quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Castidade como Louvor de Deus


Castidade como Louvor de Deus


Considerando que a nossa vida deve ser um Louvor de Deus, é “conditio sine qua non” que esta vida louve a Deus através de pensamentos e atitudes castas, como no dizer do Catecismo da Igreja Católica: “A castidade significa a integração da sexualidade na pessoa. Inclui a aprendizagem do domínio pessoal”  (n. 2395). Então para que haja um Louvor de Deus casto, a pessoa em seus atos deve viver sua doação total de forma integra (n. 2337), mas o que significa isso? O ser humano quando ama deve se doar totalmente e não ter o mínimo interesse instrumentalizante do outro, obviamente dentro da vocação a qual foi chamado seja no celibato ou no casamento. Por isso, quando amamos alguém o nosso olhar, gestos, fala, deve estar despojado de qualquer intenção de tornar o outro apenas um fator de satisfação de meus instintos egoístas. Mas há imaturidades em nós na área da castidade, então o que fazer? O princípio é entender nossos apegos, os rompimentos feitos na vida e que deixaram carências, a consciência cada vez maior dessas carências nos vai dar o autodomínio que fala o Catecismo. Autodomínio não nasce de uma mentalidade sado-masoquísta ou de negação do corpo, mas do autoconhecimento como diz Santa Teresa de Jesus em seus escritos. O conhecimento da nossa educação afetivo-sexual, principalmente    a nível simbólico, conhecer como a criança que há em nós foi educada nos vai dando a segurança necessária. Quanto mais conhecemos nossa insegurança afetiva, sempre na graça de Deus, vamos nos tornando seguros para verdadeiramente nos doar aos outros. Alguém poderia levantar o problema, se eu for esperar a resolução de meus problemas quando poderei ter um relacionamento sadio? A perfeição só na ressurreição final de nosso corpo. Por isso, é necessário a cada relacionamento, com cada pessoa, ir conhecendo nossas opções e intenções, essa é a vigilância tanto propalada nos Evangelhos. Porque o ser humano, não pode viver sozinho, e a amizade faz parte do crescimento de uma castidade verdadeira, como traz o Catecismo: “A virtude da castidade desabrocha na amizade. Mostra ao discípulo como seguir e imitar Aquele que nos escolheu como seus próprios amigos, se doou totalmente a nós e nos faz Participar de sua condição divina. A castidade é promessa de imortalidade. A castidade se expressa principalmente na amizade ao próximo. Desenvolvida entre pessoas do mesmo sexo ou de sexos diferentes, a amizade representa um grande bem para todos e conduz à comunhão espiritual” (n. 2347). Os Padres da Igreja já alertavam que uma castidade que endurecesse o coração não seria uma castidade do Reino dos Céus, a castidade deve nos dispor e ensinar a ter amizades verdadeiras, com doação verdadeira. Por outro lado, não podemos ter atitudes de tornar o outro um instrumento em nossas mãos. Jesus pelas suas atitudes demonstra ser uma pessoa que tem amizades verdadeiras e que acolhe a demonstração afetiva das outras pessoas. Como no caso da pecadora na casa de Simão, o fariseu: “E eis que uma mulher da cidade, pecadora, sabendo que ele estava à mesa na casa do fariseu, levou um vaso de alabastro com ungüento; e, estando por detrás, aos seus pés, chorando, regava-os com suas lágrimas e os enxugava com os próprios cabelos; e beijava-lhe os pés e os ungia com o ungüento” (Lc 7, 37-38). [1] Jesus elogia a atitude da mulher, que orienta exclusivamente pelo arrependimento, como demonstração deste e de seu amor, externaliza-o afetivamente. A castidade é efetiva, porque se externaliza por atos de doação e é afetiva, porque é através do afeto que sua doação se realiza. Jesus acolhe a atitude afetiva dessa pecadora e em público, não se restringe pelo medo, Jesus não se importa com o fariseu, muito pelo contrário, Jesus cobra do fariseu sua frieza no acolhimento. Também por ter uma atitude totalmente unificada Jesus não tem porque se esconder dos olhos humanos. E por fim sentencia “Por isso, te digo: perdoados lhe são os seus muitos pecados, porque ela muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama” (Lc 7, 47) a demonstração do amor da pecadora expressa o seu total arrependimento. Concluindo o coração da pecadora se unifica ao ir afetivamente ao encontro de Jesus que perdoa, e este tem um coração uno o bastante para acolhê-la. Qual seria nossa atitude, tanto no lugar de Jesus ou da pecadora? Outros exemplos de demonstração afetiva pode ilustrar a castidade como louvor de Deus. O acolhimento do Pai ao filho que se extraviou não é formal, mas se expressa assim: “E, levantando-se, foi para seu pai. Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou, e, compadecido dele, correndo, o abraçou, e beijou” (Lc 15, 20). Jesus também acolhe e abraça crianças, novamente sua atitude é casta, pública e acolhedora, e repreende quem o impede de acolher as crianças:
“Depois disso, algumas pessoas levaram as suas crianças a Jesus para que ele as abençoasse, mas os discípulos repreenderam aquelas pessoas. 14 Quando viu isso, Jesus não gostou e disse:
— Deixem que as crianças venham a mim e não proíbam que elas façam isso, pois o * Reino de Deus é das pessoas que são como estas crianças. 15 Eu afirmo a vocês que isto é verdade: quem não receber o Reino de Deus como uma criança nunca entrará nele. 53
16 Então Jesus abraçou as crianças e as abençoou, pondo as mãos sobre elas.”[2]
Jesus novamente acolhe, abençoa e impõem as mãos sobre as crianças, e repreende aqueles que impedem as crianças de irem até ele. Novamente, seus atos são públicos, castos e são bênção para quem vem até Ele, é uma atitude unificada e unificante. E nos convida a sermos como crianças, porque delas é o Reino dos Céus.
Por outro lado, também, Jesus condena a afetividade dúbia de Judas Iscariotes, que com o coração dividido pela ganância e pela traição, utiliza-se de um ato de amor, como o beijo, para entregar Jesus (cf. Lc 22, 48). Por fim, com toda a interpretação teológica que possa ser feita, o contexto é a pergunta sobre quem é o traidor, o fato afetivo é muito bem esclarecido no contexto da ceia, a qual se celebrava reclinado:
Ora, z um de seus discípulos, aquele a quem Jesus amava, estava reclinado no seio de Jesus.
24 Então, Simão Pedro fez sinal a este, para que perguntasse quem era aquele de quem ele falava.
25 E, inclinando-se ele sobre o peito de Jesus, disse-lhe: Senhor, quem é?
Cada um pode ter uma visão de castidade, mas Jesus é o modelo perfeito em tornar nossos atos castos que louvam a Deus, construindo verdadeiras amizades, porque a única intenção que temos é a doação que Ele mesmo fez (cf. Jo 13, 31). Esses atos se tornam louvor de Deus, porque aproximam o ser humano de outros seres humanos e de Deus, são atos verdadeiramente castos e por conseqüência verdadeiramente amorosos.


[1]Sociedade Bíblica do Brasil: Almeida Revista E Atualizada - Com Números De Strong. Sociedade Bíblica do Brasil, 2003; 2005, S. Lc 7:39


[2]Sociedade Bíblica do Brasil: Nova Tradução Na Linguagem De Hoje. Sociedade Bíblica do Brasil, 2000; 2005, S. Mc 10:16

[3]Sociedade Bíblica do Brasil: Almeida Revista E Corrigida. Sociedade Bíblica do Brasil, 1995; 2005, S. Jo 13:25

4 comentários:

  1. Gostei do texto.
    A gente percebe que vem de um coração embebedecido com a Palavra.
    Uma dúvida:
    Por que não usar uma bíblia católica?

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  2. Caro Pe. Micael,

    Gostamos muitíssimo do seu texto. Gostaríamos de repubicá-lo no nosso blog, Juventude Coragem. Você permitiria?

    Juventude Coragem

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