TRANSPARÊNCIA
COMO VIRTUDE
Padre Gilberto Maria Defina, sjs, fundador de nós,
salvistas, insistia que para haver vida comunitária a virtude principal seria a
transparência. E somente pode haver Louvor de Deus num coração verdadeiro e transparente. Na Sagrada Escritura não existe um termo equivalente, mas podemos
deduzir de algumas passagens de termos como sinceridade, integridade ou
veracidade.
33Ouvistes também que foi dito aos
antigos: Não perjurarás, mas
cumprirás
os teus juramentos para com o Senhor. 34Eu, porém, vos digo:
não jureis em hipótese nenhuma;
nem
pelo Céu, porque é o trono de Deus, 35nem pela Terra, porque
é o escabelo dos seus pés, nem por
Jerusalém,
porque
é a Cidade do Grande Rei, 36nem jures pela tua cabeça, porque tu não
tens o poder de
tornar
um só cabelo branco ou preto. 37Seja o vosso 'sim', sim, e o vosso 'não', não.
O que passa disso vem
Em Mt 5,33-37, Jesus ao comentar sobre o juramento diz que
não se deve jurar, o que se deduz a partir de 2 Cor 1,23 e Gl 1,20, que São
Paulo toma a Deus por testemunha de sua vida, como um juramento, que não se
deve jurar por qualquer motivo ou levianamente. O importante é o versículo 37,
no qual diz que o nosso “sim” seja sim, e o nosso “não” seja não, portanto, pode
acontecer que um “sim” não tenha lastro ou base no interior do ser humano, mas
seja algo falso. A pessoa não está sendo transparente, mas sim um
relacionamento fingido, no qual suas intenções não concordam com sua palavra ou
atitudes, pois podemos mentir com nossas atitudes também.
O contrário de ser transparente é
ser hipócrita, falso, de modo que o modo como vivemos ou nos portamos não
concorda com a decisão que tomamos no coração, simulamos para agradar alguém e
não a Deus e sua verdade. Por isso, nos diz o profeta Isaías: “O Senhor disse:
Visto que este povo se aproxima de mim e com a sua boca e com os seus lábios me
honra, mas o seu coração está longe de mim, e
o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, que maquinalmente
aprendeu” (Is 29,13). Podemos nos portar como adoradores, ter atitudes de piedade
fingida, ter nos lábios louvores maravilhosos, porém no coração tomar decisões
totalmente distantes de Deus. Outra característica que nos afastam da
transparência é a dubiedade, como nos diz a Carta de Tiago (Cf. Tg 4,8); ter
uma alma dupla, dipsychos, coração rachado, de modo agimos por conveniência e
não na verdade. É o que aconteceu com São Pedro e São Paulo, como nos relata a
carta aos Gálatas, São Pedro permanecia com os cristãos gentios, porém quando chegava
os que vinham da parte de Tiago, ele rejeitava os cristãos advindos da
Gentilidade, São Paulo admoesta São Pedro sobre a sua não transparência ou
dubiedade, assim nos conta São Paulo: “Mas quando vi que não andavam retamente
segundo a verdade do evangelho, eu disse a Pedro diante de todos: se tu, sendo
judeu, vives à maneira dos gentios e não dos judeus, por que forças os gentios
a viverem como judeus?” (Gl 2,14)
Exemplo de transparência também, é Natanael,
como nos conta o Evangelho de João:
45Filipe encontrou Natanael e lhe
disse: "Encontramos aquele de quem escreveram Moisés, na Lei, e os
profetas: Jesus, filho de José, de Nazaré". 46Perguntou-lhe Natanael:
"De Nazaré pode sair algo de bom?" Filipe lhe disse: "Vem e
vê". 47Jesus viu Natanael vindo até ele e disse a seu respeito: "Eis
um verdadeiro israelita, em quem não há fraude". 48Natanael lhe disse:
"De onde me conheces?" Respondeu-lhe Jesus: "Antes que Filipe te
chamasse, eu te vi quando estavas sob a figueira".
Jesus elogia Natanael, porque ele foi autêntico, foi
veraz, transparente, ele disse o que realmente ele pensava de Nazaré, que
diante da Judéia era considerada uma realidade periférica, povo da terra. Outro
exemplo é Jó. Jó em seu diálogo com Deus é franco e honesto, por isso Deus recrimina
os amigos de Jó que não agiram na caridade e na verdade, não é a toa que no
início do livro Jó é chamado de íntegro, isto é, um homem inteiro, e não dúbio,
como os sacrifícios pediam animais sem defeito o ser humano deve ser inteiro no
seu agir e não dúbio.
Uma
distinção necessária:
Nem
falso
|
Nem
violento
|
Salmo
11 (12)
–2 Senhor,
salvai-nos! Já não há um
homem bom! *
Não há mais fidelidade em meio aos homens! –3 Cada um só diz mentiras a seu próximo, * com língua falsa e coração enganador.
–4 Senhor,
calai todas as bocas mentirosas *
e a língua dos que falam com soberba, –5 dos que dizem: “Nossa língua é nossa força! * Nossos lábios são por nós! – Quem nos domina?”
=7 As
palavras do Senhor são verdadeiras, †
como a prata totalmente depurada, * sete vezes depurada pelo fogo.
Mt 22
– Dai a césar
15Então, retirando-se os fariseus,
consultaram entre si como o surpreenderiam em alguma palavra.16E enviaram-lhe
discípulos, juntamente com os herodianos, para dizer-lhe: Mestre, sabemos que
és verdadeiro e que ensinas o caminho de Deus, de acordo com a verdade, sem
te importares com quem quer que seja, porque não olhas a aparência dos
homens.17Dize-nos,
pois: que te parece? É lícito pagar tributo a César ou não?
|
Mt
5,21
21Ouvistes que foi
dito aos antigos: Não matarás; e: Quem matar estará sujeito a julgamento.22Eu, porém, vos digo que
todo aquele que [sem motivo] se irar contra seu irmão estará sujeito a
julgamento; e quem proferir um insulto a seu irmão estará sujeito a
julgamento do tribunal; e quem lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao inferno de
fogo.
|
Ser transparente
é não ser falso, como nos diz o salmo 12 acima, ter um coração enganador, que
apesar de ter palavras bonitas a intenção é pérfida. O exemplo do Evangelho é
claro, os discípulos dos fariseus queriam colocar Jesus numa armadilha, se
Jesus falasse que era a favor de pagar o tributo ele seria chamado de
colaborador do Império e se dissesse não, seria preso. Mas o que fica mais
claro é o elogio dos hipócritas, dizendo que Jesus era verdadeiro e ensinava
sempre a verdade, são palavras verdadeiras, porém a intenção é podre, isso é um
caso clássico de não transparência. Ser transparente então, é falar a verdade “doa
a quem doer”? Cuidado. Em Mt 5,21 fica claro, o chamar o irmão de tolo, pode
ser algo mal, como assim? Como no judaísmo se dizia, não podemos tirar o sangue
o irmão em público, quer dizer, humilhá-lo até ele perder a cor. Por isso, devemos
ter o discernimento na transparência para não humilhar as pessoas, como adverte
São Paulo em Rm 14, não é porque temos ciência que vamos diminuir as pessoas.
Como
atingir a transparência?
Hb 4,12 - Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e
mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de
dividir alma e espírito juntas e medulas, e é apta para discernir os
pensamentos e propósitos do coração.
A
Palavra de Deus, como espada de dois gumes, vai até o centro (cerne) da nossa
decisão e vai mostrar se realmente está de acordo com o amor e a verdade de
Deus, a Palavra vai formar a nossa forma de decidir. Ouro ponto também, é saber
que estamos sempre na presença de Deus, e assim, não teremos um coração que vai
criar jardins secretos, fingidos, mas saber que no mais profundo Deus nos vê,
por isso o Salmo 139 é um remédio poderoso para sermos transparentes.
Salmo 139
Iahweh, tu me sondas e conheces:
2conheces meu sentar e meu
levantar, de longe penetras o meu
pensamento; 3examinas meu andar e meu deitar, meus caminhos todos são
familiares a ti. 4A palavra ainda
não me chegou à língua, e tu, Iahweh, já a conheces inteira. 5Tu me
envolves por trás e pela frente, e sobre mim colocas a
tua mão.23Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração!
Prova-me, e conhece minhas
preocupações!24Vê se não ando por um caminho fatal e conduze-me pelo
caminho eterno.
Como também a Carta aos Hebreus nos diz que nada está
oculto aos olhos de Deus.
Hb 4,13
13E não há criatura oculta à sua
presença. Tudo está nu e descoberto aos olhos daquele a quem devemos prestar
contas.
Uma última palavra, em nome da transparência podemos
também ficar nos expondo sem necessidade, nosso foro íntimo precisa ser
respeitado, e deve ser revelado somente a quem de Direito, como por exemplo,
nosso confessor.
Peçamos a verdadeira transparência, no equilíbrio da
Palavra, para que possamos amar sem fingimento (2 Cor 6,6).
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