canta por todo o sempre nas habitações celestes. Ao mesmo tempo antegoza daquele louvor celeste descrito por João no Apocalipse e que ressoa initerruptamente diante do trono de Deus e do Cordeiro. Nossa íntima união com a Igreja celeste realiza-se efetivamente quando, “em comum exultação, cantamos os louvores à divina majestade, e todos, redimidos no sangue de Cristo, vindo de toda tribo, língua, povo e nação (cf. Ap 5,9), congregados numa só Igreja, num só cântico de louvor, engrandecemos ao Deus Uno e Trino (IGLH 16).

 

Desde a fundação da Fraternidade Jesus Salvador, o Servo de Deus Padre Gilberto associou o carisma do Louvor de Deus com o louvor cantado pelos santos nas moradas celestes. Por isso, ao colocar a acolhida, a unção na evangelização e a alegria como tripé na regra de vida da comunidade diz que a “alegria já é entendida como resultado desse louvor, que gera em nós uma espécie de antegozo celestial, verdadeiro gozo no Espírito Santo de Amor que nos envolve, inebria e impele” (CONSTITUIÇÕES, 1998, n. 372).

Como dito anteriormente, a passagem bíblica que inspirou o carisma no coração do Fundador foi Apocalipse 7,12, mas há muitas outras passagens deste mesmo livro que fala do louvor na eternidade. Entre elas: Ap 4, 6-11, que relata o louvor dos 4 seres vivos e dos 24 anciãos; Ap 19, 1-4, que traz o louvor de uma numerosa multidão pela justiça de Deus; Ap 7,12 que junto a 14, 1-5 apresentam o louvor dos salvos. Outras duas passagens dessa Revelação merecem um pouco mais de atenção, são elas:

 

Em minha visão ouvi ainda o clamor de uma multidão de anjos que circundavam o trono, os Viventes e os Anciãos – seu número era de milhões de milhões e milhares de milhares – proclamando, em alta voz: “Digno é o Cordeiro imolado de receber o poder, a riqueza, a sabedoria, a força, a honra, a glória e o louvor.” E ouvi toda criatura no céu, na terra, sob a terra, no mar, e todos os seres que neles vivem, proclamarem: “Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro pertencem o louvor, a honra, a glória e o domínio pelos séculos dos séculos!”  (Ap 5, 11-13).

 

 

Saiu do trono uma voz, convidando: “Dai louvores ao nosso Deus, vós todos, seus servos, e vós que o temeis, os pequenos e os grandes!” Ouvi depois como que o rumor de uma grande multidão, semelhante ao fragor de águas torrenciais e ao ribombar de fortes trovões, aclamando: “Aleluia! Porque o Senhor, o Deus Todo-poderoso passou a reinar! Alegremo-nos e exultemos, demos glória a Deus, porque estão para realizar-se as núpcias do Cordeiro, e sua esposa já está pronta: concederam-lhe vestir-se com linho puro, resplandecente” – pois o linho representa a conduta justa dos santos (Ap 19, 5-8).

 

O primeiro texto fala do louvor de toda a criação ao Senhor e ao Cordeiro, o segundo texto é um convite explícito a todos os servos e tementes a Deus a louvá-Lo por seu reinado que será estabelecido. Fato interessante é que a adoração e o louvor dados ao Senhor são demonstração da submissão de toda a criação ao Senhorio de Deus (cf. CORSINI, 1984, p. 333).

Padre Gilberto, em uma matéria na edição 25 de 1998 do Jornal Uma Nova Unção relatou que formava os membros da comunidade para que tivessem “os pés na terra, mas o coração no céu”. O que isso quer dizer? Quer dizer que ele sempre quis mostrar que o Louvor de Deus vivido aqui é reflexo do louvor na eternidade.

Santo Agostinho no Comentário aos Salmos, de forma particular no Sermão ao Povo do salmo 148, faz belíssima explicação sobre o louvor eterno que começa na vida terrena.

 

Decorra a vida presente no louvor de Deus, porque a eterna alegria de nossa vida futura será o louvor de Deus. Ninguém será idôneo para a vida futura, se de certo modo agora não se exercitar para isso. Agora, portanto, louvamos a Deus, mas também lhe suplicamos. Nosso louvor é alegria, nossa oração é gemido. Foi-nos prometido algo que ainda não possuímos; sendo veraz o Senhor que prometeu, alegramonos na esperança; entretanto, não tendo ainda o objeto de nossa esperança, gememos cheios de desejos. É bom perseverar nesses anelos, até que venha o que foi prometido, passe o gemido, suceda apenas o louvor (SANTO AGOSTINHO, 1998, p. 595).

 

Só viverá o louvor eterno quem tiver vivido o louvor terreno. Por isso, faz-se necessário se empenhar para a vivência deste louvor. Já aqui, deve-se reconhecer aquilo que Deus é para que na eternidade faça isso na perfeição e plenitude, porque no céu não haverá nada que possa limitar o louvor.

O Santo de Hipona ressalta que, este louvor não é realizado apenas por meio de palavras. O louvor deve abarcar todo o ser humano, sua consciência, sua vida e suas ações, portanto, o louvor não é apenas externo, mas brota do coração e atinge o ser humano em sua integralidade. Não se louva apenas no tempo em que se está na igreja e nas celebrações, mas em todo o tempo se deve viver e proclamar os louvores de Deus. Os santos e os seres celestes não cessam de louvar a Deus. Enquanto o homem estiver no cativeiro da vida presente deve louvar a Deus imitando o louvor que acontece na Jerusalém Celeste, visto que, no céu é que deve estar o seu coração (cf.

SANTO AGOSTINHO, 1998, p. 595-597). 

A Liturgia católica é dentre tantas definições a expressão da fé, isto é, a fé rezada. A oração conclusiva de uma das horas canônicas do Ofício Divino resume em forma de súplica, o que neste último tópico foi tratado, o louvor terreno é preparação, antecipação do louvor eterno. A saber: “Senhor nosso Deus, fonte de salvação, fazei que o testemunho de nossa vida exalte sempre a vossa glória e mereçamos cantar nos céus vosso louvor eternamente” (LITURGIA DAS HORAS, p. 976).

Conclui-se, diante de tudo o que foi abordado neste capítulo, que a Liturgia é de fato cume e fonte de toda a vida cristã, pois pela Liturgia Cristo se faz presente em meio ao seu povo até que Ele volte gloriosamente para estabelecer novos céus e nova terra. Por meio da Liturgia a Igreja dá continuidade à obra salvífica de Deus operada através de Cristo pela ação do Espírito. A Liturgia forma Cristo na humanidade.

Na Liturgia é atualizado o Mistério Pascal, que faz memória de toda a história da salvação, por isso é considerada como lugar privilegiado para o Louvor de Deus, pois celebra o sacrifício de louvor oferecido por Cristo ao Pai no Espírito Santo. Toda Liturgia, seja dos sacramentos ou sacramentais, faz memória e torna presente o sacrífico de Jesus. Portanto, toda Liturgia é um exercício do Louvor de Deus, mas há momentos mais expressivos que manifestam o Louvor de Deus, são eles: orações de coleta, prefácios, bênçãos, orações eucarísticas, doxologia, liturgia das horas, adoração aos Santíssimo Sacramento, orações de intercessão.

Para o Servo de Deus Padre Gilberto, o melhor lugar para expressar a glória de Deus é na Liturgia, uma vez que é o próprio Filho de Deus que manifesta a glória do Pai. Ao celebrar qualquer ato litúrgico, o Salvista se une ao Filho de Deus para louvar ao Pai no Espírito. Por isso, afirma que, o Louvor é de Deus, isto é, Deus é quem louva através dos seus imitadores.

O objetivo da Liturgia é, sobretudo, a perfeita glorificação de Deus e a santificação do homem. Neste processo de união a Jesus na Liturgia é gerada no coração do homem a santificação pessoal, que, consequentemente, gera a santificação comunitária, dado que quando um membro do Corpo Místico de Cristo se santifica, ele santifica todo o Corpo. Obviamente, Deus não santifica ninguém se não houver disposição interior ao celebrar os mistérios de Cristo numa atitude de Louvor. Deus santifica pela ação do Espírito Santo, porque quer que todos sejam salvos.

O ponto fulcral de todo este trabalho é tornar compreensível que, o Louvor de Deus é uma antecipação do céu. Por esse motivo, foi necessário trilhar todo este caminho para, enfim, compreender que o Louvor de Deus é reflexo do louvor da eternidade. É uma forma de viver na terra o que os santos vivem e viverão por toda a eternidade junto de Deus Uno e Trino. Na peregrinação terrena, o Louvor ainda é imperfeito por causa das limitações humanas, mas no céu, o louvor é pleno e perfeito. Padre Gilberto tinha total clareza que na vocação Salvista se experimenta o antegozo celestial, porque vive na terra o que a comunidade dos salvos vive no céu. O Louvor de Deus une aquele que louva com Aquele que é louvado, pois o que leva o Salvista a este constante louvor é o desejo de estar unido à Trindade e, assim, participar de sua vida.

Só viverá o louvor pleno, perfeito e eterno diante de Deus e do Cordeiro, quem estiver disposto a vivê-lo no cativeiro da vida presente com a totalidade do seu ser, pois o céu, isto é, estar com Deus, é o sentido da vida humana e do Louvor de Deus, pois o homem foi criado por Deus e adotado no Cristo para o louvor e para a glória de sua graça na terra e no céu (cf. Ef 1, 3-10).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CONCLUSÃO

 

 

Diante de todo o itinerário percorrido ao longo deste trabalho monográfico é possível concluir que, o carisma do Louvor de Deus é, de fato, um dom dado gratuitamente pelo Espírito para a edificação e santificação do Corpo Místico de Cristo, isto é, a Igreja. Se o Louvor de Deus, sendo graça do Espírito, santifica quem louva e a comunidade na qual está inserido, ele prepara para o céu, para a comunhão na comunidade dos salvos que louvam e louvarão a Deus pelos séculos sem fim.

Para alcançar o céu, que é a comunidade dos salvos em plena comunhão com a Trindade, é preciso durante a vida terrena buscar a santidade. Aqueles que nesta vida buscam corresponder ao chamado à santidade realizado por Deus, começam, por assim dizer, a caminhar em direção à vida eterna junto de Deus, que é o fim último de toda a criação. Deus é o céu para quem o alcança, o purgatório para aqueles que precisam ser purificados para estar na presença de Deus por toda a eternidade, e o inferno para os que decidiram livremente viver longe de Deus.

Porém, para se chegar a qualquer um destes destinos é preciso passar pela morte, que a partir da morte de Jesus ganha novo e verdadeiro sentido. Deus criou a humanidade para estar com Ele na eternidade e a morte é a passagem para este encontro glorioso. Neste encontro glorioso acontecerá o juízo particular que, determinará o destino da alma imortal. As almas que forem para o purgatório aguardarão a sua purificação para entrar no céu. Todos, mortos e vivos, aguardam a Parusia, momento em que acontecerá o juízo universal, para que a sentença definitiva seja pronunciada pelo Senhor e os salvos serão ressuscitados pelo Senhor.

A communio sanctorum vive em uma atitude de Louvor eterno e os Salvistas, ao viverem o seu carisma, querem, de acordo com as inspirações de seu Fundador, imitar Jesus em tudo, de forma particular, no seu Louvor ao Pai no Espírito Santo.

Deste modo, imitando Jesus aqui na terra, na Liturgia e na vida, se unirão com Ele e com todos os seus anjos e santos no céu, para se associarem aos seus louvores, plena e perfeitamente, e, assim, proclamar a glória de Deus por toda a eternidade, onde viverão felizes no Reino que para todos Ele preparou.

 

 

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A LIBERDADE E LOUVOR DE DEUS COMO FIM ÚLTIMO DO HOMEM

    INSTITUTO SUPERIOR DE FILOSOFIA E TEOLOGIA SÃO BOAVENTURA     DANIEL RIBEIRO DE ARAÚJO                   ...