“Só
um coração reto louva a Deus”
O carisma do “Louvor de Deus” são obras que brotam da
graça de Deus derramada no coração humano (cf. Rm 5, 5) e que proclamam a
santidade de Deus e levam outros a reconhecer que Deus é Deus, não obras
hipócritas que brotam da carne (cf. Gl 5) e só servem para louvar a quem as
fez.
Para que haja uma obra que louva a Deus ela deve brotar
de um coração reto. A reta intenção é algo que surge de uma consciência formada
na graça e na liberdade, é algo mais precioso que um ser humano tem.
“Mas o juízo se converterá em justiça, e segui-la-ão todos os de coração reto” (Sl 94, 15).
Mesmo para uma pessoa como Davi que pecou e muito, Salomão, seu filho
reconhece que houve retidão em seu coração:
“Respondeu Salomão: De grande benevolência usaste para com teu servo
Davi, meu pai, porque ele andou contigo em fidelidade, e em justiça, e em retidão de coração, perante a tua
face; mantiveste-lhe esta grande benevolência e lhe deste um filho que se
assentasse no seu trono, como hoje se vê” (1 Rs 3, 6).
“Bem-aventurados
os que guardam a retidão e o que pratica a
justiça em todo tempo” (Sl 106, 3).
“O
Senhor julga os povos; julga-me, Senhor, segundo a
minha retidão e segundo a
integridade que há em mim” (Sl 7, 8).
O
que é retidão? Retidão é seguir a verdade, na Sagrada Escritura foi vista de
modo concreto como o Caminho do Senhor (cf. Sl 18, 21; Sl 138, 5), que é reto,
por isso seguir o Senhor é seguir a retidão do seu caminho.
Tudo
isso é muito belo, e é, porém somos pecadores e como encarar tudo isso? Afinal
de contas pecamos, e nos desviamos do caminho do Senhor. Nesse momento,
lembro-me de uma palestra do Frei Elias Vela e este dizia que há um ser pecador
bom e um ser pecador mau. O mau é aquele que peca e simplesmente não toma a si
a culpa e continua no seu pecado numa consciência anestesiada e simplesmente
continua numa jornada de desconhecimento de si e se impõe aos outros. O pecador
bom é o que deveria ser cada um de nós, reconhece a potencia pecaminosa que há
em cada um de nós e reconhecendo assim permite que a graça de Deus aja, como no
dizer de São Paulo: “Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: que Cristo
Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou
o principal” (1 Tm 1, 15).
Mas
há um verdadeiro veneno, uma droga poderosa que anestesia as consciências e faz
o ser humano pensar que é santo, gabar-se de não ter pecado e continuar a se chafurdar
na lama e ainda achar que isso é normal, a hipocrisia, que faz lobos transvestir-se
de ovelhas, para na ilusão pensar que está tudo bem. Droga poderosa que quer a
todo custo quer anestesiar a caminhada da cruz, e a exemplo de Jesus que
recusou a mirra deveríamos recusá-la (cf. Mc 15, 23).
Há
um hipócrita, como já foi dito em outras postagens, que é o rigorista, esse
quer garantir a qualquer preço sua imagem de santidade, por isso não reconhece
em si erro algum, e sempre a exemplo de Adão quer culpar a Eva pelos seus
próprios erros: “Então, disse o homem: A mulher
que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi” (Gn 3, 12). Essa
figura é aquele eclesiástico que tendo parte com satanás explora sexualmente
homens, mulheres ou crianças, e fingindo ser um bom pastor diz que as amava. É
o pervertido que explora prostitutas a noite e as chama de “vangabundas” nas
esquinas durante o dia, por que jamais teria parte com tais “pecadoras”. Tem um
discurso absolutamente impecável, com palavras sempre bem pesadas e de um
português castiço, para ocultar a própria corrupção. Não pode-se dizer “mentira”,
mas “faltou-se com a verdade”. O politicamente correto levado às últimas
consequencias para encobrir a ladroagem. A imagem é tudo, mas não pode-se viver
para sustentá-la a qualquer custo. Não há retidão de alma, mas uma tentativa de
mostrar que na aparência há para outros veem, mas como diz Jesus o Pai que tudo
vê, vê o coração pútrido do hipócrita e este receberá sua recompensa (cf. Mt 6,
18).
Há
o hipócrita laxista, para este tudo é permitido, a seu ver ele não peca, e se o
outro concede a seus desejos não há pecado, porque o outro quis. Esse hipócrita
gaba-se de pecar e incentiva os outros a pecar. A sua regra é a malícia, uma
habilidade sem fim para ver em tudo o que há de mal, seja nos relacionamentos,
nas atitudes, na fala dos outros. A sua consciência está petrificada pelo mal,
por isso ele vê em tudo sob esta ótica, e critica quem não vê dessa forma: “Acautelai-vos
por vós mesmos, para que nunca vos suceda que o vosso coração fique sobrecarregado
com as conseqüências da orgia, da embriaguez e das preocupações deste mundo, e
para que aquele dia não venha sobre vós repentinamente, como um laço”. (Lc
21, 34) Destorce-se o versículo no qual Jesus dirigindo-se aos mestres da lei
diz que as prostitutas e os publicanos vos precederão no Reino de Deus (cf. Mt
21, 31), por estes reconheceram-se pecadores, e esse reconhecimento somente
brotar de um coração reto e não de um coração embevecido do pecado e que não
quer de modo algum largar um procedimento errôneo e se converter.
E
como sair dessas situações, pois se nos preocupamos em sair do pecado pelo
esforço, podemos nos tornar um rigorista, se trabalhamos a compreensão podemos
ser laxistas conosco e com os outros. O segredo é um só, se há um coração que
busca a retidão, a verdade, sempre há esperança, se a pessoa é traiçoeira, e
aprendeu a ser assim, dissimulada, mentirosa, mas luta contra isso porque quer
descobrir a verdade, há esperança. Se a pessoa tem uma sexualidade
completamente desregrada, cai e levanta muitas vezes, mas se há uma busca que
brota de um coração reto há esperança. Mas se há fechamento, um coração fechado
que não aceita a verdade, a correção e não quer saber de autoconhecer-se, se
ouvirá a frase de Jesus dita a Judas: “E, após o
bocado, imediatamente, entrou nele Satanás. Então, disse Jesus: O que pretendes
fazer, faze-o depressa” (Jo 13, 27). Jesus viu que a liberdade chegou
ao fim, Judas se fecha totalmente no seu desejo de entregar o mestre, perdeu-se
na própria liberdade, por isso deixa-o livre, por isso diz que faça o que tem
que ser feito, não há mais exortação, não há mais palavras ou conselhos a serem
ditos, Judas já tomou sua decisão e é entregue a sua própria decisão. Da mesma
forma cada um de nós é livre para tomar suas decisões e podemos nos perder
nelas, principalmente fechando-se a tudo o que o Senhor coloca em nossa vida e
tomamos decisão baseada nos desejos de nossa própria carne.
Por isso,
é só rezando. E o que?
“Senhor,
eu sou um pecador, mas tenho medo de cair nos enlaces de minhas decisões, de
meus dramas mentais nos quais eu me faço de vítima e quero culpar a todos e a
Vós pelas minhas fraquezas e pecados e decisões que brotam delas. Renuncio a
toda autojustificação que quer a todo custo manter a própria imagem. Renuncio a
culpar quem quer que seja pelas minhas decisões pecaminosas. Renuncio a
manipular ou instrumentalizar pessoas, mesmo que eu tenha sofrer muito com
minha própria solidão. Renuncio a toda malícia, toda habilidade para praticar o
mal, para encobrir o mal feito, a todo orgulho em pecar e fazer os outros
pecarem. Renuncio a toda autocomiseração culposa, a toda reivindicação e murmuração
que só chamam atenção sobre feridas criadas e aparentes para encobrir o mal em
mim. Por isso, Senhor, como uma ovelha machucada apresento a vós minhas feridas,
cura-as e quero sair da vida de pecado na qual vivo. Apresento minhas decisões
e peço que pelo teu Santo Espírito mostre a verdadeira intenção que está por trás
de cada decisão que tomo, das quais brotam olhares, palavras e atos. Que haja
um reta intenção nas decisões que tomo, para que no dia do Santo Juízo Final
não haja em mim qualquer tipo de medo de me apresentar diante de vós e de meus
irmãos. Amém”.