quarta-feira, 2 de setembro de 2015

FILAUTOS

“Sabe, porém, isto nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis,  pois os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes...” (2 Tm 3, 1-2)

Filautos (φιλαυτος)

            São Paulo ao escrever a Timóteo, na segunda carta, diz que nos últimos dias os homens terão vários vícios e maldades, e o primeiro, o frontispício dessa séria é ser egoísta, em grego filautos, amar (fileo) a si mesmo (autós). Esse egoísmo, amor exagerado a si mesmo, é uma marca da sociedade atual e os cristãos são marcados por essa mesma característica, muitas vezes fazendo do filautos base do seu próprio caráter.
            Vocacionados somos ao seguimento de Jesus. Por isso, somos chamados sim, a esvaziar-nos a nós mesmos para ir ao encontro da necessidade do outro tendo os mesmo sentimentos de Jesus que obviamente o egoísmo não fazia parte desses sentimentos (cf. Fp 2). Ao seguir Jesus somos chamados a renegar a nós mesmos e carregar a cruz no seguimento do mesmo (cf Mc 8, 34). Esse esvaziamento e sofrimento unidos a Cristo é salvação, não há outro caminho de salvação para o cristão senão esse.
            Porém, o ser humano idolatra o próprio umbigo, como São Paulo criticava os cristãos advindos do judaísmo que se orgulhavam da circuncisão e do cumprimento da lei, e tinham por deus o próprio ventre (cf. Fp 3, 19). E muitos querem ter um Cristianismo vivido nessa perspectiva e querem transformar o filautos em regra de vida de comunidade cristã.
            Por exemplo o sonho (ou pesadelo!) seria assim:
            1. Uma comunidade deve ser construída na visão de alguns em torno dos próprios interesses, de tal modo que minha visão de vida e futuro profissional deve ser assegurada pela comunidade. Por isso, vou procurando e conduzindo minhas decisões em torno desse ideal de vida, do filautos, e trabalharei para que as decisões comunitárias também convirjam para esse meu “santo” filautos.
            2. Deus, os anjos e santos, o clero e os leigos, estão a meu serviço. Minha oração é sempre na primeira pessoa e vou utilizando-os de acordo com minha necessidade criada e insuflada, necessidade falsa que eu crio e a denomino como necessidade, mas nada mais é do que o sustento de uma criança mimada que quer evidência social a qualquer custo. Como uma criança, gritamos “esse brinquedo é meu!” e queremos transformar as pessoas em brinquedos para nossas vidas.
            3. A missão cristã não passa de uma grande Torre de Babel, e em nome de um projeto comum que dizemos ser o Reino de Deus, porém é construído na injustiça, e que tem como único objetivo: “Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até aos céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra” (Gn 11, 4). O objetivo é maravilhoso uma torre que chegue até o céu, chegar mais perto de Deus! Porém a intenção é clara, que o nosso nome se evidencie, que o nosso nome seja invocado como benfeitores da humanidade, que sejamos como deuses! É o amor exagerado a si mesmos (filautos) chegando ao seu cume. Como muitas bandas ou cantores cristãos que se colocam como evangilizadores porém querem mesmo a evidência plena de uma vaidade eterna e a remuneração financeira e afetiva correspondente (cf. Vergonha para a música católica -  https://www.youtube.com/watch?v=8GyGJktQj1A – E o pronunciamento de Dom Aviz -   http://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2015/08/cardeal-de-confianca-do-papa-critica-postura-de-padres-cantores-no-brasil.html).
            4. A rainha é sempre a hipocrisia pois tudo é feito sob a aparência do bem, como a grande crítica de Jesus aos hipócritas, podem jejuar, orar ou dar esmolar, enquanto o bem for feito em torno do aparecer, de uma vaidade maldita, do próprio umbigo, será sempre uma obra má, a intenção corrompe o ato, como diz a Moral Católica (cf. Mt 6).

            Por isso, o brado sempre deve ser que a glória e o Louvor de Deus deve prevalecer e assim nos libertar do filautos e o resto deve ser considerado como lixo ou perda (cf. Fp 3, 7 – 8). Um antídoto para isso é rezar sempre:

non nobis Domine non nobis sed nomini tuo da gloriam
Salmo 113, 9 (115, 1).

           

           


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