“Porém
Samuel disse: Tem, porventura, o Senhor tanto prazer em holocaustos e
sacrifícios quanto em que se obedeça à sua palavra? Eis que o obedecer é melhor
do que o sacrificar, e o atender, melhor do que a gordura de carneiros” (1 Sm
15, 22).
A obediência como Louvor de Deus
O
ser humano busca estar unido a Deus, pois vê em Deus a fonte de sua própria
vida. Por isso, os sacrifícios foram usados em todos os povos como um meio para
se unir a Deus para ter vida e vida em abundância (cf. Jo 10, 10).
Porém,
diante da desobediência de Saul, aquele que foi escolhido para estar a frente
do povo, o profeta Samuel proclama que mais do que holocaustos e sacrifícios, o
que Deus quer é a obediência.
Na
Bíblia Hebraica, a palavra para obediência é o verbo Shamá, que é literalmente
ouvir. Obedecer é um ouvir ativo, isto é ouvir a Deus com a intenção plena de
cumprir na própria vida a sua vontade. Não um ouvir qualquer, que a pessoa
finge ouvir e quer manipular a Deus pelos sacrifícios. Como diz o profeta
Isaías: “O Senhor disse: Visto que este povo se aproxima de mim e com a sua boca
e com os seus lábios me honra, mas o seu coração está longe de mim, e o seu
temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, que maquinalmente
aprendeu” (Is 29, 13). Portanto, não adianta um louvor a Deus, cânticos
maravilhosos e harmoniosos, que brotam de coração que não querem amar nem a Deus
e nem ao próximo.
A obediência tornar-se um verdadeiro
“Louvor de Deus” no seguinte itinerário:
1. Ouço a
Palavra de Deus no Espírito Santo com a disposição plena de praticar essa
palavra;
2. Aceito a
mediação que o Senhor utiliza para fazer essa Palavra chegar aos meus ouvidos,
isto é, os Superiores e autoridades da minha vida, que apesar das próprias
fragilidades esses homens e mulheres são instrumentos da Palavra de Deus;
3. Permito
que essa Palavra modifique minha maneira de decidir, unindo a minha própria
vontade à vontade de Deus;
4. Transformo
em ações as decisões que brotam desse ouvir a Palavra de Deus.
5. Essas
ações tornam-se então verdadeiramente um “Louvor de Deus”.
Duas dimensões doentias da
obediência e que não são louvor de Deus:
1. O eterno
adolescente rebelde, não aceita qualquer tipo de autoridade e rebela-se sempre
a qualquer tipo de exortação, permanecendo assim numa imaturidade plena, e por
isso suas ações brotam de uma falsa autonomia orgulhosa e portanto tais ações
não louvam a Deus, mas são expressões do orgulho humano;
2. A vaca de
presépio, isto é, pessoa que concorda com tudo que
os outros dizem, numa obediência infantil, confundindo a pessoa que ordena com o próprio Deus
numa atitude idolátrica. Obedece o superior mesmo que ele mande contra a
Palavra de Deus. Esse tipo de obediência infantilizante faz brotar ações que
não louvam a Deus mas é uma forma conveniente de viver e sobreviver. Com esse
tipo de obediência muitos oficiais nazistas justificaram que mataram e
assassinaram porque estavam obedecendo seus superiores.
Por isso, queremos pedir a Deus de
obedecer para o “Louvor de Deus” e não para nós mesmos, como Jesus o fez: “a si
mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz” (Fp 2, 8).