“Sabe,
porém, isto nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis, pois os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos,
arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes...”
(2 Tm 3, 1-2)
Filautos
(φιλαυτος)
São Paulo ao escrever a Timóteo, na segunda carta, diz
que nos últimos dias os homens terão vários vícios e maldades, e o primeiro, o
frontispício dessa séria é ser egoísta, em grego filautos, amar (fileo) a si
mesmo (autós). Esse egoísmo, amor exagerado a si mesmo, é uma marca da
sociedade atual e os cristãos são marcados por essa mesma característica,
muitas vezes fazendo do filautos base do seu próprio caráter.
Vocacionados somos ao seguimento de Jesus. Por isso, somos
chamados sim, a esvaziar-nos a nós mesmos para ir ao encontro da necessidade do
outro tendo os mesmo sentimentos de Jesus que obviamente o egoísmo não fazia
parte desses sentimentos (cf. Fp 2). Ao seguir Jesus somos chamados a renegar a
nós mesmos e carregar a cruz no seguimento do mesmo (cf Mc 8, 34). Esse
esvaziamento e sofrimento unidos a Cristo é salvação, não há outro caminho de
salvação para o cristão senão esse.
Porém, o ser humano idolatra o próprio umbigo, como São
Paulo criticava os cristãos advindos do judaísmo que se orgulhavam da
circuncisão e do cumprimento da lei, e tinham por deus o próprio ventre (cf. Fp
3, 19). E muitos querem ter um Cristianismo vivido nessa perspectiva e querem
transformar o filautos em regra de vida de comunidade cristã.
Por exemplo o sonho (ou pesadelo!) seria assim:
1. Uma comunidade deve ser construída na visão de alguns
em torno dos próprios interesses, de tal modo que minha visão de vida e futuro
profissional deve ser assegurada pela comunidade. Por isso, vou procurando e
conduzindo minhas decisões em torno desse ideal de vida, do filautos, e
trabalharei para que as decisões comunitárias também convirjam para esse meu “santo”
filautos.
2. Deus, os anjos e santos, o clero e os leigos, estão a
meu serviço. Minha oração é sempre na primeira pessoa e vou utilizando-os de
acordo com minha necessidade criada e insuflada, necessidade falsa que eu crio
e a denomino como necessidade, mas nada mais é do que o sustento de uma criança
mimada que quer evidência social a qualquer custo. Como uma criança, gritamos “esse
brinquedo é meu!” e queremos transformar as pessoas em brinquedos para nossas
vidas.
3. A missão cristã não passa de uma grande Torre de Babel,
e em nome de um projeto comum que dizemos ser o Reino de Deus, porém é
construído na injustiça, e que tem como único objetivo: “Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até
aos céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por
toda a terra” (Gn 11, 4). O objetivo é maravilhoso uma torre que chegue até o
céu, chegar mais perto de Deus! Porém a intenção é clara, que o nosso nome se
evidencie, que o nosso nome seja invocado como benfeitores da humanidade, que
sejamos como deuses! É o amor exagerado a si mesmos (filautos) chegando ao seu
cume. Como muitas bandas ou cantores cristãos que se colocam como
evangilizadores porém querem mesmo a evidência plena de uma vaidade eterna e a
remuneração financeira e afetiva correspondente (cf. Vergonha para a música
católica - https://www.youtube.com/watch?v=8GyGJktQj1A
– E o pronunciamento de Dom Aviz - http://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2015/08/cardeal-de-confianca-do-papa-critica-postura-de-padres-cantores-no-brasil.html).
4.
A rainha é sempre a hipocrisia pois tudo é feito sob a aparência do bem, como a
grande crítica de Jesus aos hipócritas, podem jejuar, orar ou dar esmolar,
enquanto o bem for feito em torno do aparecer, de uma vaidade maldita, do
próprio umbigo, será sempre uma obra má, a intenção corrompe o ato, como diz a
Moral Católica (cf. Mt 6).
Por
isso, o brado sempre deve ser que a glória e o Louvor de Deus deve prevalecer e
assim nos libertar do filautos e o resto deve ser considerado como lixo ou
perda (cf. Fp 3, 7 – 8). Um antídoto para isso é rezar sempre:
“non nobis Domine non nobis sed nomini tuo da gloriam”
Salmo 113, 9 (115, 1).