“Louvor
de Deus: Esse Carisma é atual?”
“Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu nome a glória, por amor da tua
misericórdia e da tua fidelidade” (Sl 115, 1).
O carisma do “Louvor de Deus” como todo Carisma, brota do
Verbo Encarnado, de Jesus Cristo, como a “pobreza” é de todo cristão, mas é
evidenciada como princípio da Espiritualidade Franciscana, assim também o
Louvor de Deus brota de Nosso Senhor, é de toda a Igreja, mas é assumido de
forma especial como princípio da Espiritualidade Salvista.
O que se coloca muitas vezes é que o Louvor de Deus é
tudo, se o carisma é tudo então não é nada, porque não tem a especificidade de
nos levar a Deus, porque somos humanos e precisamos de canais para chegarmos
até Deus.
Além de tudo o que já foi escrito, o centro do carisma é,
com o perdão da palavra, o mecanismo da graça. O salvista deve ser o especialista
em estudar, proclamar e viver o processo da graça, utilizando-se dos carismas,
da celebração com esplendor da Liturgia, das devoções, do acolhimento, de tudo
o mais que o Espírito Santo inspira para propiciar o encontro com Deus. Como
traz o Catecismo da Igreja Católica:
2003. A graça é, antes de
tudo e principalmente, o dom do Espírito que nos justifica e nos santifica. Mas
também compreende os dons que o Espírito nos dá, para nos associar à sua obra,
para nos tornar capazes de colaborar na salvação dos outros e no crescimento do
corpo Místico de Cristo, que é a Igreja. São as graças sacramentais, dons próprios dos diferentes
sacramentos. São, além disso, as graças
especiais, também chamadas «carismas», segundo o termo grego empregado
por São Paulo e que significa favor, dom gratuito, benefício (59). Qualquer que
seja o seu caráter, por vezes extraordinário, como o dom dos milagres ou das
línguas, os carismas estão ordenados para a graça santificante e têm por
finalidade o bem comum da Igreja. Estão ao serviço da caridade que edifica a
Igreja (60).
Mas porque Deus suscitaria hoje esse Carisma? Já que
a graça de Deus sempre foi e sempre será vivida pela humanidade, para que um
Carisma que enfatize o processo da graça, principalmente no seu relacionamento
com a liberdade humana?
Hoje, e é um processo
que não tem volta, vivemos numa sociedade globalizada, na qual o acesso à
informação é pleno e os meios para que o ser humano possa viver são
infinitamente superiores do que a um século atrás. Já no século XIX, como
processo da Revolução Industrial, Iluminismo e Positivismo, o ser humano se
achava um demiurgo, um ser que tinha em suas mãos o poder de dar a vida, como é
bem traçado no romance “Frankstein” de Mary Shelley. O ser humano se sente
deus. Um super homem como também foi descrito por Friedrich Nietzsche.
Tudo isso trouxe como conseqüência
duas guerras mundiais e um imperialismo sanguinário, que caracterizou o século
XX. Depois desse banho de totalitarismo, o ser humano que surgiu no pós guerra é
um ser humano, egocêntrico, relativista que não quer mais saber de verdades
absolutas, mas que cada um tem sua própria verdade, portanto relativiza
valores, gêneros, leis, ordem, amor etc. Um ser humano egocêntrico e egoísta,
que valoriza a imagem, até a mais profunda auto-idolatria. No dizer de Bauman,
uma modernidade líquida onde tudo é volátil, como a internet, principalmente o
Facebook, ostentam, tudo é aparência e cada um vale na medida em que é desejado
por outras pessoas.
A morte é tratada de
modo indiferente, vida eterna é apenas o “andar de cima”, numa perspectiva
relativista, o que eu penso é o que vai acontecer após a morte, não existe mais
verdades como “vida eterna, juízo, inferno, purgatório etc”. E nada disso deve
ser tratado ou pensado.
Por tudo isso, diante de
um ser humano que como a Besta, no livro do Apocalipse, se proclama “quem é
como a Besta?”, cada ser humano quer dizer: “Quem é semelhante a mim? Quem é
como eu?” Numa auto-afirmação infantil de si mesmo.
O carisma do Louvor de
Deus, quer trazer na palavra e na prática essa necessidade da graça de Deus,
inclusive dentro da Santa Igreja, onde muitas vezes se despreza a graça como
valor, mas num neo-pelagianismo, ela é vista somente como um acréscimo àquilo
que o ser humano é.
Alguns traços do carisma
que podem ajudar na evangelização de um mundo orgulhoso e egoísta:
Característica
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Diakonia do
Carisma Salvista
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Graça
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Proclamar hoje
que o ser humano é dependente de Deus e sua vida somente tem sentido se louva
ao Senhor. “Porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 15, 5b)
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Carismas
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Ver a atuação
dos carismas como auxiliares no processo da graça santificante, e combater
toda arrogância de achar que o ser humano pode sozinho salvar-se. Carismas
como cura, milagres, assistência aos doentes, palavras de ciência e
sabedoria, discernimento, e muitos outros que sempre estão a serviço da
evangelização e não espetáculo para ninguém.
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Dons
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O ser humano
quer sempre aparecer para ser erroneamente amado. O que faz o ser humano
feliz é servir, e os dons naturais que cada um recebe do Senhor é para
servir. O salvista deve ajudar a si próprio e cada ser humano a descobrir os
próprios dons para servir, pois eles são graça de Deus atuando em nós.
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Esplendor
litúrgico
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A Liturgia é
celebração do Mistério Pascal. O salvista deve buscar sempre otimizar a
Liturgia, buscar sempre celebrar melhor, no cumprimento das rubricas e na
comunhão com a Igreja, para ajudar o ser humano a mergulhar na graça de Deus.
O salvista, como São João Batista, deve ansiar por ser diminuído por Deus
para que somente Deus apareça (cf. Jo 3, 30),
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Transparência
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O salvista
deve ser transparente evitando e trabalhando contra todo tipo de hipocrisia.
O mundo nos faz ter máscaras, mas o salvista deve ser autêntico, e viver a
própria verdade, como a certeza do salmo 138, Deus nos vê sempre e não
importa onde. Esse processo deve ser vivido com relação ao próximo.
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Todo e
qualquer serviço
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Muitas
pessoas, quando nosso Pai Fundador, Pe Gilberto, dizia que o salvista pode
atuar em qualquer tipo de trabalho, erroneamente diziam que “então tudo é Louvor de Deus”. O que o
Fundador dizia é que o carisma, como proclamação da vida e do processo da
graça, pode ser vivido em qualquer estado. Então, se a pessoa é um médico,
ele vivendo e proclamando o processo da graça de Deus, que seus atos louvem a
Deus, e ele está consciente disso, ele é um salvista.
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Sacerdote
ministerial salvista
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O padre
salvista vive o carisma na medida em que ele:
- potencializa
a Liturgia através do Esplendor Litúrgico;
- utiliza-se
de dons e carismas para levar as pessoas ao encontro com Deus;
- não se
auto-idolatra e nem quer idolatrar ninguém, mas aponta sempre para Deus;
- vive a transparência
na perspectiva da vida eterna;
- Obediência
aos superiores, em primeiro lugar o Papa, isto é, sempre buscar ouvir a voz
de Deus naqueles que estão à frente;
- Comunhão com
a Igreja, “sentire cum Ecclesia”.
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Devoções
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O nosso Pai
Fundador amava as devoções e catolicamente compreendidas elas nos levam a
Deus, pois dispõe a liberdade humana a abrir-se para Deus. (Cf. Congregação para o Culto Divino
e a Disciplina dos Sacramentos. “Diretório sobre piedade popular e
Liturgia”). Também a dimensão da vivência da comunhão dos santos, tais como
novenas, tríduos, consagração a Nossa Senhora etc.
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Consagração
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Se o Louvor de
Deus, é oferecer nossos corpos como culto agradável a Deus (cf. Rm 12, 1),
então tudo que ajuda a consciência de consagrados deve ser valorizado e
conservado, como insígnias, hábito, portar-se na vida de modo cristão,
urbanidade, cordialidade, mas sem hipocrisia.
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Sacramentais
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Na linha do
esplendor litúrgico, o salvista valoriza os sacramentais como meios
privilegiados para levar as pessoas aos sacramentos e dispô-las a eles, tais
como bênçãos de lugares, pessoas e alimentos, exorcismos, etc. Porém, sem
qualquer resquício de mágica.
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Muitas outras dimensões poderiam ser tratadas, porém
muito ainda deve ser aprofundado sobre o Carisma, pois é uma Palavra de Deus
para nós hoje. Que Deus nos dê a graça desse aprofundamento, no estudo e na
vida, para que cada vocação salvista seja fortalecida na graça de Deus.