sábado, 24 de março de 2012

Senhor, para que o teu Louvor seja perfeito: Livra-nos do mal


“Senhor, para que o teu Louvor seja perfeito: Livra-nos do mal”


                      O Mal é uma realidade, e como traz o Catecismo da Igreja Católica, por trás da desobediência dos primeiros pais está o Mal, não apenas uma opção egoísta gerada pela liberdade, mas é preciso ver que há um Mal que precede o pecado, que se torna a voz sedutora que leva os primeiro pais a pecar (cf. CIgC n. 391).
                      O Mal pode ser analisado de diversas maneira e de diversos modos, e na História aconteceram debates acalorados sobre sua origem e a relação de Deus com a existência do Mal. Aqui não é o lugar de entrarmos nesse debate, porém com relação ao Carisma do “Louvor de Deus” é preciso entendê-lo com relação ao Mal, pois se afinal fomos criados para a Glória de Deus, como vai dizer Santo Irineu, a Glória de Deus é o homem vivo, como já foi analisado o Louvor de Deus é a Caridade, é preciso entender que o Mal, a opção absoluta por não Deus, é o oposto à Glória de Deus e que levou os primeiro pais a pecarem, que tenta cada ser humano e está por trás das opções malignas do ser humano, levando-o a abusar da própria liberdade e que com a hipocrisia e o com o orgulho a ela relacionado impede o pecador a saída de um estado de pecado mortal, torna-se uma verdadeira cegueira (cf. Mt 23, 16).
                      Para não nos delongarmos, quais as características atribuídas pela Doutrina Católica ao Mal, aqui entendido como os anjos caídos:
1 - Rejeição radical e livre a Deus: Satanás e os demônios são anjos criados bons em sua natureza, mas que optaram pelo mal em liberdade pura, mal que consiste na rejeição radial e irrevogável a Deus (cf. CIgC n. 391-392);
2 – Anjos que pecaram: Tais anjos pecaram “Ora, se Deus não poupou anjos quando pecaram, antes, precipitando-os no inferno, os entregou a abismos de trevas, reservando-os para juízo”;[1]
3 – Querer ser igual a Deus para ter todo o poder: A tentação é colocar no coração do seres humanos que eles serão deuses (cf. Gn 3,5), numa visão de ter poder e conhecimento (como experiência) do bem e do mal. O demônio não é deus, é criatura, por isso seu poder não é infinito, pois Deus não tem opositor, tanto que a Tradição coloca São Miguel Arcanjo como aquele que depõe do céu Satanás e seus anjos (cf. Ap 12, 7-12), mas o demônio julga ser igual a Deus (cf Ap 13, 4) e quer seduzir o ser humano na mesma mentira. A ação do Mal é permitida pela Divina Providência para dessa ação tirar um bem maior (Cf. CIgC n. 395).;
4 – Mentiroso e tem a Deus como opositor: Como o mentiroso desde o princípio (cf. Jo 8, 44), coloca Deus como mentiroso e opositor ao ser humano ao afirmar com relação ao fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, que Deus sabe que quando dela comer os humanos serão tão poderosos como ele, insufla no coração humano o orgulho de ver a Deus como opositor e a não submissão como criatura (cf. Gn 3,4-5);
5 – Homicida e desobediente: Nessa mesma perspectiva o demônio é homicida desde o princípio (cf. Jo 8, 44), pois quer a morte do ser humano, morte como o desviar este mesmo ser humano da obediência a Deus, a fonte da Vida;
6 - Dominação sobre o ser humano: Pelo pecado o demônio tem uma certa dominação sobre o homem, embora este último permaneça livre, através dos exorcismos Jesus liberta os homens desse domínio, antecipando a grande vitória de Jesus sobre o príncipe deste mundo (cf. CIgC n. 407, 550, Lc 8, 26-39).

                      Deus quer seus filhos livres de todo mal, como pedimos em cada oração do Pai-Nosso, esse mal não é uma abstração, mas é uma pessoa, Satanás, o Maligno (cf. CIgC 2851), por isso o livrar do Mal é essencial ao “Louvor de Deus”, o caminhar para uma verdadeira liberdade para que nossa vida louve a Deus é o destino de todo o ser humano. Portanto, diante daquilo que o Maligno é, o inverso é uma posição de Louvor de Deus:

1. Opção radical e livre por Deus: O ser humano para viver uma vida de verdadeiro Louvor de Deus e livre de todo o Mal deve ter no fundo do seu coração uma opção de raiz por Deus, que brota de um querer livre, embora muitas vezes falamos como São Paulo: “Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço” (Rm 7, 19), mas se no nosso coração há uma opção por Deus estamos caminhando para a Libertação e é isso que importa, nesse querer a graça de Deus vai sempre nos ajudar. Lembrando sempre que também esse querer é graça, e devemos pedi-la;
2. Somos pecadores: e sendo pecadores, ao contrário dos anjos caídos, devemos assumir essa condição, jogar fora a máscara da hipocrisia que nos quer convencer que somos santos e assim sendo pecadores sabemo-nos dependentes da graça de Deus;
3. “Somos servos de Deus” (Rm 6, 22), assumindo que somos dependentes de Deus é a chave para a liberdade e para a vida se tornar um verdadeiro Louvor de Deus.
4. Sermos verazes e ter a Deus como o nosso maior amigo. A verdade nos libertará sempre (cf. Jo 8, 32), por isso aquele que quer ser livre do mal deve sempre primar por essa verdade a partir do próprio interior, e assim apresentar-se a Deus e assim, na verdade, ter a Deus como um verdadeiro amigo como Jesus assim nos quer: “Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer” (Jo 15, 15). Ter uma visão correta de Deus como nosso aliado nessa vida, como nos é apresentado por Moisés: “E, passando o Senhor por diante dele, clamou: Senhor, Senhor Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade”[2], é esse Deus amigo, amoroso e próximo que nossa vida quer Louvar.
5. Ser humano a favor da vida e obediente: Na medida em que temos a Deus como fonte de nossa vida, sempre queremos mais e mais vida, e também para aqueles que nos circunda nós queremos essa vida. Os pensamentos de morte devem ser banidos de nosso coração e saber que dobrando nosso joelho diante do Senhor Jesus essa vida e esse pensamento de vida vem a nós e lembrar que a Glória de Deus, o verdadeiro Louvor de Deus, é o homem vivo. “O ladrão vem somente para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”.[3]
6. “É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1): essa palavra de São Paulo deve ser um lema daquele que vive e contempla o carisma do “Louvor de Deus”, a liberdade é a base para louvar, e às vezes pela nossa visão frágil achamos que Deus quer-nos tristes e acabrunhados, Deus quer filhos Livres e que o Espírito de Deus nos liberte de todo Mal para que nossa vida seja um Louvor sem cessar ao Deus que nos ama.



[1]Sociedade Bíblica do Brasil. (2003; 2005). Almeida Revista e Atualizada - Com Números de Strong (2Pe 2:4). Sociedade Bíblica do Brasil.
[2]Sociedade Bíblica do Brasil. (2003; 2005). Almeida Revista e Atualizada - Com Números de Strong (Êx 34:6). Sociedade Bíblica do Brasil.
[3]Sociedade Bíblica do Brasil. (2003; 2005). Almeida Revista e Atualizada - Com Números de Strong (Jo 10:10). Sociedade Bíblica do Brasil.

O Espírito Santo: o Mestre interior protagonista do Louvor de Deus


“O Espírito Santo: o Mestre interior protagonista do Louvor de Deus”

            São Paulo, no início da Primeira Carta aos Coríntios, vai dizer que “anunciamos Cristo crucificado que para os judeus, é escândalo, para os gentios é loucura” (1 Cor 1, 24). Para uma comunidade orgulhosa de seus carismas, que valorizava o espetáculo da ação atribuída ao Espírito Santo, São Paulo apresenta o Cristo, o Ungido, o Portador do Espírito, como crucificado. Esse crucificado se torna escândalo para os judeus, uma vez que é maldito aquele que é dependurado no madeiro (cf. Gl 3,13, citando Dt 21, 23), no pensamento dos judeus, o Ungido não poderia ser um maldito, o canal para chegar até Deus não poderia ser um morto dependurado num madeiro, se tornando assim um escândalo para os judeus. Por outro lado, o Cristo crucificado é loucura para os gentios, para uma cultura que valorizava o belo, o harmônico e o perfeito, um homem fraco, sujo e machucado, condenado num madeiro não poderia ser sinal de salvação, mas de loucura, ou numa outra visão, uma total insensatez, uma vez que este Ungido não poderia ser instrumento de Deus para a salvação, o feio ou o imperfeito é loucura visto como instrumento de Deus.
            Diante disso, às vezes nos colocamos na visão do judeu da carta aos Coríntios e temos a cruz como um escândalo ou no lugar dos gentios não aceitamos o feio e o desarmônico como instrumento da graça de Deus. São Paulo coloca que é o Messias, o Cristo, crucificado é que anunciamos. Portanto, é esse Ungido que anunciamos, aquele que pelo sofrimento doou o Espírito a cada um de nós.
            O objetivo de toda a espiritualidade verdadeiramente cristã é Cristo vivendo em nós (cf. Gl 2, 20), e isso é obra do mesmo Espírito que o levou pelo caminho do sofrimento. Nessa perspectiva, o Espírito é que nos Cristifica, agora não podemos esperar que o mesmo Espírito que levou Nosso Senhor Jesus Cristo à cruz e à ressurreição, que o levou pelo caminho da fraqueza até a ressurreição, não podemos pensar em ir por outra via.
            Por isso, devemos estar abertos ao Espírito que nos leva para o deserto para os embates interiores e exteriores (cf. Mt 4, 1-11) para nos preparar para uma verdadeira via de Cristificação, quanto mais somos crucificados com Cristo (cf. Gl 2, 20), mais o Espírito age em nós ou melhor sabemos que mais o Espírito age em nós, quanto mais somos crucificados com Cristo. Nesse processo é preciso ter a consciência que é na fraqueza que somos fortes (2 Cor 12, 10), não que idolatrássemos a fraqueza e numa autocomiseração sem fim ficássemos lambendo nossas feridas e nos refestelando com elas num masoquismo doentio, isso seria orgulho puro, porém é na fraqueza nos abrimos ao Espírito, e experimentamos aquele que é chamado na sequência de Pentecostes como o “Pai dos Pobres”, por essa via, cada ato que fizermos teremos a certeza plena que vem do Espírito Santo e não de nosso orgulho de criatura.
            Portanto, não existe Louvor de Deus, atos e palavras que louvam verdadeiramente a Deus, fora do Espírito Santo. Ele é o protagonista dessa “opus laudante”.
            Porém, o Cristo crucificado é loucura para os gentios que buscam avidamente por sinais. Será que não está na hora de vermos o Espírito Santo agir nas curas? Com certeza. Mas será que não está também na hora de vermos o Espírito Santo agindo nos sinais do Cristo, do Ungido, do Portador do Espírito, crucificado? Agora é o Kairós, o momento oportuno. Diante desse mundo, que quer maravilhas a todo instante, que tem sede de beleza física, de pessoas fortes, as ditas “saradas”, cremos que está na hora de vermos a ação do Espírito nas fraquezas, nas fragilidades humanas, a medida que tais fragilidades são assumidas pela criatura humana e abertas à graça de Deus, como canais privilegiados da ação do Espírito Santo, isso sim, na etimologia do “sarado”, salvas, tais pessoas movidas pelo Espírito podem ter verdadeiramente compaixão pelo próximo. O Espírito Santo é o protagonista do Louvor de Deus, o Mestre Interior que guia a criatura humana para sua Cristificação, mas tem que passar pela Cruz, e passar pela Cruz não é sofrer mais do que já sofremos, mas cristificar nossas feridas e fraquezas, inclusive nossa afetividade machucada e ferida. Que a beleza suprema seja que nossas feridas um dia, unidas ao Ungido Crucificado, pelo Espírito Santo, sejam gloriosas como as Dele hoje é. Que assim o Louvor de Deus cresça em nós sem cessar. 

A LIBERDADE E LOUVOR DE DEUS COMO FIM ÚLTIMO DO HOMEM

    INSTITUTO SUPERIOR DE FILOSOFIA E TEOLOGIA SÃO BOAVENTURA     DANIEL RIBEIRO DE ARAÚJO                   ...