quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

“Só um coração reto louva a Deus”


“Só um coração reto louva a Deus”

            O carisma do “Louvor de Deus” são obras que brotam da graça de Deus derramada no coração humano (cf. Rm 5, 5) e que proclamam a santidade de Deus e levam outros a reconhecer que Deus é Deus, não obras hipócritas que brotam da carne (cf. Gl 5) e só servem para louvar a quem as fez.
            Para que haja uma obra que louva a Deus ela deve brotar de um coração reto. A reta intenção é algo que surge de uma consciência formada na graça e na liberdade, é algo mais precioso que um ser humano tem.
Mas o juízo se converterá em justiça, e segui-la-ão todos os de coração reto” (Sl 94, 15).
Mesmo para uma pessoa como Davi que pecou e muito, Salomão, seu filho reconhece que houve retidão em seu coração:
“Respondeu Salomão: De grande benevolência usaste para com teu servo Davi, meu pai, porque ele andou contigo em fidelidade, e em justiça, e em retidão de coração, perante a tua face; mantiveste-lhe esta grande benevolência e lhe deste um filho que se assentasse no seu trono, como hoje se vê” (1 Rs 3, 6).
“Bem-aventurados os que guardam a retidão e o que pratica a justiça em todo tempo” (Sl 106, 3).
“O Senhor julga os povos; julga-me, Senhor, segundo a minha retidão e segundo a integridade que há em mim” (Sl 7, 8).
O que é retidão? Retidão é seguir a verdade, na Sagrada Escritura foi vista de modo concreto como o Caminho do Senhor (cf. Sl 18, 21; Sl 138, 5), que é reto, por isso seguir o Senhor é seguir a retidão do seu caminho.
Tudo isso é muito belo, e é, porém somos pecadores e como encarar tudo isso? Afinal de contas pecamos, e nos desviamos do caminho do Senhor. Nesse momento, lembro-me de uma palestra do Frei Elias Vela e este dizia que há um ser pecador bom e um ser pecador mau. O mau é aquele que peca e simplesmente não toma a si a culpa e continua no seu pecado numa consciência anestesiada e simplesmente continua numa jornada de desconhecimento de si e se impõe aos outros. O pecador bom é o que deveria ser cada um de nós, reconhece a potencia pecaminosa que há em cada um de nós e reconhecendo assim permite que a graça de Deus aja, como no dizer de São Paulo: “Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal” (1 Tm 1, 15).
Mas há um verdadeiro veneno, uma droga poderosa que anestesia as consciências e faz o ser humano pensar que é santo, gabar-se de não ter pecado e continuar a se chafurdar na lama e ainda achar que isso é normal, a hipocrisia, que faz lobos transvestir-se de ovelhas, para na ilusão pensar que está tudo bem. Droga poderosa que quer a todo custo quer anestesiar a caminhada da cruz, e a exemplo de Jesus que recusou a mirra deveríamos recusá-la (cf. Mc 15, 23).   
Há um hipócrita, como já foi dito em outras postagens, que é o rigorista, esse quer garantir a qualquer preço sua imagem de santidade, por isso não reconhece em si erro algum, e sempre a exemplo de Adão quer culpar a Eva pelos seus próprios erros: “Então, disse o homem: A mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi” (Gn 3, 12). Essa figura é aquele eclesiástico que tendo parte com satanás explora sexualmente homens, mulheres ou crianças, e fingindo ser um bom pastor diz que as amava. É o pervertido que explora prostitutas a noite e as chama de “vangabundas” nas esquinas durante o dia, por que jamais teria parte com tais “pecadoras”. Tem um discurso absolutamente impecável, com palavras sempre bem pesadas e de um português castiço, para ocultar a própria corrupção. Não pode-se dizer “mentira”, mas “faltou-se com a verdade”. O politicamente correto levado às últimas consequencias para encobrir a ladroagem. A imagem é tudo, mas não pode-se viver para sustentá-la a qualquer custo. Não há retidão de alma, mas uma tentativa de mostrar que na aparência há para outros veem, mas como diz Jesus o Pai que tudo vê, vê o coração pútrido do hipócrita e este receberá sua recompensa (cf. Mt 6, 18).
            Há o hipócrita laxista, para este tudo é permitido, a seu ver ele não peca, e se o outro concede a seus desejos não há pecado, porque o outro quis. Esse hipócrita gaba-se de pecar e incentiva os outros a pecar. A sua regra é a malícia, uma habilidade sem fim para ver em tudo o que há de mal, seja nos relacionamentos, nas atitudes, na fala dos outros. A sua consciência está petrificada pelo mal, por isso ele vê em tudo sob esta ótica, e critica quem não vê dessa forma: “Acautelai-vos por vós mesmos, para que nunca vos suceda que o vosso coração fique sobrecarregado com as conseqüências da orgia, da embriaguez e das preocupações deste mundo, e para que aquele dia não venha sobre vós repentinamente, como um laço”. (Lc 21, 34) Destorce-se o versículo no qual Jesus dirigindo-se aos mestres da lei diz que as prostitutas e os publicanos vos precederão no Reino de Deus (cf. Mt 21, 31), por estes reconheceram-se pecadores, e esse reconhecimento somente brotar de um coração reto e não de um coração embevecido do pecado e que não quer de modo algum largar um procedimento errôneo e se converter.
E como sair dessas situações, pois se nos preocupamos em sair do pecado pelo esforço, podemos nos tornar um rigorista, se trabalhamos a compreensão podemos ser laxistas conosco e com os outros. O segredo é um só, se há um coração que busca a retidão, a verdade, sempre há esperança, se a pessoa é traiçoeira, e aprendeu a ser assim, dissimulada, mentirosa, mas luta contra isso porque quer descobrir a verdade, há esperança. Se a pessoa tem uma sexualidade completamente desregrada, cai e levanta muitas vezes, mas se há uma busca que brota de um coração reto há esperança. Mas se há fechamento, um coração fechado que não aceita a verdade, a correção e não quer saber de autoconhecer-se, se ouvirá a frase de Jesus dita a Judas: “E, após o bocado, imediatamente, entrou nele Satanás. Então, disse Jesus: O que pretendes fazer, faze-o depressa” (Jo 13, 27). Jesus viu que a liberdade chegou ao fim, Judas se fecha totalmente no seu desejo de entregar o mestre, perdeu-se na própria liberdade, por isso deixa-o livre, por isso diz que faça o que tem que ser feito, não há mais exortação, não há mais palavras ou conselhos a serem ditos, Judas já tomou sua decisão e é entregue a sua própria decisão. Da mesma forma cada um de nós é livre para tomar suas decisões e podemos nos perder nelas, principalmente fechando-se a tudo o que o Senhor coloca em nossa vida e tomamos decisão baseada nos desejos de nossa própria carne.
Por isso, é só rezando. E o que?
“Senhor, eu sou um pecador, mas tenho medo de cair nos enlaces de minhas decisões, de meus dramas mentais nos quais eu me faço de vítima e quero culpar a todos e a Vós pelas minhas fraquezas e pecados e decisões que brotam delas. Renuncio a toda autojustificação que quer a todo custo manter a própria imagem. Renuncio a culpar quem quer que seja pelas minhas decisões pecaminosas. Renuncio a manipular ou instrumentalizar pessoas, mesmo que eu tenha sofrer muito com minha própria solidão. Renuncio a toda malícia, toda habilidade para praticar o mal, para encobrir o mal feito, a todo orgulho em pecar e fazer os outros pecarem. Renuncio a toda autocomiseração culposa, a toda reivindicação e murmuração que só chamam atenção sobre feridas criadas e aparentes para encobrir o mal em mim. Por isso, Senhor, como uma ovelha machucada apresento a vós minhas feridas, cura-as e quero sair da vida de pecado na qual vivo. Apresento minhas decisões e peço que pelo teu Santo Espírito mostre a verdadeira intenção que está por trás de cada decisão que tomo, das quais brotam olhares, palavras e atos. Que haja um reta intenção nas decisões que tomo, para que no dia do Santo Juízo Final não haja em mim qualquer tipo de medo de me apresentar diante de vós e de meus irmãos. Amém”.

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