sábado, 30 de abril de 2011

“Pobreza como Louvor de Deus”


“Pobreza como Louvor de Deus”

“...não me dês nem a pobreza nem a riqueza; dá-me o pão que me for necessário” (Pr 30, 8)


            Jesus se fez pobre, esvaziou-se (Fp 2, 7), e com isso, pela sua própria carne e em seus atos louvou a Deus. A pobreza nos faz buscar a insondável riqueza de Cristo (Ef 3, 8).
            O que Deus quer de cada um de nós não é uma pobreza negativa, uma pobreza que nos priva do necessário para viver, essa pobreza não é vontade de Deus. Essa pobreza não louva a Deus. A vontade de Deus é que haja uma pobreza positiva, que como a frase acima, tenhamos o pão, aquilo que é necessário para vivermos e assim buscar o Único necessário, que é o próprio Deus (cf. Lc 10, 42).
            A pobreza não é somente naquilo que se refere a dinheiro, mas também tudo aquilo que buscamos como recompensa, é buscar a glória própria, a fama, tudo aquilo que de um modo ou de outro seria querer a atenção de outro, dominar através da aparência. A ostentação é um mal, e nunca um coração que queira atrair a atenção de outro por bens materiais pode ser um coração que louva, pois suas obras brotam de uma intenção de atrair a atenção para si e não para Deus.
            O coração pobre, os pobres em espírito (cf. Mt 5, 3), são aqueles que no seu espírito vivem a pobreza, e sua única riqueza é o Reino de Deus.
            Um exemplo é:
“Assim também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer” (Lc 17, 10).
            A palavra inútil, é achreios, do grego que significa aquilo que é inútil, ou que não satisfaz nenhuma necessidade humana.
            Interessante que a única menção dessa palavra na tradução grega do Antigo Testamento (LXX), é:
“Ainda mais desprezível me farei e me humilharei aos meus olhos; quanto às servas, de quem falaste, delas serei honrado” (2 Sm 6, 22).
            Traduzindo o se humilhar (hebr. Shaphal), é por achereios, Davi dança sem parar perante a arca louvando o Senhor. Micol sua esposa o despreza, dizendo que ele fez um papel ridículo perante os servos, e Davi responde que ele pode ser um achereios, um inútil, mas sua vida louva a Deus, e ele colocará sua força nisso.
            Mas, como escolher? Como tomar decisões que sejam pobres? Afinal, hoje vivemos num mundo cuja tecnologia nos propicia coisas, e muitas coisas a preço extremamente barato. O que é ser pobre num mundo, no qual um telefone celular dispõe comunicação automática, a um preço pequeno, comparado a dez anos atrás isso era impossível. O que é ser pobre?
            A pobreza deve estar ligada a obra de amor que louva a Deus. Esse é o fato concreto, tudo o que é ostentação, seja na beleza, ou também na falsa humildade, é ir contra a pobreza.
            Por exemplo, um missionário na África vive sua pobreza, e ele deve dispor dos meios necessários para sua sobrevivência e para bem exercer sua missão, seja que meios forem. Se há a possibilidade de que ele tenha um jipe, repito se há, e até disponham para este missionário, por exemplo através de benfeitores, uma Land Rover, que pode chegar a custar até R$ 132.000,00, se há um benfeitor que faça isso, isso não vai contra a pobreza, pois esse automóvel servirá para auxiliar pessoas, em todas as suas dimensões,  agora uma pessoa em São Paulo, um missionário que cria necessidade para ter um automóvel desse é ostentação.
            Outro exemplo, será que se vive pobreza não cuidando da saúde, dando tudo aos pobres, cuidando deles e não cuidando da própria saúde, isso vai contra a pobreza, é o que se chama pobreza negativa e nesse caso uma pobreza burra, pois se não há força como cuidar de outros. Um São Pedro Canísio que reenvagelizou a Alemanha, comia por três, mas trabalhava e andava por um número muito maior que três.
            Então, a pobreza deve ser avaliada pelo Louvor que ela prestará a Deus, pesando todas as dimensões da vida humana, a física, psíquica e religiosa. Nessa escolha:
- deve-se evitar tudo o que seria ostentação, e ver a utilidade do bem na missão, seja que missão for, inclusive do leigo no mundo;
- ter sempre a frente uma hierarquia de prioridades, e pedir a luz do Espírito Santo, para hierarquizar segundo a pobreza e a utilidade da missão;
- nunca criar necessidades, para justificar a posse de bens;
- em tudo pedir conselhos, buscar a obediência, para orientar-se nas escolhas.
             A pobreza deve ser Louvor de Deus, seja na conversão de pessoas na missão ad gentes ou seja no cuidado dos pobres, e não na ostentação ou numa falsa humildade que também seria ostentação. Afinal, a pobreza deve viver o princípio básico, “A verdade vos libertará” (Jo 8, 32).

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