sábado, 11 de janeiro de 2014

“Louvor de Deus: Esse Carisma é atual?”

“Louvor de Deus: Esse Carisma é atual?”

“Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu nome a glória, por amor da tua misericórdia e da tua fidelidade” (Sl 115, 1).


            O carisma do “Louvor de Deus” como todo Carisma, brota do Verbo Encarnado, de Jesus Cristo, como a “pobreza” é de todo cristão, mas é evidenciada como princípio da Espiritualidade Franciscana, assim também o Louvor de Deus brota de Nosso Senhor, é de toda a Igreja, mas é assumido de forma especial como princípio da Espiritualidade Salvista.
            O que se coloca muitas vezes é que o Louvor de Deus é tudo, se o carisma é tudo então não é nada, porque não tem a especificidade de nos levar a Deus, porque somos humanos e precisamos de canais para chegarmos até Deus.
            Além de tudo o que já foi escrito, o centro do carisma é, com o perdão da palavra, o mecanismo da graça. O salvista deve ser o especialista em estudar, proclamar e viver o processo da graça, utilizando-se dos carismas, da celebração com esplendor da Liturgia, das devoções, do acolhimento, de tudo o mais que o Espírito Santo inspira para propiciar o encontro com Deus. Como traz o Catecismo da Igreja Católica:
2003. A graça é, antes de tudo e principalmente, o dom do Espírito que nos justifica e nos santifica. Mas também compreende os dons que o Espírito nos dá, para nos associar à sua obra, para nos tornar capazes de colaborar na salvação dos outros e no crescimento do corpo Místico de Cristo, que é a Igreja. São as graças sacramentais, dons próprios dos diferentes sacramentos. São, além disso, as graças especiais, também chamadas «carismas», segundo o termo grego empregado por São Paulo e que significa favor, dom gratuito, benefício (59). Qualquer que seja o seu caráter, por vezes extraordinário, como o dom dos milagres ou das línguas, os carismas estão ordenados para a graça santificante e têm por finalidade o bem comum da Igreja. Estão ao serviço da caridade que edifica a Igreja (60).

            Mas porque Deus suscitaria hoje esse Carisma? Já que a graça de Deus sempre foi e sempre será vivida pela humanidade, para que um Carisma que enfatize o processo da graça, principalmente no seu relacionamento com a liberdade humana?
            Hoje, e é um processo que não tem volta, vivemos numa sociedade globalizada, na qual o acesso à informação é pleno e os meios para que o ser humano possa viver são infinitamente superiores do que a um século atrás. Já no século XIX, como processo da Revolução Industrial, Iluminismo e Positivismo, o ser humano se achava um demiurgo, um ser que tinha em suas mãos o poder de dar a vida, como é bem traçado no romance “Frankstein” de Mary Shelley. O ser humano se sente deus. Um super homem como também foi descrito por Friedrich Nietzsche.
            Tudo isso trouxe como conseqüência duas guerras mundiais e um imperialismo sanguinário, que caracterizou o século XX. Depois desse banho de totalitarismo, o ser humano que surgiu no pós guerra é um ser humano, egocêntrico, relativista que não quer mais saber de verdades absolutas, mas que cada um tem sua própria verdade, portanto relativiza valores, gêneros, leis, ordem, amor etc. Um ser humano egocêntrico e egoísta, que valoriza a imagem, até a mais profunda auto-idolatria. No dizer de Bauman, uma modernidade líquida onde tudo é volátil, como a internet, principalmente o Facebook, ostentam, tudo é aparência e cada um vale na medida em que é desejado por outras pessoas.
            A morte é tratada de modo indiferente, vida eterna é apenas o “andar de cima”, numa perspectiva relativista, o que eu penso é o que vai acontecer após a morte, não existe mais verdades como “vida eterna, juízo, inferno, purgatório etc”. E nada disso deve ser tratado ou pensado.
            Por tudo isso, diante de um ser humano que como a Besta, no livro do Apocalipse, se proclama “quem é como a Besta?”, cada ser humano quer dizer: “Quem é semelhante a mim? Quem é como eu?” Numa auto-afirmação infantil de si mesmo.
            O carisma do Louvor de Deus, quer trazer na palavra e na prática essa necessidade da graça de Deus, inclusive dentro da Santa Igreja, onde muitas vezes se despreza a graça como valor, mas num neo-pelagianismo, ela é vista somente como um acréscimo àquilo que o ser humano é.
            Alguns traços do carisma que podem ajudar na evangelização de um mundo orgulhoso e egoísta:

Característica
Diakonia do Carisma Salvista
Graça
Proclamar hoje que o ser humano é dependente de Deus e sua vida somente tem sentido se louva ao Senhor. “Porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 15, 5b)
Carismas
Ver a atuação dos carismas como auxiliares no processo da graça santificante, e combater toda arrogância de achar que o ser humano pode sozinho salvar-se. Carismas como cura, milagres, assistência aos doentes, palavras de ciência e sabedoria, discernimento, e muitos outros que sempre estão a serviço da evangelização e não espetáculo para ninguém.
Dons
O ser humano quer sempre aparecer para ser erroneamente amado. O que faz o ser humano feliz é servir, e os dons naturais que cada um recebe do Senhor é para servir. O salvista deve ajudar a si próprio e cada ser humano a descobrir os próprios dons para servir, pois eles são graça de Deus atuando em nós.
Esplendor litúrgico
A Liturgia é celebração do Mistério Pascal. O salvista deve buscar sempre otimizar a Liturgia, buscar sempre celebrar melhor, no cumprimento das rubricas e na comunhão com a Igreja, para ajudar o ser humano a mergulhar na graça de Deus. O salvista, como São João Batista, deve ansiar por ser diminuído por Deus para que somente Deus apareça (cf. Jo 3, 30),
Transparência
O salvista deve ser transparente evitando e trabalhando contra todo tipo de hipocrisia. O mundo nos faz ter máscaras, mas o salvista deve ser autêntico, e viver a própria verdade, como a certeza do salmo 138, Deus nos vê sempre e não importa onde. Esse processo deve ser vivido com relação ao próximo.
Todo e qualquer serviço
Muitas pessoas, quando nosso Pai Fundador, Pe Gilberto, dizia que o salvista pode atuar em qualquer tipo de trabalho, erroneamente diziam que  “então tudo é Louvor de Deus”. O que o Fundador dizia é que o carisma, como proclamação da vida e do processo da graça, pode ser vivido em qualquer estado. Então, se a pessoa é um médico, ele vivendo e proclamando o processo da graça de Deus, que seus atos louvem a Deus, e ele está consciente disso, ele é um salvista.
Sacerdote ministerial salvista
O padre salvista vive o carisma na medida em que ele:
- potencializa a Liturgia através do Esplendor Litúrgico;
- utiliza-se de dons e carismas para levar as pessoas ao encontro com Deus;
- não se auto-idolatra e nem quer idolatrar ninguém, mas aponta sempre para Deus;
- vive a transparência na perspectiva da vida eterna;
- Obediência aos superiores, em primeiro lugar o Papa, isto é, sempre buscar ouvir a voz de Deus naqueles que estão à frente;
- Comunhão com a Igreja, “sentire cum Ecclesia”.
Devoções
O nosso Pai Fundador amava as devoções e catolicamente compreendidas elas nos levam a Deus, pois dispõe a liberdade humana a abrir-se para Deus. (Cf. Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. “Diretório sobre piedade popular e Liturgia”). Também a dimensão da vivência da comunhão dos santos, tais como novenas, tríduos, consagração a Nossa Senhora etc.
Consagração
Se o Louvor de Deus, é oferecer nossos corpos como culto agradável a Deus (cf. Rm 12, 1), então tudo que ajuda a consciência de consagrados deve ser valorizado e conservado, como insígnias, hábito, portar-se na vida de modo cristão, urbanidade, cordialidade, mas sem hipocrisia.
Sacramentais
Na linha do esplendor litúrgico, o salvista valoriza os sacramentais como meios privilegiados para levar as pessoas aos sacramentos e dispô-las a eles, tais como bênçãos de lugares, pessoas e alimentos, exorcismos, etc. Porém, sem qualquer resquício de mágica.



            Muitas outras dimensões poderiam ser tratadas, porém muito ainda deve ser aprofundado sobre o Carisma, pois é uma Palavra de Deus para nós hoje. Que Deus nos dê a graça desse aprofundamento, no estudo e na vida, para que cada vocação salvista seja fortalecida na graça de Deus.   

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